É um jovial Alexandre Tharaud que atende o telefone e avisa que está muito feliz em tocar pela primeira vez no Rio de Janeiro – depois de duas apresentações em São Paulo, dias 25 e 26, pela temporada da Cultura Artística, ele faz um único recital na cidade nessa quinta, 27, no Theatro Municipal, na Série Dell’Arte. “Vim muitas vezes a São Paulo, mas no Rio será a primeira vez.”
O Rio de Janeiro significa bem mais para o pianista do que um ponto na turnê. “Aos 9 anos, dei meu primeiro recital em Paris e toquei Saudades do Brasil, de Darius Milhaud. Ao final, uma senhora veio me cumprimentar: era Madeleine Milhaud, viúva do compositor. E nos tornamos os melhores amigos, uma ligação que permaneceu até a morte dela.”
Além dessa estreia no embalo de Milhaud, o pianista francês ainda puxa uma lembrança mais pungente: “Aos 12 anos, decidi ser compositor ao ouvir concertos de Villa-Lobos”, conta, citando as Bachianas brasileiras como suas peças favoritas do brasileiro. “Toquei as Bachianas n° 3 há alguns anos em Barcelona, grandiosa, uma inspiração.”
No programa brasileiro, Debussy e Ravel – incluindo uma transcrição do próprio Tharaud para La Valse –, Rameau e Reynaldo Hahn. “Hahn é um venezuelano criado na França, pouco conhecido aqui, e sua peça é um tributo à música de Versailles, o que casa com Rameau. E de Debussy, toco a Hommage a Rameau. Aliás, amo o Barroco, que considero o período-base, formador, para a música pianística.” Ele gravou um disco em 2005 com transcrições para o piano das peças de Rameau.
Fora da música francesa, a Sonata n° 31, op. 110, de Beethoven – uma das três que gravou ano passado pela Erato. “Para mim, as três ultimas sonatas são um ciclo dentro do ciclo. Foram compostas no mesmo momento, são muito modernas e repletas de invenções... e profundamente tristes, como se Beethoven enxergasse ali o seu horizonte final.”
A versatilidade de Tharaud é muito comentada – das incursões na música popular e nas trilhas de cinema à música contemporânea. “Adoro a música contemporânea e tento encomendar pelo menos uma vez a cada dois anos um concerto novo. O problema é o tempo para ensaiar: é preciso ficar 3, 4, 6 meses tocando para uma première, um trabalho muito intenso. Mas acho importante.”
E ri quando ouve a pergunta de sempre, encerrando a entrevista: “Sim, é verdade que não tenho piano em casa. Há 20 anos, vendi meu piano para que não caísse na tentação de fazer música tempo inteiro”. Um vício? “Algo assim.”
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