Cinquenta anos do Projeto Aquarius são celebrados com concerto no Rio de Janeiro

por Luciana Medeiros 04/08/2022

O ano é 1972. O Brasil vivia o chamado “milagre brasileiro”, momento de prosperidade inflada por empréstimos internacionais. A primeira crise do petróleo ainda não tinha dado as caras. O país todo cantava o jingle encomendado, pelo marketing do Planalto fardado, ao habilidoso Miguel Gustavo, autor de Pra Frente Brasil. A musiquinha grudava no ouvido, apesar da palavra difícil para “150 anos” da Independência – “Sesquicentenário, marco extraordinário...” 

Já em janeiro começavam a pipocar, no jornal “O Globo”, notícias de uma iniciativa para democratizar e popularizar a música clássica, com eventos em locais de grande apelo visual. O Projeto Aquarius nasceu da iniciativa de Isaac Karabtchevsky e Roberto Marinho, com a realização do então gerente de Marketing das Organizações Globo, Péricles de Barros.

Naquele primeiro ano, o Aquarius aconteceu três vezes – em grande estilo, sempre com a Sinfônica Brasileira. Em 30 de abril, em 23 de julho e em 3 de dezembro, com participações especiais – bandas populares, o clarinetista Paulo Moura, o pianista Jacques Klein, convidados internacionais – e efeitos idem: sete canhões dispararam para a Abertura 1812, de Tchaikovsky, por exemplo.

A primeira peça do primeiro concerto foi de Carlos Gomes – a abertura de Lo Schiavo, em um palco montado na Praia do Flamengo. Os concertos seguintes aconteceram no Parque da Cidade, na Gávea, e na Quinta da Boa Vista, que seria ainda o local de uma sempre lembrada montagem de Aida, de Verdi, com direito a barco pelo lago do grande parque.

Cinquenta anos depois, a celebração da data redonda acontece neste sábado, dia 6, às 17h, na Praça Mauá, um dos novos epicentros do turismo carioca. A OSB será regida por Roberto Tibiriçá, que recorda as várias edições de que participou – a primeira, em 1994. “É um arco impressionante, uma história imprescindível”, assegura. “Centenas de milhares de pessoas tiveram contato com a música clássica pela primeira vez nesses Aquarius. Regi, por exemplo, a Sinfonia nº 2 de Mahler na Enseada de Botafogo, num palco de 5 mil m², direção cênica de Moacyr Góes com atores em pernas de pau."

Lá em 1972, Karabtchevsky contava em carta a Roberto Marinho, publicada no jornal "O Globo": “É muito difícil exprimir em palavras a emoção e a vibração que acompanharam os últimos acordes do Projeto Aquarius”. Aquela edição terminara com os cem mil espectadores cantando o Hino da Independência e acenando lenços brancos.

O regente, em 2022, reafirma a importância do evento: “Fundamental para a formação do grande público. Os meus melhores momentos no Aquarius foram a Nona Sinfonia de Beethoven na Quinta da Boa Vista e, pela primeira vez na história da cidade, a montagem da ópera Aida à beira do lago”.

Nesta edição, o programa tem participação do compositor Lenine e do grupo de passinho OzCrias. “Quero muito destacar a presença do acordeonista João Teixeira, aluno de Hermeto Paschoal e de Sivuca”, reforça Tibiriçá. “Faremos uma homenagem a Sivuca, com o Concerto sinfônico para Asa Branca; e vamos lembrar os grandes momentos do projeto, com a Marcha Triunfal de Aida, o popularíssimo Danúbio Azul de Johann Strauss, aberturas de Lo Schiavo e O Guarani, de Carlos Gomes, o Bolero de Ravel – que Jorge Donn dançou aqui com coreografia de Maurice Béjart –, a Abertura 1812 e O trenzinho do caipira, da Bachiana nº 4. de Villa-Lobos. No Trenzinho, gostaria de destacar a presença de jovens percussionistas do projeto Conexões Musicais, da OSB, uma iniciativa importantíssima.”

De uma importância inegável para a popularização de clássicos da música de concerto, o Aquarius havia deixado de acontecer na pandemia depois de alguns anos de presença irregular, mas celebra o seu cinquentenário no ano do bicentenário da Independência do Brasil. “É um projeto grandioso, pioneiro e importantíssimo”, afirma Karabtchevsky. “Uma enorme alegria estar no pódio para a festa que conquista o coração do público com a música”, encerra Roberto Tibiriçá.

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Roberto Tibiriçá à frente da OSB em antiga edição do Projeto Aquarius [Reprodução/Acervo Pessoal]
Roberto Tibiriçá à frente da OSB em antiga edição do Projeto Aquarius [Reprodução/Acervo Pessoal]

 

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