Maestro fez discurso duro após concerto da Orquestra Sinfônica de Londres no Barbican Centre, em Londres, no último domingo
Jornais, televisão, rádio e mídias sociais do Reino Unido deram grande repercussão a um discurso que o maestro Simon Rattle, diretor musical da Orquestra Sinfônica de Londres, proferiu após o concerto do último domingo, dia 23 de abril, no Barbican Centre, em Londres. A manifestação de Rattle deve-se a um plano da BBC e do Arts Council England (Conselho das Artes da Inglaterra) de extinguir o coro BBC Singers e promover um corte e 20% nas orquestras da BBC. Após protestos em fins de março, a BBC temporariamente voltou atrás na decisão de cortes no coro BBC Singers, mas a ideia permanece no ar.
“Os últimos meses foram devastadores para o nosso setor. Depois dos cortes promovidos pelo Conselho das Artes em novembro, que afetaram a todos nós e deixaram alguns grupos extraordinários no limite da sobrevivência, fomos todos surpreendidos pelo vandalismo proposto pela BBC, do qual o fechamento do BBC Singers é apenas a ponta do iceberg”, falou Rattle. “Quando os dois maiores apoiadores da música clássica neste país [BBC e Arts Council England] cortam a carne de nossa cultura dessa maneira, isso significa uma orientação profundamente alarmante. Está claro que estamos enfrentando uma luta de longo prazo pela existência e não podemos simplesmente concordar silenciosamente com o desmantelamento ou desmembramento de tantas instituições importantes.”
O maestro afirmou que muitos dos problemas se dão por ignorância de autoridades e políticos e que, mais preocupante, “parece haver um orgulho teimoso na ignorância”. Rattle disse: “Qualquer pessoa com conhecimento de como uma orquestra realmente funciona saberá que você não pode reduzir o número de músicos em 20% – isso então não é mais uma orquestra e assim perde-se anos de construção de uma experiência em equipe. Isso não precisa ser explicado! Se você realmente quer que se faça ópera em mais partes do país, é ridículo cortar os recursos de companhias que fazem exatamente isso. Isso não precisa ser explicado! E, aliás, sem uma orquestra ou coro você não tem mais uma companhia de ópera. Essas não são coisas que podem ser remontadas mais tarde, ou simplesmente compradas no supermercado – ou pelo menos ainda não. Isso não precisa ser explicado!”.
Para encerrar, Simon Rattle afirmou: “Estamos em uma luta e precisamos garantir que a música clássica continue a fazer parte do coração pulsante do nosso país e da nossa cultura”.
Após o discurso, Simon Rattle chamou ao palco os BBC Singers para interpretar Figure Humaine, composta por Francis Poulenc, em 1943, na França ocupada pelos nazistas. A obra foi na época contrabandeada para a Inglaterra e lá estreada em 1945 justamente pelos BBC Singers...
O discurso pode ser assistido na íntegra no YouTube (clique aqui para acessar); ou lido no site do jornal The Guardian (em inglês).
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Comentários
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Lamentavelmente as…
Lamentavelmente as orquestras da música clásica recebem seus principais entradas de dinheiro por mediação de políticos em diferentes cargos, sem eles não tem dinheiro. Os políticos em geral não estão nem aí com a cultura,com a música, eles dão o dinheiro semprolhando cuantos votos vaoa ganhar com ação que eles fazem.