Seleção de janeiro / fevereiro 2020

por Redação CONCERTO 01/01/2020

 

[Reprodução capa]
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1825
Echoes of Vienna on Historical Harp
Elisabeth Plank – harpa
Lançamento Gramola. Importado. R$ 85,50

O repertório do disco da harpista Elisabeth Plank, atualmente artista em residência do Konzerthaus de Viena, nos remete ao universo musical vienense do século XIX. Contudo, a história do disco começa, na verdade, em Paris, no ano que dá nome ao álbum, pois foi em 1825 que a firma Érard criou uma harpa cujas características emancipariam o instrumento, que passou a ser tratado por compositores de outra forma. E é justamente isso que ela pretende mostrar. Ela interpreta peças de Spohr, Beethoven e Ignaz Pleyel, escritas antes da invenção do novo instrumento – e, em seguida, obras de Parish Alvars, Lachner, Bochsa e Rossini, que já escreveram tendo em vista as novas possibilidades oferecidas pela Érard. Com isso, o disco assume várias facetas. É o retrato de um momento histórico. Ao mesmo tempo, uma experiência sonora riquíssima, com o ouvinte às voltas com sonoridades que se transformam a todo instante. E, por fim, o testemunho do talento de Plank, artista de 28 anos, no início de uma trajetória que já a leva a alguns dos principais palcos de concertos do mundo.


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BRUCKNER
Complete Piano Music
Francesco Pasqualotto – piano
Lançamento Brilliant Classics. Importado. R$ 58,40

As sinfonias de Bruckner, em sua monumentalidade, já foram chamadas de catedrais sonoras – e é no gênero orquestral que a fama do compositor reside, com uma personalidade musical que se mostra um dos mais marcantes e representativos símbolos das últimas décadas do século XIX. A música coral, verdade, também merece espaço na lista, assim como as peças escritas para órgão, seu instrumento. Seja como for, fato é que não é pela produção para piano que Bruckner ficou conhecido. Fato que, como este disco do pianista Francesco Pasqualotto demonstra, trata-se de uma realidade injusta. Pasqualotto é professor do Conservatório de Cagliari e dedicou-se a recuperar e estudar as peças para piano do compositor austríaco. São cerca de 25 obras, que ele registra neste disco. E ele se mostra um intérprete altamente envolvido, em especial em peças nas quais Bruckner demostra enorme lirismo, caso das Quatro fantasias, escritas em 1862, ou da Sonata, do mesmo ano. É uma verdadeira revelação, que ajuda a entender ainda mais o universo do compositor.


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MENDELSSOHN: FELIX & FANNY
Quartetos de cordas
Quarteto Ebène
Lançamento Erato. Importado. R$ 67,70
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Se o Quarteto Ebène se tornou um grupo de câmara de referência no cenário mundial, isso se deu tanto pela qualidade de suas apresentações quanto pelo modo como compreende o repertório e seus projetos. E este novo disco é um exemplo: o grupo acabara de gravar quartetos de Mozart e, então, o comentário de Schubert, para quem Mendelssohn era o “Mozart do século XIX”, os levou à ideia de gravar um álbum dedicado a ele. Mais que isso: por que não mostrar duas facetas totalmente diferentes de sua obra, assim como a importância de sua relação com a irmã, Fanny? Eles fazem isso tocando uma obra da juventude, o Quarteto nº 2, e outra do fim da vida, o Quarteto nº 6, marcado por profunda angústia provocada pela morte de Fanny. Dela, por sua vez, é apresentado o Quarteto, cuja expressão apaixonada nos ajuda a compreender não apenas sua sensibilidade musical ímpar, que precisa ser resgatada, como também o diálogo musical estabelecido com o irmão – ambos se formaram juntos e compartilhavam o fascínio pela literatura e pelas artes plásticas, reinventadas pelo romantismo.


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BEETHOVEN
Concertos para piano nº 1 e nº 2
Boris Giltburg – piano / Royal Liverpool Philharmonic Orchestra
Vasily Petrenko – regente
Lançamento Naxos. Importado. R$ 58,70
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As celebrações pelos 250 anos de Beethoven trarão de volta alguns dos mais conhecidos e clássicos registros das obras do compositor. No entanto, espera-se que a efeméride jogue luz sobre o trabalho de novas gerações, capazes de oferecer outras leituras e interpretações para obras fundamentais da história da música. E o início da série dos concertos para piano e orquestra com o pianista Boris Giltburg e o maestro Vasily Petrenko é exemplo disso. Giltburg é medalha de prata do Concurso Rubinstein e tem se dedicado bastante à obra de Beethoven; Petrenko, por sua vez, é um dos mais renomados maestros de sua geração. Juntos, oferecem dos Concertos nº 1 e nº 2 uma leitura fascinante. Ao mesmo tempo que fica clara a influência de Mozart nas obras, o modo como recuperam o lirismo das partituras já aponta para um Beethoven de anos mais tarde. Destaque também para os músicos da Royal Liverpool Philharmonic Orchestra, que Petrenko, como diretor artístico e regente titular, tem ajudado a transformar em grupo de primeiro time no cenário europeu.


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LATIN SOUL
Fabio Martino – piano
Lançamento Tico Classics. Importado. R$ 89,00
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Em entrevista recente à Revista CONCERTO, o pianista Fabio Martino falou de sua curiosidade não apenas pelo repertório brasileiro, mas da América em geral. “São compositores maravilhosos, autores de música realmente importante, que precisa ser divulgada”, afirmou. Não surpreende, portanto, que ele tenha escolhido justamente obras do continente para seu terceiro disco solo, “Latin Soul”. Estão presentes Villa-Lobos (Choros nº 5 – Alma brasileira e Ciclo brasileiro) e Camargo Guarnieri (Dança selvagem, Dança negra, Dança brasileira Lundu), ao lado dos argentinos Alberto Ginastera (Danzas argentinas op. 2) e Carlos Guastavino (Bailecito e Sonatina em sol menor). São leituras que revelam as características que fazem de Martino nome-chave da nova geração de pianistas: inteligência musical, virtuosismo sem limites, mas sempre à serviço da expressão, e energia apaixonada. O disco traz, ainda, quadros do ilustrador baiano Menelaw Sete, escolhidos pelo próprio Martino em diálogo com as obras interpretadas.


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MÚSICA BRASILEIRA PARA CLARINETE E PIANO
Jairo Wilkens – clarinete / Clenice Ortigara – piano
Lançamento independente. Nacional. Embalagem com CD e DVD. R$ 63,80

Não é pequeno o feito realizado pelo clarinetista Jairo Wilkens e pela pianista Clenice Ortigara, que formam o Duo Palheta ao Piano: recuperar a música brasileira para os dois instrumentos em uma lista de obras capaz de revelar a diversidade sonora que os instrumentos podem alcançar quando combinados. Basta ouvir peças como Sonatina, de José Siqueira, inspirada nas formas clássicas; A inúbia do caboclinho, em que Guerra-Peixe evoca o carnaval recifense; Concerto para clarinete e orquestra, de Francisco Mignone, autor também da versão com acompanhamento de piano; ou Sonatina para clarinete e piano, de Ernst Mahle, e Valsa-choro, de Osvaldo Lacerda, duas facetas do nacionalismo musical brasileiro. O álbum traz os registros das peças tanto em CD como em DVD, tornando-se desde já um documento essencial de preservação da qualidade da música brasileira, feito por grandes intérpretes. 


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AMOLAFACA
Quintal Brasileiro
Lançamento nacional. Independente. R$ 35,00
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Luiz Amato e Esdras Rodrigues, violinos; Emerson de Biaggi, viola; Adriana Holtz, violoncelo; Ney Vasconcellos, contrabaixo. Todos esses nomes têm em comum o fato de que, em suas trajetórias, integraram ou ainda integram as principais orquestras brasileiras, como a Osesp, a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo ou a Camerata Antiqua de Curitiba. E o fato de que resolveram se unir em um conjunto, o Quintal Brasileiro, dedicado à interpretação da música nacional. Neste quarto disco, o repertório é diversificado, como em seus outros trabalhos – e como na criação musical do país. Há, por exemplo, uma Giga de Bach “recomposta” por Amato, que também assina a peça Amolafaca, assim como o arranjo de Alma Serenada, de Ceumar Coelho. O violonista e compositor Daniel Murray, cujo trabalho autoral se iguala ao de intérprete, aparece em 14 de fevereiro. Caíto Marcondes, nome-chave da percussão nacional, tem seu Choro fugado revisitado. E o grupo encerra o álbum com Brazilian Landscapes nº 6, parte de uma série criada pelo sempre original Liduino Pitombeira. 


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SEGREDOS DE VERA CRUZ
Música popular brasileira para gaita e orquestra
Orquestra de Câmara da ECA USP / Gil Jardim – regente / Gianluca Littera – gaita

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SONS SOBRE TONS
Criações musicais sobre ideias visuais
Orquestra de Câmara da ECA USP / Gil Jardim, Filipe Fonseca e Enrico Ruggieri – regentes
Lançamentos independentes. Nacionais. Distribuição gratuita. Interessados favor entrar em contato: tel. (11) 3539-0046 – info@lojaclassicos.com.br

Sob o comando do maestro Gil Jardim, a Orquestra de Câmara da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, Ocam, tem se pautado por projetos inovadores, tanto na forma como na busca de repertório, em parcerias com instituições culturais importantes, como o Instituto Tomie Ohtake. E esses dois discos do grupo, com distribuição gratuita, são prova disso. O primeiro deles é Segredos de Vera Cruz, no qual a orquestra se une ao premiado gaitista italiano Gianluca Littera para interpretar peças como Flor de lis (Djavan), Beatriz (Edu Lobo e Chico Buarque), Segredo (Herivelto Martins), As rosas não falam (Cartola) ou Vera Cruz (Milton Nascimento e Márcio Borges). São todos grandes clássicos da música popular brasileira – mas que revelam, para além do rótulo, enorme diversidade de inspiração, que Littera e Jardim sabem trabalhar com enorme habilidade. Já Sons sobre Tons parte de uma proposta diferente, abordando a relação entre a música e o mundo visual. Três das peças – Afterimage, de Paulina Luciuk; A escuridão, de Yugo Sano Mani; e Dinâmica dos fluidos, de Wellington Gonçalves – foram vencedoras de um concurso original realizado pela Ocam e o Instituto Tomie Ohtake em 2019: aos jovens participantes foi proposta a ideia de escrever obras a partir de quadros da artista plástica Tomie Ohtake. O diálogo entre a música e o universo visual de Tomie resultou em obras fascinantes, que recebem aqui a primeira gravação. E o álbum traz ainda três outras peças, também ligadas ao conceito do projeto. Fibers, Yarn and Wire, que dialoga com mosaicos marroquinos, e Carreteis II, inspirada em uma série de telas do pintor brasileiro Iberê Camargo, de Alexandre Lunsqui; e A menina que chorou chuva, baseada no forte poema 7 Dias depois, de Daniela Bonafé. Também participam da gravação os regentes Filipe Fonseca e Enrico Ruggieri