Compositoras em foco: Reena Esmail e ‘Perhaps’

por Redação CONCERTO 21/11/2024

Reena Esmail nasceu em Los Angeles em 1983 e começou na música com o sonho de se tornar pianista – plano que acabou sendo deixado de lado, como ela explicou em uma entrevista concedida ao site do National Endownment for the Arts, órgão de política pública para a arte nos Estados Unidos:

“Eu não era uma criança gênio musical. Eu era apenas uma garota muito comum que amava muito música e estava muito animada com isso. Quando eu era criança, eu realmente queria ser pianista concertista, mas na verdade tenho um medo terrível de palco. Eu simplesmente sabia que não conseguiria sustentar uma carreira como artista…”

Esmail é americana de primeira geração. "Minha família é da diáspora indiana. E as pessoas sempre me perguntam: ‘Por que você não entrou na música indiana?' Da mesma forma que a música ocidental surge da tradição cristã, a música indiana surge da tradição hindu, e nenhum dos meus pais é hindu. Minha mãe é na verdade católica. Ela cresceu estudando música ocidental, então quando comecei a manifestar interesse [por música], ela me colocou em aulas de violão, violino, piano."

O contato com a cultura indiana, no entanto, tem sido importante em sua trajetória como autora. “A missão do meu trabalho é reunir as pessoas e começar a conversar. Eu reúno pessoas que provavelmente não interagiriam umas com as outras fora de uma peça musical. Mas essa música permite que elas realmente formem um vínculo umas com as outras, onde conversas mais profundas podem ser realizadas e relacionamentos podem ser construídos”, diz. 

“Vejo o meu trabalho como uma forma de unir pessoas, e isso vem muito da minha própria formação, no sentido de que sou sempre tanto aquela que está dentro quanto a que está fora. Eu trabalho muito com música clássica indiana e ocidental, então tenho formação dupla. Conheço muito sobre os dois tipos de música, mas sempre que estou entre os músicos de um tipo de música, sou sempre o representante do outro.”

Esmail tem em seu catálogo obras orquestrais, de câmara e corais. Ela já escreveu para grupos como o Los Angeles Master Chorale, as sinfônicas de Seattle e Baltimore e o Quarteto Kronos. Suas obras já foram gravadas pelo Imani Winds e pelo quarteto Brooklyn Rider, em discos indicados ao prêmio Grammy. Ela é também diretora artística da Shastra, organização sem fins lucrativos dedicada a promover intercâmbios entre tradições musicais da Índia e do Ocidente.

Perhaps, para violoncelo solo, foi escrita em 2005 para filme da cineasta Heather McCalden, Figures of Speech, ganhando mais tarde, em 2015, uma versão ampliada. 

Sobre a obra, McCalden explica, em texto publicado no site da compositora, que “o título da música de Reena é derivado de um ensaio de Jacques Derrida chamado O amor na amizade – Talvez: o advérbio e o substantivo”. 

“A versão substantiva de 'talvez' foi incluída neste trabalho pois a considero algo maravilhoso, mas, naturalmente, impossível de resumir. De forma extremamente reduzida, o talvez é uma ‘abertura’ que deixa espaço para a incerteza, e espaço para algo que Derrida chama de ‘possíveis impossíveis’ – que são os únicos possíveis reais. ‘Talvez’, tanto como substantivo quanto como advérbio, é uma suspensão que cria espaço para permitir que qualquer coisa aconteça; nesse sentido, o conceito para mim é algo que dá espaço para esperança – algo muito raro nos dias de hoje”, completa.


Roteiro
Perhaps, em sua versão original, será apresentada nesta sexta-feira, 22, em recital do Festival de Música Erudita do Espírito Santo. A intérprete será a violoncelista Liana Meirelles Paes. Veja mais detalhes aqui


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A compositora Reena Esmail [Divulgação]
A compositora Reena Esmail [Divulgação]

 

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