O 12º Festival de Música Erudita do Espírito Santo será realizado entre os dias 8 e 30 de novembro e terá como tema Arenas do Íntimo. O evento, realização da Cia de Ópera do Espírito Santo, dirigido por Tarcísio Santório e Natércia Lopes, e com a direção artística de Livia Sabag, inclui a estreia de uma ópera e uma série de concertos de câmara, além da circulação de espetáculos.
“As novas tecnologias de informação e comunicação têm transformado rapidamente o modo como as pessoas se relacionam e se organizam em sociedade. Hoje, assuntos que eram restritos à esfera privada se espraiam por redes e mares de bits e bytes onde qualquer um pode interagir à vontade. Ao mesmo tempo, questões públicas antes mediadas por diversos campos sociais institucionalizados, como o jornalismo e os poderes políticos, são agora moldadas também pelo impulso comunicativo do cidadão comum”, escreve Sabag no texto de apresentação do festival.
“Se essas transformações trouxeram algum otimismo pela possibilidade de uma suposta facilidade de comunicação entre as pessoas, e de uma maior participação democrática nos delineamentos da sociedade, hoje começamos a perceber que tais mudanças apontam também para horizontes pouco esperançosos, como polarizações, obscurantismos e até mesmo guerras. O 12º Festival de Música do Espírito Santo se volta para essas questões prementes do momento atual e se propõe a refletir sobre as relações entre intimidade, sociedade em rede, comunicação e dinâmicas de poder.”
A abertura será com a estreia mundial da ópera Clitemnestra, inspirada na Orestéia de Ésquilo, com música de Marcus Siqueira, libreto de Sabag e de João Luiz Sampaio, e colaboração de Gabriel Rhein-Schirato, que atua também como assessor musical do festival e estará à frente da OSES - Orquestra Sinfônica do Espírito Santo na regência do espetáculo.
O enredo gira em torno da rainha Clitemnestra e sua trajetória pessoal e política após o assassinato de Ifigênia, sua filha, pelo próprio pai, Agamênon, comandante do exército grego na guerra de Tróia. A obra nasce no contexto do Núcleo de Criação de Ópera do Festival, que promove a criação de novas óperas brasileiras a partir de processos de trabalho colaborativos que envolvem artistas da casa e artistas convidados a cada edição – no ano passado, a ópera apresentada foi Contos de Julia, com música de Marcus Siqueira e libreto de Veronica Stigger a partir da obra de Julia Lopes de Almeida (o espetáculo venceu o Prêmio Lauro Machado Coelho de Ópera do Prêmio CONCERTO 2023).
A direção cênica do espetáculo, com récitas nos dias 8 e 10 de novembro, será de Menelick de Carvalho, a preparação vocal, de Fabio Bezuti, e o elenco é formado pelas sopranos Gabriela Pace e Débora Faustino, o baixo-barítono Felipe Oliveira, o tenor Daniel Umbelino e a mezzo-soprano Priscila Aquino.
A programação de cinco concertos de câmara tem curadoria de Sampaio e vai abordar a relação entre o indivíduo e o coletivo, a escuta e a percepção de nós mesmos e dos outros em espaços de interação social, comunicação e novas tecnologias e identidades. Como nas edições anteriores, o repertório tem forte presença de obras de compositoras e de repertórios dos séculos XX e XXI.
No dia 15 de novembro, o pianista Willian Lizardo e a oboísta Nathalia Maria, interpretam obras de Paavel Haas, Debussy, Clara Schumann, Deise Hatum, Francis Poulenc e Spiegel im Spiegel, de Arvo Pärt. O programa aborda, através da metáfora do espelho, os mecanismos das relações humanas.
O flautista Lucas Rodrigues, a fagotista Ariana Mendonça e o clarinetista Cristiano Costa se apresentam no dia seguinte, propondo reflexões sobre o modo como nos expomos nas redes sociais – e o significado que essas interações ganham em um contexto marcado pela superficialidade. O repertório inclui obras de Guilherme Bauer, Beethoven, Henrique de Curitiba, Francisco Mignone, Marisa Rezende, Ian Deterling e Charles Koechlin.
No dia 22, será apresentado programa dedicado à percussão, com Gabriel Novaes, Daniel Lima e Leonardo de Paula e a violoncelista Liana Meirelles Paes. Explorando o impacto da tecnologia no modo de nos comunicarmos, o programa tem obras como Clapping Music, de Steve Reich, Stuttered Chant, de David Lang, Perhaps, de Reena Esmail, Tríplice Andar, de Denise Garcia, e Time is Money, de Kirsten Strom.
No dia 23, o pianista Ricardo Ballestero e a mezzo-soprano Ana Lúcia Benedetti se apresentam com um programa que aborda, entre outros temas, a trajetória de artistas em meio a contextos autoritários e opressivos. No repertório estão Heartbreaker, de Missy Mazzolli, Ich bin ein Waise, de Dora Pejačević, Three Dreams Portrait, de Margareth Bonds, Canção da fuga impossível e Fragmento para um Réquiem, de Claudio Santoro, 6 Poemas de Marina Tsvetayeva, de Dmitri Shostakovich, Três epitáfios: Ao autor, de Fernando Lopes Graça, Trois Chansons, de Francis Poulenc, e Novos cantares, de Esther Scliar.
Fechando a série de concertos de câmara, dia 29 de novembro o Festival recebe Fabio Zanon para um recital de violão solo. O programa, com obras de compositores latino-americanos, propõe uma reflexão sobre a construção da identidade a partir de um olhar para diferentes narrativas que revelam experiências silenciadas ao longo do tempo.
O concerto de encerramento, no dia 30, terá a participação dos vencedores do 3º Concurso de Canto Natércia Lopes, que vão se apresentar com a Orquestra Sinfônica do Espírito Santo, regida pelo maestro Helder Trefzger – a apresentação terá a participação especial da própria Natércia, artista homenageada pelo concurso. uma das ações desenvolvidas pelo festival ao longo do ano, ao lado do 5º VOE (Vitória Ópera Estúdio) e do 4º Opera-cional.
A programação inclui ainda o projeto Ópera nos Bairros, que levará a comunidades tradicionais o espetáculo Rossini por um fio, do grupo Pequeno Teatro do Mundo, e Concertos Itinerantes, com apresentações do Quarteto Zuri em diversos espaços públicos da Grande Vitória.
Mais informações sobre o festival e suas ações podem ser vistas aqui.
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