Notícias do mundo musical

por Redação CONCERTO 01/05/2018

José Antonio Abreu (1939-2018)

Morreu no dia 24 de março, aos 79 anos, o economista e maestro José Antonio Abreu. Foi ele que, em 1975, criou o Sistema Nacional de Orquestras e Coros Juvenis e Infantis da Venezuela, programa de inclusão social que se tornou paradigma no mundo. Hoje o El Sistema mantém 440 núcleos e mais de 1.500 módulos, com mais de 1.600 orquestras e 1.300 coros ativos, que atendem, ensinando música, cerca de um milhão de crianças e jovens. O El Sistema inspirou projetos semelhantes em todo mundo e impactou, por seu resultado social, a atividade clássica como um todo. 


Vida e obra de Paul Hindemith são temas de novo estudo

Após se dedicar à obra de Alfred Schnittke e à música no Leste Europeu durante a Guerra Fria, o médico e pesquisador Marco Aurélio Scarpinella Bueno aborda, em seu novo livro, a trajetória do compositor Paul Hindemith. A obra será lançada no dia 26 de maio, às 11 horas, com uma palestra com exemplos musicais em DVD na série “Encontros Clássicos”, da Revista CONCERTO, na Sala São Paulo. Paul Hindemith: música por inteiro, da Editora Tipografia Musical, trata tanto da biografia do autor como de sua atuação musical como compositor, violinista, violista, regente, teórico musical, professor e agitador cultural.


André Heller-Lopes dirige ópera na Polônia

Após dirigir uma nova produção do Fausto, de Gounod, no Festival Amazonas de Ópera, o diretor André Heller-Lopes segue para a Polônia, onde assina uma montagem de La finta giardiniera, de Mozart. Na obra, o conde Belfiore apunhala sua amante, a Marquesa Violante Onesti, e foge acreditando que a matou. Mas a marquesa não morreu e ela e seu criado Roberto disfarçam-se de jardineiros, assumindo as identidades de Sandrina e Nardo.


Irineu Franco Perpetuo lança livro sobre a música no Brasil

O jornalista e tradutor Irineu Franco Perpetuo lança este mês o livro “História concisa da música clássica brasileira” (Editora Alameda), que percorre cinco séculos de atividade musical no país [o livro estará disponível na Loja CLÁSSICOS].Leia a seguir, breve entrevista com Irineu Franco Perpetuo, que também é colaborador da Revista CONCERTO.

Irineu Franco Perpetuo [Divulgação]
Irineu Franco Perpetuo [Divulgação]

Como você decidiu a forma que o livro teria?
Eu me baseei em trabalhos pré-existentes, que foram glosados e rearranjados de acordo com meus critérios pessoais, sem pretensão científica. Li e lancei mão largamente das diversas histórias da música brasileira que existem, sem as quais meu trabalho não seria possível, e que são copiosamente citadas ao longo do texto. Porém, esses livros refletem a sua época, e o meu deveria tentar refletir a nossa. Boa parte de nossas histórias da música é filha do nacionalismo musical, a ele devem sua existência e razão de ser. Depois do nacionalismo, houve muita pesquisa específica sobre diversos campos de nosso fazer musical, mas escassearam os livros abrangentes e totalizantes. Meu recorte, obviamente, não é nacionalista nesse sentido; apresento o nacionalismo como uma corrente forte, que foi hegemônica por certo tempo, mas está longe de ser única. Não vejo toda a história que o antecedeu como meramente precursora do nacionalismo, assim como não encaro a que se seguiu como sua continuadora, e muito menos retrato as correntes que a ele se opuseram como “desvios” ou “perversidades”. Analogamente, sempre me incomodou o fato de algumas narrativas da nossa história musical parecerem ignorar o fato de, para o bem ou para o mal, termos sido colônia de Portugal por séculos, estando umbilicalmente ligados à tradição do além--mar. Assim, me esforcei por traçar um breve e sumário histórico da produção musical lusa, e suas relações com a música que se fazia do lado de cá do Atlântico. Dessa forma, minha divisão em capítulos acabou saindo um pouco distinta das outras obras do gênero. 

Você articula, de maneira muito clara, diferentes áreas, como história, sociologia, economia, e outros campos de atividade artística. Você acha que colocar a música clássica como parte de um contexto mais amplo pode ajudar na sua difusão?
Bem, eu gostaria que ajudasse. Incomodou-me sempre o fato de que, na cara e tradicional escola privada que frequentei, a literatura luso--brasileira tenha me sido ensinada com minúcia e profundidade, enquanto nossa produção musical era solenemente ignorada. Nada contra a literatura, obviamente, mas por que não encarar também a música como uma manifestação cultural digna de ser cultivada e transmitida? Por que ensinamos Machado de Assis e Guimarães Rosa, mas não Carlos Gomes e Villa-Lobos? Talvez isso seja uma herança do velho pensamento colonial, em que as letras eram ocupações “nobres”, de bacharéis, enquanto a música era um trabalho “braçal” e, portanto, inferior... Mas confesso que não adotei essa abordagem preocupado com uma difusão mais ampla da música clássica. É que, na verdade, eu não consigo entender a música de outra forma. Talvez isso se dê por eu não ser musicista, mas o fato é que, se eu encarasse a música clássica como um mundo à parte, sem qualquer relação com os outros fenômenos sociais, creio que sequer teria me aproximado dela.