Programação terá A viúva alegre, Madame Butterfly e Os pescadores de pérolas, além de três balés, concertos sinfônicos e destacadas produções do Festival Oficina de Ópera
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro divulgou nesse fim de março sua programação 2025 com boas surpresas. Ainda que o número de óperas, balés e concertos esteja longe da frequência de outros tempos, há continuidade de boas ideias – como a do Festival Oficina de Ópera, com títulos curtos, alguns inéditos e seu caráter formador de artistas e técnicos. Também é perceptível na programação de títulos e elencos (esses, exclusivamente brasileiros) a escolha de obras com grande aceitação popular, incluindo o repeteco dos balés da dobradinha Tchaikovsky-Marius Petipa em O lago dos cisnes (concepção e adaptação de Jorge Texeira) e O Quebra-nozes, dois megaclássicos das sapatilhas, e a opereta A viúva alegre, de Franz Léhar, que abre o ano lírico em abril, passando pelo hit Carmina burana, cantata de Carl Orff.
Como destaques no ineditismo, a estreia carioca de O afiador de facas, ópera do jovem Piero Schlochauer, vencedora do concurso de composição de ópera do Fórum de Opera, Dança e Música de Concerto; e o balé Frida, em torno da pintora mexicana Frida Kahlo, de Reginaldo Oliveira, nascido na comunidade de Vila do João, no Complexo da Maré, e ex-bailarino do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com uma trajetória de prêmios na Europa. Atualmente, ele é diretor e coreógrafo da Salzburg Landestheater, na Áustria.
A Petrobras continua como patrocinadora das montagens do Municipal, ainda no contrato de 18 meses celebrado ano passado. “Estamos no período do patrocínio que teve valor de R$ 20 milhões. Em paralelo, estamos trabalhando para a renovação”, conta a presidente da Fundação, Clara Paulino. Entre as propostas que o patrocínio 2024-25 cobriu, estão ações de preservação e renovação do prédio histórico: “Revitalizacão do Boulevard [espaço lateral, na rua 13 de Maio], pintura geral do Theatro, troca de carpete da Sala Mário Tavares, manutenção dos sistemas de ar-condicionado do prédio principal e anexo, instalação do sistema de câmeras e revisão do sistema de incêndio, dentre outras ações”, lista Clara.
Uma das questões mais prementes para a montagem das programações continua sendo a composição dos corpos artísticos, já que a realização dos concursos para repor as muitas vagas esbarram no Regime de Recuperação Fiscal do estado. “Temos cerca de 110 vagas abertas”, revela Clara Paulino. Eric Herrero confirma e reforça que buscam ocupar as vagas abertas: “A gente opera no limite. Há muitos programas que mereciam temporadas mais longas, repetições, mas não temos como viabilizar, mesmo com os artistas temporários, com contratos de dois anos." Mesmo assim, Clara Paulino considera necessário celebrar vitórias como as turnês internacionais do balé da casa, o Projeto Escola e a Pós-graduação em Ensino da Dança Clássica.
A presidente também mencionou a intenção de educar a plateia, principalmente depois do confuso embate entre público e a pianista Yuja Wang em 2023, num concerto da Série Dellarte. “Instalamos avisos pelo Theatro e desenvolvemos material para ser entregue ao público pedindo colaboração, além de manter uma vasta equipe de receptivo instruída e atenta para orientar e coibir qualquer falha ou excesso do público”, acrescenta Paulino.
Depois do concerto de abertura, no dia 13 de março, com homenagem a Johann Strauss II nos 200 anos de seu nascimento, o teatro ainda traz, esse mês, um concerto didático dias 28 e 29, com texto do diretor artístico Eric Herrero, obras de compositores consagrados – de Bach a Villa-Lobos – e um time de cantores, atores e bailarinos, numa performance comandada pelos palhaços Goiabada e Marshmellow, vividos pelo bailarino Bruno Fernandes e o ator Ludovico Viana. “Os palhaços, um ranzinza, outro ingênuo, interagem com o público”, conta Herrero. “As crianças são convidadas a reger com o maestro Felipe Prazeres e conhecem os corpos artísticos numa integração que é o próprio espírito de um teatro como o nosso.”
Das três obras líricas em montagem completa esse ano, duas não sobem ao palco carioca há um tempo significativo – Madama Butterfly, de Puccini, desde 2014, e Os pescadores de pérolas, de Bizet, desde 2005. “É importante que novas gerações vejam obras clássicas”, enfatiza Herrero. A viúva alegre terá direção cênica de André Heller-Lopes, regência de Prazeres, coreografia de Rodrigo Neri, cenários de Renato Theobaldo e figurinos de Marcelo Marques; Os pescadores de pérolas, que estreia na comemoração dos 116 anos do Municipal, em julho, homenageia Bizet pelos 150 anos de falecimento, com direção de Julianna Santos, regência de Luiz Fernando Malheiro, cenários e figurinos de Desirée Bastos. Já Madama Butterfly, em novembro, ganha direção cênica de Pedro Salazar, estreante na cidade, direção musical e regência de Alessandro Sangiorgi e figurinos de Marcelo Marques.
O Festival Oficina de Ópera, em setembro, apresenta três títulos no âmbito da formação de técnicos e artistas: Dido e Eneas, de Henry Purcell, com Ensemble OSTM, com direção musical e regência de Jésus Figueiredo. A segunda ópera do Festival é O afiador de facas, de Piero Schlochauer, também com o Ensemble OSTM e a regência de Anderson Alves, regente da Sinfônica de Barra Mansa; e a cantata profana Carmina burana, de Carl Orff, com coro e orquestra do Theatro sob regência e direção musical de Victor Hugo Toro.
Os elencos, formados inteiramente por cantores brasileiros, continuam trazendo novas vozes e nomes consagrados. Nesse ano, estão escalados nas óperas nomes como Gabriella Pace, Fernando Portari, Geilson Santos, Ludmila Bauerfeldt, Homero Velho, Eiko Senda, Giovanni Tristacci, Inacio de Nonno, Licio Bruno, Luciana Bueno; e jovens cantores em ascensão, como Guilherme Moreira e Lara Cavalcanti.
Os três balés do repertório clássico atravessam o ano, dois deles repetecos da programação de 2024 – O lago dos cisnes, em maio, e O quebra-nozes, em dezembro – além de O corsário, em agosto, balé que fechou a temporada 2023, com a música do quarteto Adolphe Adam, Cesare Pugni, Leo Delibes e Riccardo Drigo e coreografia original de Petipa. Em outubro, a criação do carioca Reginaldo Oliveira, Frida, vem à cena, montada pelo seu criador.
Os concertos programados ao longo do ano acontecem em junho, outubro e novembro. Em junho, na série Música Brasileira em Foco, a orquestra da casa, regida por Cláudio Cruz, toca Carlos Gomes, Hekel Tavares e Alberto Nepomuceno. Outubro traz um concerto lírico no âmbito do Ano França-Brasil, com jovens cantores selecionados pela direção da Ópera de Paris e a OSTM sob a regência de Felipe Prazeres. Em novembro, outro repeteco de 2023, o espetáculo Spirituals, com um quinteto de músicos do teatro e os cantores Geilson Santos, Cíntia Fortunato, Jessé Bueno e Fábio Belizallo, com clássicos do gênero.
“Esse concerto foi apresentado nas escadarias do saguão, depois no Salão Assyrio, a pedidos, por causa do tremendo sucesso”, lembra Eric Herrero, que idealizou o espetáculo e encomendou os arranjos ao trompetista e arranjador Jessé Sadoc. “Ano passado, ele foi para a Sala Cecília Meireles e agora chega ao palco do teatro.”
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