Estação CCR das Artes é fruto de vitoriosa parceria público-privada via Lei Rouanet

por Nelson Rubens Kunze 27/01/2025

Novo espaço cultural, contíguo à Sala São Paulo, foi inaugurado no dia 25 de janeiro, aniversário da cidade de São Paulo

A cidade de São Paulo ganhou um novo e original espaço cultural, a Estação CCR das Artes. O novo teatro ocupa um amplo salão da antiga estação ferroviária – o concourse, local em que se vendiam as passagens –, que faz parte do prédio da Sala São Paulo, situado lado da estação Júlio Prestes da CPTM. A Osesp até então usava pouco o espaço e eventualmente o alugava para eventos especiais, como casamentos ou festas de formatura. 

Agora, o belo concourse, que é sustentado por grandes colunas com uma cobertura em abóboda e ostenta dois grandes vitrais em suas extremidades, ganhou uma entrada separada, que o liga diretamente ao estacionamento da Sala São Paulo. Em seu interior, o salão foi dotado de uma estrutura modular, um imenso “armário”, que, quando desdobrado, se transforma em uma arquibancada de mais de 400 lugares. O novo teatro tem um palco de 160m2 e, somadas às poltronas do piso, comporta um público de até 543 pessoas. 

Com tudo isso, um salão até então ocioso transforma-se em um novo polo difusor de cultura na cidade de São Paulo. Creio que a estação possa compartilhar também recursos de infraestrutura da própria Sala São Paulo, como serviços de estacionamento, manutenção e segurança, otimizando assim a relação de custos e benefícios. 

A inauguração da novo Estação CCR das Artes é fruto de uma inteligente parceria público-privada, viabilizada por meio da Lei Rouanet, a legislação federal de incentivo fiscal. A obra custou R$ 28 milhões e foi financiada com investimento público direto do governo do Estado de São Paulo (R$ 13 milhões) e recursos incentivados pela Lei Rouanet captados pela Organização Social Fundação Osesp (R$ 15 milhões). Agora, por meio de um contrato de “naming rights”, o Grupo CCR, uma das maiores empresas de infraestrutura de mobilidade que operam no Brasil, aporta, também por meio da Lei Rouanet, R$ 15 milhões para a programação do novo teatro ao longo dos próximos 3 anos. A realização, portanto, resulta de uma cooperação entre o Ministério da Cultura (Lei Rouanet), a Secretaria de Estado da Cultura e a iniciativa privada por meio da OS Fundação Osesp e o Grupo CCR.

É importante chamar a atenção para a importância dos investimentos feitos por meio da Lei Rouanet (recentemente também tivemos o caso do Teatro Cultura Artística, praticamente na sua totalidade financiado por patrocínios privados incentivados pela Rouanet). Grande parte das atividades culturais brasileiras se apoia nessa legislação, que em sua modalidade de mecenato não “paga” ao artista ou ao órgão cultural. Os artistas ou produtores têm de enquadrar os seus projetos na Lei Rouanet e buscar os patrocinadores privados, que então poderão deduzir o investimento de seus impostos.

A cerimônia de inauguração da Estação CCR das Artes contou com a participação do governador Tarcísio de Freitas, da secretária de Cultura do estado Marília Marton, do secretário de incentivo fiscal do Ministério da Cultura Henilton Menezes, dos diretores e conselheiros da Fundação Osesp, do presidente da CCR Miguel Setas e da presidente do Instituto CCR Renata Ruggiero. Também outras autoridades, como o prefeito Ricardo Nunes, bem como profissionais do setor cultural e jornalistas estiveram presentes.

Após as falas e o descerramento da placa de inauguração, aconteceu um show com música popular, recitação de poemas, dança e circo que reuniu o Quarteto e o Coro Acadêmico da Osesp, São Paulo Big Band, a São Paulo Cia. de Dança, o Mundo do circo, a pianista Juliana Ripke, o acordeonista Toninho Ferragutti, a cantora Virgínia Rosa e o ator Odilon Wagner, sob regência de Ana Beatriz Valente. 

E foi bem bonito o espetáculo “As artes na estação”, que uniu música, dança, poesia e circo e é livremente inspirado no imaginário ferroviário da estação Júlio Prestes. O roteiro da viagem contemplou obras de artistas como Tom Jobim, Milton Nascimento, Mário Quintana, Chico Buarque, Edu Lobo, Fernando Pessoa, Francisco Mignone, Oswald de Andrade, Villa-Lobos e Adoniran Barbosa.

A apresentação foi bem e equilibradamente amplificada, o que resultou em uma excelente audição na plateia. Não creio, contudo, que a acústica da nova Estação CCR das Artes seja adequada para uma apresentação acústica de música de câmara do repertório clássico – para isso o espaço é demasiadamente aberto e permeável. 

Mas, a julgar pela inauguração, também não é essa a intenção. A nova Estação CCR das Artes é um espaço privilegiado para a música instrumental, música popular e outras linguagens artísticas, que aqui poderão oferecer suas obras em diálogo complementar e integrativo à programação da Sala São Paulo.

Viva a Cultura e vida longa à Estação CCR das Artes!

[Texto atualizado em 27/01/2025, às 23h, para a inclusão dos custos da obra da Estação CCR das Artes.]

Espetáculo de inauguração da Estação CCR das Artes (Revista CONCERTO)
Espetáculo de inauguração da Estação CCR das Artes (Revista CONCERTO)
Detalhe arquitetônico da Estação CCR das Artes (Revista CONCERTO)
Detalhe arquitetônico da Estação CCR das Artes (Revista CONCERTO)
Plateia da Estação CCR das Artes (Revista CONCERTO)
Plateia da Estação CCR das Artes (Revista CONCERTO)

 

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