Ao ouvir a suíte A noite dos maias, de Silvestre Revueltas, o poeta Octavio Paz buscou definir o impacto provocado pela música.
“Toda a sua música parece precedida por algo que não é alegria e euforia, como alguns acreditam, ou sátira e ironia, como outros acreditam. Esse elemento, melhor e mais puro… é sua profunda, mas também alegre preocupação com o homem, os animais e as coisas. É a profunda empatia com seu entorno que torna as obras desse homem tão nu, tão indefeso, tão ferido pelos céus e pelas pessoas, mais significativas do que as de muitos de seus contemporâneos.”
O próprio Revueltas arriscou colocar em palavras aquilo que criou em música.
“Há dentro de mim uma compreensão muito peculiar da natureza: tudo é ritmo. A linguagem do poeta é a linguagem cotidiana. Todo mundo entende ou sente. A música por si só tem que aperfeiçoar sua própria linguagem. Tudo isso junto é o que a música é para mim. Meus ritmos são estrondosos, dinâmicos, táteis, visuais. Acho que, em imagens, são tensões melódicas, que se movem dinamicamente.”
A noite dos maias é uma das obras mais importantes do mexicano Revueltas, e será interpretada neste sábado pela Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. O programa terá a regência do maestro venezuelano Rodolfo Saglimbeni. Também participa o violinista italiano Davide Alogna, solista no Concerto nº 4 de Mozart.
A música de A noite dos maias nasceu como trilha sonora para o filme de mesmo nome do diretor Chano Urueta, que se baseou em uma história de Antonio Mediz Bolio sobre uma tribo que seguia vivendo de acordo com a tradição maia até se encontrar com o mundo moderno, representado por um explorador que a encontra.
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A Orquestra Sinfônica Brasileira, por sua vez, vai interpretar no final de semana La tierra sin mal, do compositor argentino Richard Scofano. A obra, um poema sinfônico para orquestra e bandoneon, é inspirada no povo guarani.
“Esta peça é inspirada na história Guarani da terra sem mal. Os guarani ocuparam vastas áreas da América do Sul antes da chegada dos europeus. Sua terra sem mal é um lugar onde tudo prospera, onde não há sofrimento, doença ou morte... onde tudo está em harmonia. Segundo suas crenças, essa terra poderia ser alcançada em vida, desde que se um ser impecável, um bom povo”, explica o compositor sobre a obra.
“Tomei esse mito como testemunho da coragem, resistência e resiliência dos Guarani, mas sobretudo da beleza emocionante e arrebatadora de sua cultura, de seus costumes. Lembro-me de imaginar lugares e situações misteriosas e perigosas toda vez que a busca pela terra sem mal era contada. Florestas densas, pântanos, vastos prados, escuridão e luz, a antecipação, os desafios e perigos, o desconhecido e, sobretudo, os momentos de paz e descanso, os seus povoados, os seus rituais, as suas danças e festas. profunda espiritualidade, o caráter transcendente e redentor de seus mitos, bem como sua simbiose com o meio ambiente.”
A regência será do maestro Lanfranco Marceletti e o próprio compositor atua como solista.
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