“Alma Mahler era conhecida por seu relacionamento com homens famosos, incluindo seu marido, Gustav Mahler.” Assim a Enciclopédia Britânica começa seu verbete sobre Alma Mahler, texto representativo do modo como o mundo da música referiu-se a ela ao longo de boa parte do século XX, deixando de lado seu trabalho como compositora que se dedicou especialmente ao repertório de canções.
Alma Schindler nasceu no dia 31 de agosto de 1879, em Viena. Seu pai era o pintor Emil Schindler e ela cresceu em um ambiente artístico no qual teve contato desde cedo com nomes centrais da criação no final do século XIX, como Gustav Klimt. Ela logo demonstrou interesse pela música e foi aluna de composição de Alexander von Zemlinsky. Ao longo de sua vida, ela seria próxima também de Arnold Schoenberg e Alban Berg, entre outros músicos notáveis do período.
Em 1902, ela se casou com o compositor Gustav Mahler, com quem teve uma relação conturbada. O casamento foi marcado pela exigência do marido de que ela abandonasse a composição e pelo caso extraconjugal dela com o arquiteto Walter Gropius, com quem ela se casaria em 1915, quatro anos após a morte de Mahler. Mais tarde, ela se casaria com o escritor Franz Werfel, com quem se estabeleceu nos Estados Unidos em 1940, após deixar a Europa por conta da Segunda Guerra Mundial.
Alma voltou a compor em 1911, e o primeiro conjunto de obras foi o ciclo Quatro canções. “As Quatro canções revelam uma nova riqueza e pungência na sua escrita, bem como uma paleta harmónica expandida. A atmosfera assustadora de Licht in der Nacht permanece após o término da música, enquanto a rebeldia tonal de Anstrum mostra a consciência de Alma sobre os desenvolvimentos musicais modernos”, escreve o crítico Victor Carr Jr sobre as obras.
“Um retrato de Alma emerge da interligação das influências artísticas do passado e do período e das suas manifestações na sua música. Por exemplo, Alma adorava Richard Wagner, chamando-o de ‘o maior gênio de todos os tempos’. Uma de suas canções começa com o acorde de Tristão”, escreve Diane W. Follet, que se dedicou a pesquisar as obras da compositora.
Ela continua: “Suas canções, talvez até mais do que seus escritos (nos quais a memória seletiva ocasionalmente desempenhava um papel ), revelam a verdadeira natureza de Alma. Elas beiram o melodramático, assim como Alma; são complexos, como foi Alma; eles são contraditórios, assim como Alma. É nas suas canções que a conhecemos, e é através das suas canções que ela assume o seu devido lugar”.
Ainda segundo Follet, “as canções de Alma são cromáticas, dramáticas e eróticas, mas cada gesto musical está a serviço do texto”. “Uma sensibilidade requintada à poesia está presente em todos os momentos. Alma foi atraída pelo misticismo e pela contemplação da vida interior. Para os seus textos, escolheu frequentemente os seus contemporâneos, incluindo os poetas simbolistas. Os temas predominantes são noite versus luz, solidão e amor, e união sexual como comunhão espiritual. A música provocativa de Alma é um veículo adequado para as imagens vívidas desta poesia.”
Roteiro musical
As Quatro canções de Alma Mahler serão apresentadas nos dias 8 e 9 pela Orquestra Sinfônica Municipal, no Theatro Municipal de São Paulo. A regência é de Roberto Minczuk e a soprano Carla Filipcic será a solista. Veja mais detalhes no Roteiro do Site CONCERTO
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