Morre aos 68 anos a professora e pesquisadora Teca Alencar de Brito

Morreu no sábado, dia 19, a professora e pesquisadora Teca Alencar de Brito, que desenvolveu fundamental trajetória na reflexão sobre a educação musical. Ela estava com 68 anos.

Professora e pesquisadora do Departamento de Música da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, ela formou-se pianista e obteve a licenciatura em educação artística, antes de realizar mestrado e doutorado em Comunicação e Semiótica na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Sua atividade esteve ligada desde o início à educação musical. “O fazer musical é um modo de resistência, de reinvenção, que ao mesmo tempo fortalece o estar juntos, o pertencimento a um grupo, a uma cultura. O viver na escola, espaço de trocas, de vivências e construção de saberes, de ampliação da consciência, deve obviamente abarcar todas as dimensões que nos constituem, incluindo a dimensão estética”, escreveu ela no artigo Ferramentas com brinquedos, publicada na Revista da Associação Brasileira de Educação Musical.

“Com as crianças, importa garantir a possibilidade de exercitarem sua relação com o mundo. Através dos sons podem expressar seu modo de perceber, sentir, pensar. Podem vivenciar questões significativas, importantes em sua vida, já que a música é linguagem que tonar sonora nossa própria forma, quem somos, como percebemos, como sentimos.”

Para ela, o trabalho com crianças deveria ser pautado pelo respeito. “Basta conhecê-las e respeitá-las: respeitar sua percepção, sua cultura e as características próprias de cada fase de seu desenvolvimento, sua realidade, seu contexto social.”

Teca criou em 1974 a Oficina de Música, núcleo de educação musical voltado à formação de crianças, jovens e adultos. Parte do trabalho realizado com crianças e adolescentes foi documentado em CDs como Canto do povo daqui, Nós que fizemos, Música pra todo lado, Ondas e Passarinhada e outros voos. Está presente também em livros como De roda em roda, no qual ela apresenta brincadeiras musicais de diferentes regiões do Brasil: rodas de verso, cantos de trabalho, cantigas de roda. 

Seu trabalho teórico está documentado em alguns livros que se tornaram referência no tema. Em Música na Educação Infantil, ela reúne reflexões e sugestões práticas a respeito da educação musical no mundo contemporâneo.

Já em Hans-Joachim Koellreutter: ideias de mundo, de música, de educação, ela apresenta e analisa o trabalho do professor e compositor alemão, que, em suas palavras, “estimulava a liberdade na criação e expressão, focando o desenvolvimento humano de modo aberto, crítico e reflexivo”. Ela voltaria ao tema alguns anos mais tarde com Koellreutter educador: o humano como objetivo da educação musical.

Uma de suas obras centrais é Um jogo chamado música: escuta, experiência, criação e educação. “Pautando-se na ideia de jogo ideal – aquele que se joga pelo prazer de jogar e que desconhece ganhadores ou perdedores – proposto pelo filósofo francês Gilles Deleuze, Teca defende a abordagem desse conceito no contexto musical colocando-o como um fazer em si mesmo, sem usá-lo como uma simplificação de conteúdos mecanicistas ou como receitas a serem seguidas para memorização de saberes”, escreveu sobre o livro Flávio Rodrigues, da Unicamp, para quem os relatos trazidos pela autora compõem um elemento fundamental da obra.

“Os relatos revelam um imenso poder de recriação e aplicações práticas para diferentes contextos. Esta é, portanto, uma das potências desse trabalho: ao não se afirmar como método e sim como descrição, torna cada uma das experiências propostas em possibilidades, levando em consideração as particularidades de cada grupo e entendendo a música enquanto fazer social e comunitário, não se fechando num mero meio de adquirir capacidades técnicas. Evidencia, dessa maneira, o poder das atividades como ferramentas que disparam sensações, promovem a escuta, o criar, pensar, mover-se, etc.”

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