Sala Cecília Meireles apresenta Mahler em versão de câmara

por Luciana Medeiros 04/12/2020

“Por toda parte um intruso, em nenhum lugar desejado”, escreveu um dia Gustav Mahler. No final de sua vida, amargurado e alquebrado, produziria uma das obras-primas da música do século XX, A canção da Terra, musicando sete poemas chineses dos séculos VIII e IX, pinçados de uma coletânea de 83 textos – A flauta chinesa – traduzidos para o alemão. 

“São os sete poemas mais tristes, mais transcendentes, que acompanham a efemeridade da vida, o a partida, a morte”, comenta o regente Ricardo Rocha, que estará nesse sábado, dia 5, à frente da sua Cia. Bachiana no palco da Sala Cecilia Meireles (dentro do projeto #SalaDigital) para uma apresentação do ciclo, que na sua forma final tem seis canções e interlúdios – Mahler fundiu dois poemas e acrescentou várias frases de sua autoria.

Mas o que os espectadores da transmissão vão ouvir é uma versão pouquíssimo apresentada – no Rio de Janeiro, certamente nunca levada à cena, garante Rocha. É a versão de câmara da obra de 1909 – que Mahler nunca ouviu –, uma transcrição iniciada por Arnold Schoenberg em 1921 e engavetada logo em seguida, para ser completada por Rainer Riehn em um trabalho de cinco anos, de 1983 a 1988. 

“Schoenberg organizou uma espécie de sociedade musical em Viena, onde eram apresentadas versões de grandes obras para grupos menores”, conta o regente. “Mas só fez a primeira canção. O trabalho de Riehn é precioso e, que eu saiba, só foi apresentado uma vez no Brasil, em São Paulo, anos atrás.”

O impacto da massa sonora que caracteriza esse poema sinfônico – ou suíte de lieder sinfônicos – de Mahler está presente nessa versão, assegura Ricardo Rocha, cuja formação traz mezzo soprano e tenor solistas, flauta, oboé, clarinete, fagote, trompa, celesta, percussão, piano, dois violinos, viola, cello e contrabaixo. As vozes são do tenor Giovanni Tristacci e da jovem Lara Cavalcante, egressa da Academia Bidu Sayão do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, projeto que funcionou em 2015 e 2016. O concerto será transmitido pelas plataformas digitais da Sala Cecilia Meireles. Será disponibilizado o link com a tradução na descrição do vídeo e no chat.

O testamento musical de Mahler entrega solidão, sofrimento, angústia e resignação numa obra que nunca ouviria. “Toda a dor, toda a dúvida, toda a tristeza de Mahler, que havia sido dispensado de seu posto na Ópera de Viena, perdido a filha e diagnosticado com uma séria arritmia cardíaca, tudo isso está nessa obra-prima”, conta ainda o regente. “É a expressão da despedida de Mahler, com sua absoluta genialidade melódica encontrando uma transcendência formal.”

Clique aqui e veja mais detalhes no Roteiro do Site CONCERTO

Leia mais
Notícias
Prêmio CONCERTO 2020 anuncia finalistas
Notícias CONCERTO Entrevista recebe Hugo Possolo

[Divulgação]
Lara Cavalcante, Giovanni Tristacci e Ricardo Rocha [Divulgação]

 

 

Curtir

Comentários

Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.

É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.