Tania León nasceu em Cuba, onde iniciou seus estudos musicais aos quatro anos de idade. Em uma entrevista, ela contou que desde a infância tinha o desejo de estudar fora do país. “Eu disse à minha família desde os 9 anos que iria morar em Paris, na França. Quando saí de Cuba, a ideia foi minha. Uma família próxima à nossa migrou para Miami, na Flórida. Eles eram católicos e me mandaram um formulário dizendo que iriam me patrocinar.”
Logo após chegar em Miami, León decidiu que precisava ir a Nova York para poder se desenvolver como artista. Chegou à cidade em 1967, e completou sua formação na New York University. Dois anos depois, criou o Arthur Mitchell’s Dance Theater of Harlem, participando da formação de uma escola de música e de uma orquestra.
O projeto a colocou em contato próximo com novos compositores, o que a levou a criar uma outra iniciativa, chamada Composers Now. “Eu não conhecia ainda muita gente, mas aos poucos fomos encomendando obras. Eu tive contato primeiro com Coleridge Taylor Perkinson. Depois, conheci o compositor brasileiro Marlos Nobre, que estava escrevendo um balé. E assim fomos seguindo.”
A obra de Tania León inclui peças de câmara, música orquestral, com destaque para Stride, e uma ópera, Scourge of Hyacinths, baseada em texto do poeta Wole Soyinka. A voz tem importância central em sua trajetória, em ciclos como Atwood songs, a partir de textos da escritora Margareth Atwood.
“O maior prêmio da minha vida é ter sido capaz de manifestar um sonho que começou em um lugar muito pequeno, longe daqui, com pessoas que já não estão mais entre nós. Minha mãe e minha avó já trabalhavam como empregadas domésticas quando tinham apenas oito anos. Minha família depositou tanta esperança em mim e na nova geração, trabalhou para nos dar educação, e quando algo assim acontece é nisso que penso”, disse a compositora em entrevista ao jornal The New York Times em 2021, ao vencer o Prêmio Pulitzer.
Foi nos anos 1980 que ela escreveu Batá. A peça “destaca a vitalidade rítmica da escrita de León”, nas palavras do crítico americano Alex Burns. “Cada seção é composta por estruturas rítmicas complexas, que oferecem efeitos variados à obra e resultam em uma escrita polifônica incrivelmente inteligente para orquestra.”
Já Alegre é uma obra do início dos anos 2000. A peça também explora a questão rítmica como central e, segundo a compositora, brinca com a improvisação para demonstrar a ligação entre música e dança tão presente na cultura latino-americana.
“Sou quem sou, graças à minha herança mestiça e aos meus antepassados da China, Nigéria, França e Espanha. Sou uma cidadã do mundo com uma consciência global e não gosto de ser categorizada por raça, gênero ou nacionalidade. Minha música é minha contribuição para a humanidade. Esta é a minha herança e tenho orgulho dela.”
Roteiro
Alegre e Batá serão apresentadas nos dias 5 e 6 de abril pela Orquestra Sinfônica Municipal, no Theatro Municipal de São Paulo. A regência é da maestra argentina Natalia Salinas. Veja mais detalhes no Roteiro Musical do Site CONCERTO.
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