Prefeitura corta verbas e Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo deve encerrar atividades

por Redação CONCERTO 19/03/2025

Grupo atuava na cidade há 72 anos e mantinha polos de formação de jovens músicos

A Prefeitura de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, cortou a verba que mantinha, há 72 anos, a Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo, atualmente dirigida pelo maestro Gustavo Müller. Com isso, o grupo, um dos mais antigos do país, deve interromper suas atividades.

A orquestra, formada por 34 músicos, era mantida por um termo de parceria renovado anualmente. A prefeitura havia prometido a renovação para janeiro mas, na última sexta-feira, comunicou o grupo de que a verba de R$ 1,2 milhão não seria repassada. O dinheiro mantinha, além da orquestra, três polos do Núcleo de Orquestras Jovens – ao todo, são 26 e, segundo a prefeitura, os demais continuarão a funcionar. 

Em nota, a prefeitura afirmou ontem que a decisão foi baseada em questões financeiras. “Como há mais de R$ 200 milhões de despesas não pagas de 2024, ο Executivo precisará adequar integralmente o orçamento de 2025. Com isso, todas as secretarias, diretorias e departamentos têm menos dinheiro do que o previsto para desenvolver suas ações”, diz o texto, que sugere que a orquestra deve buscar patrocínios privados para se manter. “O Executivo está à disposição para auxiliar a OSNH na captação de recursos junto à iniciativa privada. Além disso, ressalta que o cenário pode ser alterado para o próximo ano, pois a situação é momentânea devido à escassez de recursos.”

A decisão provocou indignação no meio musical. A Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre emitiu na tarde de ontem um comunicado no qual afirma que a Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo “é uma instituição de valor inestimável, tombada como patrimônio histórico, artístico e cultural do município”. “Assim como a Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo, a Ospa é uma das orquestras mais antigas do pais, com 75 anos. Sabemos, como poucos, como é difícil manter uma orquestra viva ao longo de todo esse tempo. É uma luta continua, na qual a parceria do poder público é fundamental. Mas garantimos que todo o empenho e recompensado são milhares de vidas transformadas pela música todos os anos”, diz o texto, assinado por Gilberto Schwartsmann, presidente da fundação, Simone Adriano, superintendente administrativa, e pelo diretor artístico Manfredo Schmiedt.

“Lamentamos profundamente que uma instituição tão significativa como a Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo se encontre na presente situação. A Ospa se solidariza com todos os músicos, maestros, colaboradores e admiradores da Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo, reconhecendo que a decisão da Prefeitura Municipal de Novo Hamburgo de encerrar a parceria com a instituição vai acarretar uma perda para toda a comunidade, que será privada de um espaço de expressão artística e de formação cultural”, diz ainda o comunicado.

O maestro Evandro Matté, ex-diretor da Sinfônica de Porto Alegre e atual diretor da Orquestra do Theatro São Pedro da capital gaúcha, também se pronunciou, pedindo ao prefeito que voltasse atrás na decisão. “Quando iniciei na regência, a Orquestra de Novo Hamburgo foi minha primeira experiência como regente profissional. Foram dois anos de excelentes concertos, sempre com o teatro lotado e de forma gratuita. Esta orquestra tem 72 anos de história, oportuniza emprego e tudo o que a arte é capaz de gerar. Mesmo países desenvolvidos declarados liberais fazem investimentos pesados em cultura. E a orquestra tem um custo anual extremamente baixo. Nenhum país chegou a um nível elevado de desenvolvimento sem investimento em cultura. Educação nos dá conhecimento, cultura nos dá discernimento. Talvez por isso exista, por algumas pessoas do meio político, implicância com ações culturais. E sempre a desculpa de que há outras prioridades. Enquanto o Brasil não investir em educação e cultura continuará eternamente com o discurso de priorizar determinadas demandas como segurança, por exemplo. Será que investir em ações socioculturais não diminuirá a necessidade de investimento em segurança, em saúde? Sim. Está comprovado em países desenvolvidos. Sr Prefeito de NH, por favor, seja humilde para repensar sua decisão”, escreveu o maestro em suas redes sociais.

Outro a se pronunciar foi o maestro Linus Lerner. “A música não é um luxo, é uma necessidade humana. Estudos mostram que ela reduz o estresse, melhora a saúde mental, fortalece a memória e até impulsiona o desempenho académico das crianças. A Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo não é apenas entretenimento; ela é um instrumento de bem-estar para nossa comunidade, um espaço de aprendizado e inclusão que transforma vidas. Quando um governo corta a cultura, ele não economiza ele empobrece a alma da cidade. Precisamos defender a OSNH porque uma cidade sem música é uma cidade sem identidade, sem emoção e sem futuro”, disse. “Infelizmente, a atual administração municipal pretende extinguir essa orquestra sob a justificativa de contenção de despesas. No entanto, os custos anuais da OSNH são inferiores ao valor necessário para asfaltar um único quilômetro de rua. A pergunta que fica é: quanto vale a nossa cultura? Eliminar a OSNH não é apenas um ataque à música, mas um golpe contra toda a comunidade que valoriza a arte e a educação. Novo Hamburgo sempre se orgulhou de sua tradição cultural, e não podemos permitir que essa história seja apagada por decisões arbitrárias.”

Um abaixo-assinado foi criado pedindo a reversão da decisão.

A Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo [Divulgação]
A Orquestra de Sopros de Novo Hamburgo [Divulgação]

 

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