Novo titular Thomas Blunt estreia em ótima apresentação do Coro da Osesp

por Nelson Rubens Kunze 27/02/2025

Com rebatedores atrás do palco, Estação CCR das Artes surpreende por boa acústica 

O maestro britânico Thomas Blunt fez a sua primeira apresentação como regente titular do Coro da Osesp na última terça-feira, dia 25 de fevereiro, na Estação CCR das Artes, nova sala para música de câmara e pequenas formações (bem como para outras linguagens artísticas), contígua à Sala São Paulo. Além da expectativa em torno da estreia do novo regente, a apresentação também foi um primeiro teste de como a Estação CCR das Artes responderia acusticamente a uma apresentação sem amplificação. E tudo correu muito bem!

Thomas Blunt, de 47 anos, nasceu em Cardiff, capital do País de Gales. Estudou na Universidade de Cambridge e aperfeiçoou-se no mestrado do Royal College of Music. Ali, como contou em entrevista a Luciana Medeiros que será publicada na edição de março da Revista CONCERTO, teve “a sorte de estudar com Neil Thomson e Bernard Haitink, duas de minhas maiores influências e inspirações”.

Para seu concerto de estreia com o Coro da Osesp, Blunt escolheu um programa com peças dos mestres renascentistas ingleses William Byrd e Orlando Gibbons, de autores portugueses da virada do século XVI ao XVII (Duarte Lobo, Manuel Cardoso, Pedro de Cristo), de Gustav Holst (Nunc Dimittis, obra de 1915), de Michael Tippett (Five Negro Spirituals de A Child of our Time) e do contemporâneo brasileiro Aylton Escobar, com as obras Ave Maria (1965) e Missa breve: Agnus Dei (1964) (ambas foram gravadas pelo Coro da Osesp sob direção de Naomi Munakata em álbum lançado pelo selo digital da Osesp em 2013 – clique aqui para ouvir).

Foi ótima a apresentação. Concentrado e em sintonia com o maestro, o coro exibiu um som coeso, homogêneo e bem timbrado, com bom equilíbrio dinâmico entre os naipes. Dicção e articulação também foram trabalhadas, resultando em linhas contrapontísticas transparentes e bem delineadas. Da mesma maneira, as partes solistas receberam interpretações cuidadosas, soando organicamente dentro do grupo e evidenciando a qualidade técnica dos cantores. O coro respondeu bem e afinado mesmo nas obras mais exigentes.

Dentre todas as peças apresentadas, destaco algumas que pessoalmente mais me impactaram (mais por um gosto pessoal do que pela performance, que no geral foi muito convincente): de Holst, a emocionante Nunc Dimittis, escrita em 1915; a singela e bonita Agnus Dei, de Aylton Escobar; a linda e comovente Lamentatio, de Manuel Cardoso, e por fim, os cinco negro spirituals arranjados para coro a cappella por Tippett em 1958 a partir de seu oratório A Child of our Time.

Com Thomas Blunt, tudo leva a crer que o Coro da Osesp vai seguir na construção de repertórios instigantes e no aprimoramento de interpretações de excelência, honrando o passado do grupo.

Se a qualidade do coro e a competência do maestro já eram conhecidas – Blunt tem trabalhado com o Coro da Osesp desde 2011 –, a surpresa da noite foi o bom resultado acústico para a música sem amplificação da nova Estação CCR das Artes. Eu assisti à apresentação de inauguração do espaço (leia aqui), um show amplificado, em que fiquei entusiasmado com o novo teatro, mas receoso quanto ao resultado acústico em um concerto sem amplificação. 

Agora, contudo, sem amplificação e com os rebatedores atrás do palco, a estação demonstrou que tem bom potencial para o repertório clássico. No lugar em que eu estive sentado (no terço inferior da plateia elevada), o som estava perfeito, com bom volume, reverberação adequada e sem sobreposições sonoras. 

Creio que, ao longo da temporada, as melhores soluções (posição de rebatedores e cortinas) poderão ser testadas para a acústica mais adequada para as mais diversas formações.

Thomas Blunt estreia como titular do Coro da Osesp na Estação CCR das Artes (Revista CONCERTO)
Thomas Blunt estreia como titular do Coro da Osesp na Estação CCR das Artes (Revista CONCERTO)

 

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