O secretário especial de Cultura do governo federal Roberto Alvim foi demitido no começo da tarde desta sexta-feira. Um dia antes, ele lançara o Prêmio Nacional das Artes. No vídeo em que fala do projeto, no entanto, ele cita textualmente trecho de discurso do ideólogo nazista Joseph Goebbels, o que despertou enorme reação nas redes sociais e também entre entidades e personalidades políticas do país.
No anúncio, que teve como trilha sonora o prelúdio da ópera Lohengrin, de Richard Wagner, Alvim afirmou que “a arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional”. “Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”, disse. “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande pathos e igualmente imperativa e vinculante às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”, afirmava o discurso de Goeebels.
Logo na manhã desta sexta-feira, o presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia pediu o afastamento do secretário, definindo suas declarações como inaceitáveis, assim como o presidente do Senado, David Alcolumbre.
A Confederação Israelita do Brasil (Conib), por sua vez divulgou comunicado no qual trata como “inaceitável e um sinal assustador”. “Emular a visão do ministro da Propaganda nazista de Hitler é um sinal assustador da sua visão de cultura, que deve ser combatida e contida”, diz o texto. E a Embaixada da Alemanha no Brasil distribuiu nota na qual se pronunciou “contra a banalização ou glorificação” do nazismo.
Alvim defendeu-se afirmando que o uso do trecho havia sido uma coincidência e, mais tarde, acusou sua assessoria de ter agido contra ele ao preparar seu discurso. Afirmou ainda que, apesar da “fonte espúria”, concordava com o texto e que ele representava perfeitamente sua visão a respeito da política cultural do governo.
Em um primeiro momento, o governo federal afirmou que não se manifestaria sobre o caso. Horas depois, no entanto, em nota oficial, a presidência afirmou que, após o discurso, a situação de Alvim passou a ser “insustentável”.
O Prêmio Nacional das Artes prevê patrocínio direto do governo para a criação artística no Brasil, contemplando a ópera (R$ 5,5 milhões para cinco obras); teatro (R$ 6,250 milhões para 25 espetáculos; pintura (R$ 2,5 milhões para 25 exposições); escultura (R$ 2,5 milhões para 25 exposições); literatura (R$ 625 mil para 25 contos inéditos); compositores (R$ 2,5 milhões para 25 autores); e histórias em quadrinhos (R$ 750 mil para 15 histórias).
Não há informações sobre se o prêmio será mantido com a saída de Alvim.
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