Edna D’Oliveira: corpos negros precisam ocupar nossos palcos

por Redação CONCERTO 29/01/2024

Retrospectiva 2023: Edna D’Oliveira, soprano, professora de canto da Fundação Theatro Municipal e Emesp, fonoaudióloga e integrante do Coletivo Ubuntu 

Os ataques contra as políticas de ação afirmativa baseadas no “critério racial” partem de um pressuposto perigoso: “Não pode ocorrer a reparação por atos passados, pois a geração presente não teve participação nas alegadas violações”, e outros argumentos do estilo. O discurso se repete de forma aparentemente inofensiva, conforme nota o Portal Geledés. No âmbito da música erudita no Brasil, ainda encontramos muita resistência com relação a política de “ações afirmativas”. Durante a pandemia, a diversidade, o combate ao racismo e outras pautas importantes foram exaustivamente discutidas e abordadas e pensávamos que teríamos um grande avanço nas políticas dos teatros do Brasil nos anos vindouros. Mas, o que vimos em 2023, foram ações importantes, porém tímidas.

Louvo a iniciativa do Theatro São Pedro de São Paulo, onde os protagonistas da ópera Cinderela (a Cinderela e o Príncipe) eram negros, e o Concurso de Canto Joaquina Lapinha, para negros, pardos e indígenas, o qual obteve um número expressivo de participantes. Mas, num país tão grande, com teatros importantes com festivais e principalmente verbas públicas e privadas, estas ações são ínfimas diante de um número expressivo de profissionais competentes e ávidos por trabalho.

A população negra erudita ainda fica restrita a óperas de cunho racial ou temático. É necessário vermos corpos negros ocupando salas de concertos e óperas o ano inteiro e com repertório diverso. A velha história do negro único ainda existe (este ano será esta ou este negro). Combater o racismo é importante, porém abrir novas frentes de trabalho é necessário. Com a política de cotas, as universidades do Brasil tornaram-se mais públicas. Na UERJ, pioneira no sistema, todo acompanhamento identifica uma média de sucesso equivalente entre cotistas e não-cotistas. No curso de medicina, usado como escudo dos inimigos das cotas, a média de aprovação nas disciplinas é assemelhada, senão idêntica! Fica a dica! 

[Clique aqui para ler outros depoimentos publicados na Retrospectiva 2023 da Revista CONCERTO.]

Edna D'Oliveira

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