Seleção de dezembro de 2020

por Redação CONCERTO 01/12/2020

KORNGOLD
Trio com piano – Sexteto para cordas
Spectrum Concerts Berlin
Lançamento Naxos. Importado. R$ 79,50
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[Reprodução capa]
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Menino-prodígio, o compositor austríaco Erich von Korngold estreou seu primeiro balé com 11 anos. Aos 23, compôs a ópera Die tote Stadt, até hoje símbolo do gênero na transição do século XIX para o XX. E, nos anos 1930, após se mudar para os Estados Unidos, foi fundamental na criação de música para o cinema, influenciando gerações de autores de trilhas sonoras. Para ter uma ideia da imaginação musical e da sonoridade rica de suas obras, o novo disco do Spectrum Concerts Berlin, grupo criado em 1988, é um bom ponto de partida. O conjunto surgiu com o objetivo de estabelecer pontes entre a música alemã e a cultura americana, a partir da obra de autores que de alguma forma simbolizam esse diálogo. E, aqui, registra duas peças de câmara de Korngold: o Trio com piano, escrito quando o compositor tinha 12 anos, e o Sexteto para cordas, de cinco anos depois. São obras de juventude que, por isso mesmo, fascinam pela combinação de sonoridades que propõem, confirmando Korngold como uma das personalidades musicais mais interessantes da primeira metade do século XX.


BEETHOVEN: FOLK SONGS
Paula Sophie
– soprano 
Daniel Johannsen – tenor
Georg Klimbacher – barítono
Josef Herzer – violino
Bertin Christelbauer – violoncelo
Bernadette Bartos – piano
Lançamento Naxos. Importado. R$ 79,50
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No começo do século XIX, o músico George Thomson, nascido em Edimburgo, na Escócia, viajou frequentemente a Viena com um objetivo específico. Ele recolhia em seu país canções folclóricas e as levava à Áustria para encomendar a compositores arranjos para as peças, assim como para sugerir a criação de ciclos de canções baseados em poemas de Robert Burns e Sir Walter Scott, dois dos principais nomes da literatura de seu país. Fez isso com Haydn. E também com Beethoven, que, a partir do material original, criou canções sofisticadas em seu lirismo e na sonoridade advinda da combinação dos instrumentos. São peças pouco conhecidas, que neste ano de homenagens ao compositor reaparecem na leitura de um time inspirado de artistas, capazes de mostrar os caminhos propostos por Beethoven na união de texto e música. Diz a história que Thomson surpreendeu-se com as peças, pois tinha em mente arranjos mais simples. Tanto tempo depois, a surpresa é também nossa, ao conhecermos mais uma faceta da criação do compositor. 


CARL NIELSEN
Obra completa para violino solo e para violino e piano
Hasse Borup – violino
Andrew Staupe – piano
Lançamento Naxos. Importado. R$ 79,50
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O nome do compositor dinamarquês Carl Nielsen está ligado aos movimentos nacionalistas que, em toda a Europa, buscaram associar a herança musical tradicional com elementos do folclore e da cultura local. Mas é importante lembrar que, partindo do regional, esses autores alcançaram o universal. E isso com certeza é verdade no caso de Nielsen, autor de óperas, sinfonias e de música de câmara deslumbrante, como mostra o disco de Hasse Borup e Andrew Staupe, professores da Universidade de Utah, nos Estados Unidos. Eles se dedicam à obra para violino solo e para violino e piano e, ao fazer isso, acabam revelando a evolução de Nielsen como compositor. Há diversas peças surpreendentes, como as sonatas. A primeira mostra o autor bastante influenciado pela música de Mozart; já a segunda, na combinação entre violino e piano e no tom introspectivo que carrega, acena para uma linguagem mais moderna. É uma faixa que pode figurar entre as mais importantes para a formação, ainda mais em interpretação comovente como a oferecida por Borup e Staupe. 


PIONEERS
Obras para piano de compositoras
Hiroko Ishimoto – piano
Lançamento Grand Piano. Importado. R$ 132,50
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Nos últimos anos, a maneira como é contada a história da música tem passado por um processo de revisão. O objetivo é percorrer os séculos jogando luz a artistas que costumam ficar de fora do chamado “cânone”, em uma tentativa de pensar a atividade musical de maneira mais diversa e inclusiva. Nesse processo, a atenção ao trabalho de compositoras tornou-se urgente e fundamental, tanto pelo significado que carrega quanto pela qualidade de autoras e peças que são redescobertas. Bom exemplo é o disco lançado agora pela pianista japonesa Hiroko Ishimoto, concertista e professora convidada de escolas como a Juilliard de Nova York. Nele, são interpretadas obras de autoras que Ishimoto considera, com razão, pioneiras. É o caso de Anna Bon, que trabalhou na corte de Frederico, o Grande, de quem ela toca uma das Seis sonatas, ou então, já na passagem do século XIX para o século XX, da norte-americana Amy Beach (Hermit Thrush) e da brasileira Chiquinha Gonzaga, com uma leitura interessante de Água do vintém e Cananeia. Há, ainda, peças de Clara Schumann e Cécile Chaminade. Um panorama rico e de importância histórica.


AVE MARIA: MARIAN HYMNS
Vários artistas
Lançamento Brilliant Classics. Caixa com 10 CDs. Importado. R$ 397,10

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Maria, a mãe de Cristo, é um dos principais símbolos de devoção da fé cristã. Sua imagem foi pintada ou esculpida por centenas de artistas. E, no mundo da música, não foi diferente. Desde os cantos escritos na época do Papa Gregório II, há um milênio, diversos compositores criaram peças que cantam a história da mãe de Jesus e também o impacto que sua figura tem nas pessoas. Recuperar esse repertório é uma tarefa difícil. Mas bem-sucedida, como mostra essa nova caixa. As peças escolhidas não falam apenas de devoção. Na verdade, mostram a própria evolução da história da música, registrando momentos como o surgimento da polifonia, por exemplo; ou então a mudança na sensibilidade de autores e ouvintes, com peças barrocas, do classicismo ou do romantismo, onde encontramos versões célebres de Schubert, Gounod e Brahms. Nesse sentido, os cantos marianos oferecem um olhar rico sobre nossa própria relação com o fazer musical. Já seria suficiente. Mas a qualidade dos grupos envolvidos nas interpretações torna ainda mais atrativa a coletânea. São conjuntos como Oxford Camerata, Le Concert Spirituel e o Coro do King’s College de Cambridge, entre outros. Todos especializados no repertório que interpretam – fazendo da coletânea um documento especial, para quem crê em Maria ou apenas no poder da música.


DVD
TCHAIKOVSKY – SCHUBERT
Martha Argerich
– piano / Daniel Barenboim – regente
West-Eastern Divan Orchestra
Lançamento Unitel. Importado DVD 0 todas as regiões. 75 minutos. R$ 234,60

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Olhamos para o passado com reverência. O amante de música com certeza já se deparou com gravações antigas, com grandes lendas do piano, da regência, e se perguntou: como deve ter sido ouvi-los, acompanhar suas carreiras? É um exercício mágico. Mas vale lembrar que, ao mesmo tempo, temos a chance de testemunhar hoje o trabalho daqueles que, no futuro, serão lembrados como lendas. E a pianista Martha Argerich e o maestro Daniel Barenboim são duas dessas figuras. Em 2019, subiram juntos ao palco do Festival de Salzburgo para interpretar o Concerto nº 1 de Tchaikovsky e a Sinfonia inacabada de Schubert, com a West-Eastern Divan Orchestra. O concerto é uma das peças mais associadas a Argerich desde o início de sua carreira, quando a gravou em um registro histórico com o maestro Kirilli Kondrashin. E é impressionante ver como o tempo só tornou ainda mais profunda a relação com a obra, sem que a energia se perca. Da mesma forma, Barenboim mostra, regendo a sinfonia de Schubert, como nada é corriqueiro em sua atividade musical, ainda mais quando está à frente dos jovens músicos do Divan. Sorte nossa que o concerto foi gravado e agora lançado em DVD. Nossa e dos ouvintes do futuro, claro.


DIVERTIMENTI VIENNESI
Musica Elegentia
Mateo Cicchitti
– regente
Lançamento Brilliant Classics. Importado. R$ 99,70

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A música pode ser uma janela em direção a outras épocas. A sonoridade de uma peça, afinal, às vezes é capaz de nos transportar no tempo, evocando imagens e sensações não vividas. É uma das qualidades fascinantes do fazer musical. E basta ouvir o disco do grupo Musica Elegentia, criado em 2012 com o objetivo de atuar na interpretação da música antiga, para ter certeza disso. Sob o comando do maestro Mateo Cicchitti, criador e diretor musical do conjunto, os músicos retornam à década de 1760 em Viena para montar um repertório muito interessante. Três compositores que viviam na cidade à época foram escolhidos: Michael Haydn (irmão mais novo de Joseph Haydn), Karl Ditter von Dittersdorf e Johann Baptist Vanhall. Não por acaso, há alguns aspectos em comum entre as obras selecionadas dos três: são breves, escritas para entretenimento, não para ocasiões oficiais ou litúrgicas. É o caso dos Trios para cordas de Dittersdorf ou dos Divertimentos de Haydn e Vanhall – este último, exigindo enorme virtuosismo dos músicos em uma escrita às vezes vertiginosa. É a chance de entrar em contato com obras pouco conhecidas – e permitir que elas nos ofereçam uma janela em direção ao período barroco.


SARABANDA
Lívia Nestrovski
– voz
Arthur Nestrovski – violão
Lançamento Selo Circus. Nacional. R$ 40,50

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No disco Pós você e eu, Arthur e Lívia Nestrovski, pai e filha, gravaram juntos pela primeira vez. O álbum, de sensibilidade impressionante, trazia canções de Pixinguinha, Luiz Tatit, Ary Barroso, Arrigo Barnabé, Tom Jobim e Dolores Duran, além de peças de Schumann e Schubert com texto traduzido pelo violonista. A riqueza da combinação do violão de Arthur, que além de músico é diretor artístico da Fundação Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, com a voz de Lívia e a inteligência na construção do repertório pediam um novo trabalho. E este chega agora. Sarabanda, no entanto, vai além na proposta já presente no primeiro disco: foram gravadas aqui canções de Tom Jobim e Francis Hime, peças de Schubert e Schumann (em versões para o português), mas também letras inéditas para uma Sarabande de Bach e para dois estudos de Fernando Sor, violonista e compositor espanhol da passagem do século XVIII para o século XIX. E canções inéditas, com música e texto de Arthur ou em parceria dele com artistas como Zé Miguel Wisnik. Um passeio por gêneros, épocas, inspirações, guiado pela sensibilidade musical de dois artistas ímpares.  


A CANÇÃO LATINO-AMERICANA
Eládio Pérez-Gonzales – barítono
Berenice Menegale – piano
Lançamento independente. Nacional. R$ 40, à venda em tel. (31) 3281-6720

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O termo “histórico” costuma ser usado com frequência, mas nem sempre com justiça. Não é o caso deste disco. Dos intérpretes ao repertório, A canção latino--americana é um documento precioso. Sua história começa nos anos 1970, quando o barítono Eládio Perez-Gonzales e a pianista Berenice Menegale criam um duo durante festival em Ouro Preto – duo que, nos anos seguintes, participaria ativamente dos Encontros de Compositores e Intérpretes Latino-Americanos, realizados pela Fundação de Educação Artística em Belo Horizonte. Tornaram-se, assim, intérpretes por excelência desse repertório e, nos anos 1990, gravaram o disco a ele dedicado no Rio de Janeiro, com o produtor Frank Justo Acker, responsável por registrar grandes capítulos da memória da música brasileira. O CD ficou inédito e, agora, é lançado. É uma homenagem a Pérez-Gonzales, que morreu neste ano; a um duo marcante da vida musical brasileira; e à produção do continente, ainda pouco conhecida do público brasileiro. Histórico, sem dúvida.


ALBERTO NEPOMUCENO: CANÇÕES
Anna Maria Kieffer – mezzo soprano
Achille Picchi – piano
Lançamento Akron. Nacional. Valor a definir

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O compositor cearense Alberto Nepomuceno é figura-chave na história da música brasileira. Na passagem do século XIX para o XX, ele defendeu o canto em português enquanto formador da identidade cultural do país. Por causa disso, suas canções formam um repertório ao mesmo tempo histórico e de riquíssima invenção musical. E a elas a mezzo soprano Anna Maria Kieffer se dedicou ao longo da carreira, como pesquisadora e intérprete. Nos anos 1990, lançou uma coletânea preciosa ao lado do pianista Achille Picchi. E o disco agora é relançado, em uma edição remasterizada e ampliada com novos trabalhos do compositor. Estão presentes canções como Amo-te muito, com texto de João de Deus; Mater Dolorosa, a partir de poesia de Gonçalves Dias; Coração triste, sobre Machado de Assis; ou O sono, com texto de Osório Duque-Estrada. Com isso, o álbum evoca uma fascinante herança poética e musical. Haverá evento de lançamento on-line ao vivo dia 12 de dezembro, às11h, nos Encontros Clássicos da Revista CONCERTO. (Clique aqui para acessar).  


O CRAVO NO RIO DE JANEIRO DO SÉCULO XX
De Marcelo Fagerlande, Mayra Pereira e Maria Aída Barroso

Rio Books. 386 páginas. Valor a definir. Desconto de 10% para assinantes.

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O cravista Marcelo Fagerlande é um dos responsáveis, nas últimas décadas, pelo interesse renovado, na cena musical brasileira, no cravo e em seu repertório. Mas há alguns anos ele se colocou um desafio: entender a presença do instrumento no Rio de Janeiro desde o início do século XX. Partiu, então, a uma tarefa que, em entrevista a Luciana Medeiros, na página 10, chama de detetivesca. Ao lado de duas ex-orientandas, Mayra Pereira e Maria Aída Barroso, mergulhou em acervos brasileiros e internacionais. E agora mostra, em, o resultado do trabalho. Há descobertas extraordinárias. Leopoldo Miguez, por exemplo, comprou, em março de 1900, um cravo Pleyel, sugerindo o interesse em tê-lo na estrutura do Instituto Nacional de Música, do qual era diretor – Fagerlande acredita que o plano foi deixado de lado com sua morte, dois anos depois. Há também referências a diferentes artistas que estiveram no Rio com seus instrumentos. E assim por diante. O livro está repleto de imagens. Fagerlande assina o texto até o início de sua trajetória profissional, quando Mayra e Maria Aída assumem a escrita – é o momento em que o autor torna-se personagem, como ele explica. Em resumo, a obra acaba sendo um olhar não apenas para o cravo, mas para a história da música no Rio de Janeiro do século XX. Um documento precioso. Lançamento on-line dia 19, às 11h. (Clique aqui para acessar).


ENSAIO SOBRE MÚSICA BRASILEIRA
De Mário de Andrade

Organização, estabelecimento de texto e notas de Flávia Camargo ToniEdusp. 196 páginas. Edição em capa dura. R$ 56. Desconto de 10% para assinantes.

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Ao lançar, em 1928, Ensaio sobre música brasileira, Mário de Andrade criou uma obra fundamental para que se possam compreender os caminhos da música nacional no século XX. No livro, ele propunha aos compositores que escrevessem obras que incorporassem elementos da cultura do país. Suas recomendações tornaram-se centrais para a corrente nacionalista que foi uma das mais influentes em nossa criação musical. E o livro ganha agora uma edição preparada pela principal especialista na obra de Mário de Andrade associada à música, a professora e musicóloga Flávia Toni, do Instituto de Estudos Brasileiros. Às vésperas do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, o lançamento é, desde já, histórico. Primeiro, por possibilitar o contato de novas gerações com o texto. Mas não só. Toni fez uso de um exemplar com anotações do autor descoberto recentemente e recuperou o formato original da obra, com as partituras presentes. Além disso, inclui listas de livros e partituras utilizados por ele na pesquisa e um dossiê sobre a feitura do livro e resenhas da época do lançamento, como contou na entrevista a Camila Fresca, publicada na página 8.