Seleção de junho 2020

por Redação CONCERTO 01/06/2020

MOZART
Sonatas para pianoforte e violino – volume 2
Isabelle Faust – violino
Alexander Melnikov – fortepiano
Lançamento Harmonia Mundi. 
Importado. R$ 119,30

[Reprodução capa]
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Beethoven, Schubert, Brahms: o duo formado pela violinista Isabelle Faust e o pianista Alexander Melnikov tem feito gravações de referência para os dois instrumentos, nos ensinando a ouvir novamente um repertório magnífico e fundamental. São, afinal, dois dos maiores músicos da atualidade, que, juntos, mantêm a vibração, a qualidade e a precisão técnica e a musicalidade que marcam suas atuações individuais. E essas são características interessantes de ter em mente quando o assunto é Mozart, de quem eles estão gravando todas as sonatas para violino e piano. Após um primeiro volume elogiado pela crítica internacional (também disponível), essa segunda parte traz as Sonatas K 301, K 305, K 376 e K 378. As duas últimas pertencem à fase de maturidade do compositor, já instalado em Viena, e são representativas de uma nova densidade que sua criação ganha neste momento. Já uma sonata como a K 305 traz um dos movimentos mais alegres da obra de câmara mozartiana. São vários mundos os que Mozart nos propõe, mundos que aqui são coloridos com delicadeza e atenção por Isabelle Faust e Alexander Melnikov.


BEETHOVEN
Piano Pieces and Fragments
Sergio Gallo – piano
Lançamento Naxos. Importado. 
R$ 57,90
Clique para ouvir

[Reprodução capa]
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No mundo da música clássica, grandes efemérides permitem ao público revisitar a obra de compositores, com acesso a novas interpretações de composições fundamentais. É o caso dos 250 anos de Beethoven, com novas edições de sinfonias ou da obra para piano, incluindo sonatas e concertos, além, claro, de sua rica produção para a música de câmara. Além disso, aniversários também nos dão a chance de olhar para aspectos menos conhecidos. E é isso que nos oferece o disco de Sergio Gallo, premiado pianista brasileiro, professor da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, onde se dedica à pesquisa e a uma intensa agenda de apresentações por todo o país. Ele reuniu 36 peças raras de Beethoven, mostrando outra perspectiva do trabalho com o piano. Entre elas, há uma série de miniaturas que mostram o compositor experimentando ideias e possibilidades que mais tarde ganhariam nova forma em sonatas. Outro destaque é uma segunda versão para a célebre bagatela Para Elise. E há ainda passagens de especial interesse, que nos revelam o compositor pianista: cadências escritas por ele para concertos de Mozart. Fascinante.


CÉSAR FRANCK
Préludes, Fugues & Chorals
Nicolai Lugansky – piano
Lançamento Harmonia Mundi. 
Importado. R$ 119,30

[Reprodução capa]
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A musicalidade poética do pianista russo Nicolai Lugansky é conhecida do público brasileiro. Já esteve no país tanto para recitais como para concertos com orquestra, em ocasiões nas quais sempre revelou a expressividade, a profundidade e a preocupação com a qualidade do som, características que fazem dele um dos grandes nomes do piano da atualidade. Depois de uma série dedicada a Tchaikovsky, ele se volta agora à música francesa – em especial, à obra para piano de César Franck. Neste disco precioso, ele interpreta prelúdios, fugas e corais do compositor, que se inspirou nas formas herdadas de Johann Sebastian Bach, mas deu a elas um tratamento à luz de contrastes da alma e questões existenciais do século XIX, característica também de outras de suas obras, como a célebre Sinfonia. O resultado é marcante, e os especialistas no compositor não hesitam em tratar essas obras como algumas das mais avançadas criações de César Franck. Lugansky, cuja forma de tocar é marcada por um mergulho intenso nas obras a serem interpretadas, nos mostra os motivos e, de quebra, oferece uma brilhante versão sua para piano do Coral nº 2, originalmente para órgão.


GABRIEL FAURÉ
Complete Nocturnes
François Dumont – piano
Lançamento Piano Classics. 
Importado. R$ 126,80

[Reprodução capa]
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A definição de dicionário para o termo “noturnos” nos leva à seguinte explicação: são “peças de caráter”, que evocam o ambiente da noite ou são inspiradas por ele. Cada compositor que experimentou o gênero, no entanto, deu a ele novo e rico significado. Os 21 escritos por Chopin, por exemplo, são símbolos da sensibilidade romântica do autor – e talvez as mais célebres peças do gênero. No entanto, os Noturnos do francês Gabriel Fauré merecem ser redescobertos. Foram escritos ao longo de 46 anos. São, portanto, símbolos da evolução do compositor. Mas não apenas. Fauré empresta aos Noturnos enorme profundidade emocional à medida que o tempo passa, em um panorama rico, da simplicidade das primeiras peças ao caráter meditativo das últimas. O disco abre um projeto do pianista François Dumont, que tem em sua trajetória registros integrais como o das sonatas de Mozart, de gravar a obra para piano de Fauré – em um instrumento da época do compositor, um Gaveau de 1922. É uma sonoridade diferente, que nos aproxima ainda mais dessas peças e nos faz esperar ansiosos pela continuação da série. 


DRAMA QUEEN
Maria Callas – soprano
Philharmonia Orchestra 
Orquestra do Teatro Alla Scala de Milão
Nicola Rescigno
e Tullio Serafin – regentes
Lançamento Warner Classics. Nacional. R$ 46,90
Clique para ouvir

[Reprodução capa]
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Não há como subestimar o impacto que a soprano Maria Callas teve no universo da ópera. Há um mundo antes e outro depois de Callas. Com interpretações que colocavam a intenção teatral lado a lado com a qualidade vocal, ela deixou um legado de gravações que se tornaram referências para gerações de artistas e de ouvintes que vieram ao longo dos mais de quarenta anos desde a sua morte. Entre esses registros, estão alguns dos seus papéis mais importantes, em óperas como Medea, de Cherubini, e Il pirata, de Bellini, dois títulos que por sinal ela ajudou a devolver ao repertório; Macbeth, de Verdi; e Lucia di Lammermoor, de Donizetti. Os principais trechos dessas obras integram a coletânea Drama Queen, que nos permite compreender ainda melhor a expressividade de sua voz e sua contribuição à história da ópera, ao lado de grandes parceiros – entre eles, os maestros Nicola Rescigno e Tullio Serafin, que nos ajudam, junto com Maria Callas, a mergulhar em uma época de ouro da ópera italiana. Sem saudosismo, o disco é uma lição de musicalidade que segue válida até hoje, para quem conhece ópera e para quem quer começar a se aventurar por este fascinante universo. (Leia mais sobre Maria Callas na matéria de capa dessa edição na página 10.)


BEETHOVEN
Integral dos Quartetos de cordas
Quarteto Ebène
Lançamento Warner Classics. No Brasil, lançamento apenas digital (clique aqui

[Reprodução capa]
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Entre o início de 2019 e o início de 2020, os jovens músicos do Quarteto Ébene viajaram o mundo com o audacioso e estimulante projeto Beethoven around the World. A ideia era apresentar os 16 quartetos de cordas do compositor durante uma turnê que passasse por diferentes continentes, realizando em cada concerto gravações de algumas das peças – entre as cidades visitadas esteve São Paulo, com um recital na Sala São Paulo pela temporada da Cultura Artística. O resultado chega agora ao fim, com o lançamento da caixa com a integral dos quartetos. São peças que, como escreve o jornalista Irineu Franco Perpetuo (leia mais na página 5), “estabeleceram um paradigma que seria seguido pelas gerações subsequentes, dilatando a ambição, o escopo e a complexidade da escrita para a formação”. Por causa disso, são um desafio para os intérpretes – e o registro do Quarteto Ébene serve como atestado de maturidade de um grupo que está entre os mais interessantes conjuntos de câmara da atualidade. 


ALLEGRO SINFÔNICO
Edson Lopes – violão
Lançamento Guitarcoop. Nacional. R$ 41,40

[Reprodução capa]
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Sonoridade impecável e variedade no repertório são características comumente associadas à trajetória do grande violonista Edson Lopes. Prova disso é seu primeiro disco solo, In Concert, lançado no ano passado pelo selo Guitarcoop, com obras de Weiss, Barrios, Pujol, Mertz, Legnani e Coste. Agora surge seu novo trabalho, que leva o título do nome da obra Allegro sinfônico, de Tomaso Albinoni, presente na gravação. Do mesmo autor, ele grava também uma transcrição do célebre Adágio. E é a partir dessa dualidade que o álbum se constrói. De um lado, transcrições (feitas pelo próprio Lopes e por Francisco Tárrega e Andrés Segovia) de trechos de peças como a Sonata Patética, de Beethoven; o Quarteto nº 1 op. 76, de Haydn; ou O cravo bem temperado, de Bach. De outro, peças de compositores que tiveram o violão como veículo central em sua criação, como Mauro Giuliani e Ferdinando Carulli. São duas facetas do repertório do instrumento, reinventadas pela técnica suprema e pela inteligência musical de um destacado intérprete.


CLAUDIO SANTORO
Obra integral para violoncelo e piano
Hugo Pilger – violoncelo
Ney Fialkow – piano
Lançamento independente. Nacional. R$ 36,80

[Reprodução capa]
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O centenário de Claudio Santoro, comemorado pelo meio musical brasileiro em 2019, alertou artistas e públicos mais uma vez para a grandeza da obra do compositor, que merece ser colocado ao lado dos grandes autores da segunda metade do século XX. E segue dando frutos, agora com o lançamento da obra integral para violoncelo e piano, na interpretação do violoncelista Hugo Pilger e do pianista Ney Fialkow. A música brasileira tem sido um dos pilares do trabalho de ambos os artistas em suas trajetórias conjuntas ou individuais. E aqui eles realizam um feito importante, mostrando a diversidade da escrita de Santoro, que flertou com o nacionalismo e a vanguarda ao longo de sua trajetória, mas sempre utilizando um idioma muito pessoal – idioma que Pilger e Fialkow perseguem com sucesso, revelando peças fundamentais, como Sonata nº 4, Introdução e dança e Encantamento. São três composições capazes de mostrar a riqueza e a diversidade da escrita de Claudio Santoro – e a habilidade dos intérpretes em recriá-las. (Leia entrevista com Hugo Pilger na página 8. Haverá lançamento on-line dia 28/06 às 17h (clique aqui).