Compositoras em foco: Jennifer Higdon

por Redação CONCERTO 25/03/2025

Jennifer Higdon nasceu em Nova York em 1962 e começou na música sozinha: autodidata, estudou flauta quando tinha 15 anos, após receber como presente da mãe o instrumento, comprado em uma casa de penhores. Aos 18 anos, entrou para a Bowling Green State University e, em seguida, para o Curtis Institute of Music e para a Universidade da Pensilvânia. 

“Eu era a estranha da família, porque era uma casa com muito rock e eu resolvi seguir para a música clássica”, ela lembrou em uma entrevista. Ainda assim, a música pop acabou tendo uma influência em sua trajetória, como ela mesma costuma ressaltar.

“Uma das coisas que acho que aprendi com toda a música pop que ouvia, especialmente quando criança, foi com os Beatles. Lembro que sentia que eles estavam sempre contando uma história com suas músicas. Há algo sobre a necessidade de comunicação que parece imperativo para mim. E sei que para cada artista isso é um pouco diferente. Algumas pessoas estão interessadas em apenas fazer uma declaração. Outras pessoas estão interessadas em fazer uma declaração para um certo grupo de pessoas, e outras pessoas estão interessadas em fazer uma declaração que gostariam que fosse entendida pelo maior número possível de pessoas. E quando olho para trás agora, vejo que tenho uma queda por melodia e ritmo. Parece muito simples, mas acho que pode vir do mundo pop. É contar histórias por meio da música, mesmo que você não tenha palavras.”

Em 2010, Higdon recebeu o Prêmio Pulitzer por seu Concerto para violino, definido como “uma peça profundamente envolvente que combina lirismo fluido com um virtuosismo deslumbrante”. É uma definição que muitas vezes seu trabalho já recebeu. “Seu trabalho tem a distinção de ser ao mesmo tempo complexo, sofisticado, mas facilmente acessível do ponto de vista emocional.”, escreveu um crítico da revista Fanfare. Já no Times de Londres ela foi definida como uma autora “tradicionalmente enraizada, mas imbuída de integridade e frescor”.


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“Acho que o sentido da música é expressar a condição humana e realmente expressar a alma. Eu realmente acredito nisso. A música expressa a condição humana em tantos níveis porque há aquelas peças angustiantes e há aquelas peças que soam como uma alegria extática. Há as peças relaxadas e há as peças tensas. É um reflexo tão perfeito da vida e da alma, e ainda assim as pessoas que estão ouvindo não precisam saber nada sobre isso”, disse ela em uma entrevista. 

“Normalmente, enquanto estou escrevendo, essa é uma das coisas em que penso. Sei que houve muito debate no século XX sobre o fato de que talvez as pessoas não entendam porque não sabem sobre este ou aquele tipo de música, mas devo dizer que minha abordagem é que não acho que você deva saber nada sobre minha música, ou qualquer coisa sobre música em geral, para apreciá-la. Ainda deve ser uma experiência agradável. Mas vejo a música como um espelho. É um espelho de todos, de tudo, da nossa sociedade, das pessoas.”

Higdon já escreveu obras para orquestras como as de Filadélfia, Chicago, Atlanta, Cleveland, entre muitas outras. Sua ópera Cold Mountain, estreada em Santa Fé, ganhou o International Opera Awards. Thomas Hampson, Yuja Wang, Jennifer Koh,Hilary Hahn e Nadja Salerno-Sonnenberg estão entre os artistas que já encomendaram obras a ela. Seus concertos para percussão (2010), viola (2018) e harpa (2020) venceram o Grammy. 

“Penso muito no público. Para mim, a música tem que se comunicar. Isso não significa que é preciso ter uma certa linguagem tonal, mas estou constantemente pensando em qual a maneira mais eficaz de falar com o público. Mas, geralmente, penso primeiro nos artistas, porque sei que terei que passar por eles para transmitir a mensagem ao público. Tendo sido instrumentista e tocado muita música nova, sei o quão difícil é às vezes. Você quer ter certeza de que os músicos estão ganhando algo com todo o trabalho que estão colocando na peça. Todos nós já tocamos peças antes e dissemos: ‘Ugh, acabei de trabalhar 16 horas nisso e, cara, não pareceu que valeu a pena’. Faço o meu melhor para garantir que seja uma experiência musical que valha a pena.”

[A Orquestra Sinfônica do Espírito Santo apresenta, nos dias 26 e 27 de março, o Concerto para oboé de Jennifer Higdon, com solos de Alexandre Barros; veja mais detalhes aqui]

A compositora americana Jennifer Higdon [Divulgação]
A compositora americana Jennifer Higdon [Divulgação]

 

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