Compositoras em foco: Louise Farrenc

por Redação CONCERTO 11/03/2025

Louise Farrenc nasceu em 1804 e cresceu rodeada de artistas: poetas, músicos, escultores, pintores. Não surpreende, portanto, que, desde a tenra idade, tenha se interessado pela arte. Seus primeiros passos na música foram ao piano, e como intérprete ela logo foi celebrada por nomes importantes do período, como os compositores Muzio Clementi e Johann Nepomuk Hummel. 

Com 15 anos, Farrenc passou a se interessar pela composição e entrou para o Conservatório de Paris. Como mulheres não podiam frequentar aulas na instituição, recebia orientações de forma privada. Logo, tornou-se concertista de renome. Percorreu a Europa em duo com o marido, o flautista Aristide Farrenc. Eventualmente, cansado das turnês, ele resolveu voltar a Paris e abrir uma editora, que se tornaria uma casa importante a partir dos anos 1830.

Louise Farrenc seguiu então com sua carreira como intérprete. E a fama lhe rendeu um convite para dar aulas no Conservatório, tornando-se, assim, a única mulher, no século XIX, a ocupar de modo efetivo uma posição permanente na instituição, na qual trabalharia por mais de três décadas – recebendo um salário menor do que o pago aos professores homens.

Ao longo dos seus anos em turnês, Farrenc começou a escrever suas primeiras peças. A princípio, sua obra se voltou a criações para piano, que interpretava em viagens, chamando atenção de colegas compositores, como Robert Schumann. Quando, enfim, passou a se dedicar a obras de maior envergadura, para orquestra, Berlioz escreveu, imbuído com o preconceito de época, que ela era “capaz de criar orquestrações com um talento incomum entre as mulheres”.

Farrenc escreveu três sinfonias e deixou incompleto um concerto para piano e orquestra. “Treinada na tradição clássica alemã, Farrenc reverenciava Beethoven e evidentemente conhecia Mozart e Mendelssohn. Mas essas sinfonias não são meros epígonos. De sua introdução lenta e tateante até seu final, alternadamente ardente e emoliente, a nº 1 é escrupulosamente trabalhada, tensamente desenvolvida (Farrenc nunca divaga) e rica em suas melodias bem torneadas”, escreve o crítico Richard Wigmore. 

“Sua sensibilidade à cor dos sopros é ouvida em seu ponto mais poético nas cores mutáveis do Adagio, com seus ecos da ópera bel cantista. O musculoso Minueto, com seus ritmos cruzados abrasivos, lembra vagamente a Sinfonia nº 40 em sol menor de Mozart, enquanto a quebra rítmica no clímax do desenvolvimento do primeiro movimento inevitavelmente lembra o ponto correspondente da Eroica, de BeethovenNo entanto, quaisquer influências são completamente absorvidas e personalizadas”, continua.

“Por sua vez, a Sinfonia nº 3, com sua abertura assombrosa para o oboé solista, soa ainda mais madura. Os movimentos externos poderosamente trabalhados equilibram energia febril e graça lírica. Há um drama feroz no coração do final. O movimento lento, aberto pela atmosfera construída por clarinete, trompas e tímpanos, mistura solenidade e doçura. Uma obra forte e espirituosa.”


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Roteiro musical
A Sinfonia nº 3 de Louise Farrenc será apresentada nos dias 12 e 13 pela Orquestra Sinfônica do Espírito Santo, em Vitória; e, no sábado, dia 15, pela Orquestra Sinfônica da USP, no Centro Cultural Camargo Guarnieri, em São Paulo. Veja mais informações no roteiro do Site CONCERTO.

Louise Farrenc [Reprodução]
Louise Farrenc [Reprodução]

 

 

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