Conselho de Defesa do Patrimônio recebe petição para tombamento da Escola de Música de Piracicaba

por Redação CONCERTO 01/09/2022

Ofício foi assinado por destacadas autoridades e vem em resposta à notícia da venda do prédio da escola; abaixo-assinado já conta com mais de 6 mil assinaturas

Ex-prefeitos, ex-secretários de cultura, ex-dirigentes da Unimed e uma ex-diretora da Escola de Música entregaram hoje (01/09) uma petição ao presidente do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba (Codepac), Esio Pezzato, solicitando formalmente a abertura de um processo de tombamento do prédio e do patrimônio imaterial da Escola de Música de Piracicaba Maestro Ernst Mahle, Empem.

A iniciativa, coordenada pelo movimento Salvem a Empem, vem como resposta à notícia de que o prédio da Escola de Música de Piracicaba está à venda para quitação de débitos tributários da rede metodista de educação, seu proprietário. Como já noticiado no Site CONCERTO (clique aqui para ler), a Empem está ameaçada uma vez que as escolas metodistas existentes no país estão em um processo de recuperação judicial pois devem mais de R$ 1 bilhão em débitos extra concursais. 

O movimento Salvem a Empem anexou à solicitação de tombamento o abaixo-assinado contra a venda do prédio, lançado há poucos dias e que já conta com mais de 6 mil adesões (clique aqui para assinar). 

Conforme os organizadores, o ofício solicitando o tombamento “se reveste de um peso político ímpar”, já que tem como signatários todos os ex-prefeitos de Piracicaba, José Aparecido Borghesi, José Machado, Barjas Negri e Gabriel Ferrato; ex-responsáveis pela área de cultura da cidade, em diferentes épocas, como secretários municipais, Aparecida Gregolin Abe, Jefferson Goulart, Heitor Gaudenci Jr e Rosângela Camolese; ex-reitor da Unimed, Clóvis Pinto de Castro; ex-vice reitores da Unimep, Ely Eser Barreto César e Sérgio Marcus Pinto Lopes; e Beatriz Victória, ex-diretora da Escola de Música de Piracicaba. O organista e ex-professor da Empem Júlio Amstalden assina o documento como representante do movimento Salvem a Empem.   

A Escola de Música de Piracicaba foi fundada em 1953 pelo compositor Ernst Mahle e sua esposa, a professora Cidinha Mahle. Em 1998, o casal Mahle – preocupado com a institucionalização da escola –, transferiu-a para o Instituto Educacional Piracicabano (IEP), entidade mantenedora do Colégio Piracicabano e da Universidade Metodista de Piracicaba. Ao longo de sua existência – em março do ano que vem a escola completa 70 anos –, a Empem formou alguns dos principais músicos brasileiros em atividade no Brasil e no exterior. A escola é referência nacional no ensino da música, verdadeiro patrimônio do universo musical brasileiro.

Leia abaixo a íntegra do ofício de solicitação de tombamento recebido pelo Codepac nesta data:

Ao
Ilmo. Sr. Esio Antonio Pezzato
DD Presidente do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultura de Piracicaba – CODEPAC

Prezado Sr.

Como já é de conhecimento público, a Escola de Música de Piracicaba “Maestro Ernst Mahle” (EMPEM) se vê ameaçada de perder seu prédio sede, onde, desde a década de 1960   desenvolve suas atividades de ensino, pesquisa, concertos, audições em um contínuo processo de formação cultural de gerações de piracicabanos no reconhecimento à importância da arte e da cultura. O fato se deve à inclusão do imóvel para alternativa de quitação de débitos tributários da rede metodista de educação, que busca, através de processo de recuperação judicial, formas de manter suas unidades ainda em funcionamento apesar de um passivo que ultrapassa 1 bilhão de reais e envolve cerca de 10 mil credores em todo o país.

Fundada em 1953 pelo casal Maria Apparecida e Ernst Mahle, a Escola de Música se constituiu, desde o princípio, numa alternativa de difusão cultural – não apenas pelo ensino da música em suas variadas especificidades –, mas por tornar Piracicaba um espaço de recepção a músicos consagrados do Brasil e do exterior para apresentações e cursos especiais, dificilmente disponíveis à populações de cidades do interior, especialmente em suas primeiras décadas. Beneficiaram-se, portanto, de sua existência, tanto aqueles que ali buscavam uma formação musical que levaria muitos a se profissionalizar na área, como também o cidadão comum, que passou a ter acesso a programas de qualidade ímpar. A se destacar que seus conjuntos e seus músicos, durante anos, também foram às escolas públicas da cidade, levando a música para um público que por si só não chegaria às salas de concerto e teria alguma intimidade com a música clássica. O número de cursos ofertados já nos primeiros anos dá uma dimensão da amplitude dos objetivos da Escola, que trazia em sua origem as influências de H.F.Koelreutter, de quem Cidinha e Ernst Mahle foram alunos: teoria e solfejo, harmonia, contraponto, dança clássica, iniciação musical, história da música e estética musical – ampliando-se as alternativas muito rapidamente também para classes de flauta, piano, violino, violoncelo, clarineta, declamação, regência, artes plásticas, canto, acordeão, coral e música de câmera. Anos depois, ali também passaram a ser oferecidos cursos de artes plásticas, teatro e balé. 

Em 1998, o casal Mahle, depois de várias tratativas e busca por alternativas que garantissem uma continuidade ao projeto da Escola de Música, encontrou na Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP/IEP) resposta às suas preocupações de sobrevivência da EMPEM. O IEP festejou a incorporação em eventos públicos e falas oficiais de seus dirigentes à época quanto ao compromisso assumido de manutenção e preservação daquela instituição. O acordo envolveu um pagamento pelo imóvel hoje em discussão, enquanto à Universidade eram doados todos os equipamentos e acervo pertencentes até então a EMPEM, assim como sua estrutura e marca. Foi a partir desta incorporação, inclusive, que a Universidade pode montar e passar a oferecer a licenciatura em Música, que funcionou durante alguns anos. À medida que as instituições metodistas de educação enfrentaram mudanças nos anos subsequentes à incorporação, a Escola de Música deixou de ter certo protagonismo em seu acompanhamento e garantia e preservação de sua infraestrutura.

Dias atrás, piracicabanos e músicos ali formados, que hoje se espalham por algumas das principais orquestras e universidades do exterior, assim como em unidades de ensino superior públicas e orquestras de referência do Brasil, mostraram de imediato sua preocupação e indignação com a ameaça contra a EMPEM, a partir da venda do prédio e o progressivo descaso da administração metodista para com a preservação de uma história cultural de importância vital para a memória da cidade e para o desenho da música clássica no país. Em anexo a este documento, tal reação pode ser conferida, através de abaixo assinado que, até dia 30/08/2022 acumulava cerca de 6 mil adesões pedindo pela preservação da Escola (anexo 2). É para nós, a expressão palpável de um movimento de grandes proporções que precisa ser ouvido e respeitado por aqueles que poderão ter iniciativas concretas no sentido de se preservar a Escola de Música.

É nessa perspectiva que nós, como pessoas que já governamos Piracicaba, que conhecemos detalhadamente a importância de instrumentos culturais para seu povo, que estivemos também à frente de administrações da UNIMEP, também apoiamos e ressaltamos a importância da EMPEM para essa coletividade e para o país, encaminhando a este Conselho a solicitação de tombamento do prédio e dos bens imateriais que compõem a Escola de Música de Piracicaba, a partir de suas competências legais. 

Atenciosamente,

José Aparecido Borghesi, ex-prefeito municipal 
José Machado, ex-prefeito municipal 
Barjas Negri, ex-prefeito municipal
Gabriel Ferrato, ex-prefeito municipal
Aparecida Gregolin Abe – ex-secretária de Ação Cultural 
Jefferson Goulart – ex-secretário de Ação Cultural (assinatura digital) 
Heitor Gaudenci Jr.– ex-secretário de Ação Cultural (assinatura digital)
Rosângela Camolese – ex-secretária de Ação Cultural  
Clóvis Pinto de Castro – ex-reitor da UNIMEP (assinatura digital)
Ely Eser Barreto César – ex-vice-reitor da UNIMEP  
Sérgio Marcus Pinto Lopes – ex-vice-reitor da UNIMEP (assinatura digital) 
Beatriz Victória – ex-diretora da Escola de Música de Piracicaba 
Julio Amstalden – ex-aluno, ex professor, representante do movimento Salvem a EMPEM   

Presidente do Codepac, Esio Pezzato, recebe petição para o tombamento (divulgação)
Presidente do Codepac, Esio Pezzato, recebe petição para o tombamento (divulgação)

 

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