Neste dia 7 de setembro, um concerto no Theatro Municipal do Rio de Janeiro vai celebrar o início das transmissões radiofônicas no Brasil. A iniciativa é da Rádio MEC – descendente da primeira emissora brasileira, a Rádio Sociedade, criada por Edgard Roquette-Pinto – com apoio do Municipal. Duas orquestras se apresentam – na primeira parte, a orquestra da casa repete o programa de 1922, com a Protofonia e várias árias de O Guarani, de Carlos Gomes. Na segunda parte, a Sinfônica Nacional da UFF – antiga Orquestra da Rádio MEC – toca o Choros n° 6 de Villa-Lobos. Os ingressos são gratuitos.
A Rádio MEC, que hoje integra a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), vem apresentando ao longo de 2022 uma série de programas sobre a história do rádio no Brasil. Em sua primeira transmissão oficial teve a presença do presidente Epitácio Pessoa. Roquette-Pinto foi uma figura de múltiplos talentos – era médico, antropólogo, etnólogo, escritor. “Ele havia acabado de voltar de uma expedição com Cândido Rondon”, lembra o gerente das rádios MEC, Thiago Regotto. “Ele, junto com Henrique Moritze, teve uma visão do Brasil profundo, e viu as imensas possibilidades do rádio num país como o nosso”.
O rádio foi, efetivamente, decisivo num território de dimensão continental. De fato, foi determinante para transformar a comunicação, a arte e o entretenimento, o jornalismo. “O Brasil era pré-moderno no início dos anos 1920 e ali começamos a entrar na era industrial”, continua Regotto. Um corte, poderia se dizer, semelhante ao da internet na última década do século XX. O rádio representou a chegada da comunicação de massa. “É até difícil pensar num mundo pré-internet, mas o rádio teve uma força de transformação parecida na época”, concorda ele.
O evento de 1922 teve a encenação da ópera completa, logo depois de um discurso do presidente. O centenário da Independência do Brasil estava sedo comemorado com a Exposição Internacional na capital; o toque especial foi a transmissão experimental na data. “A Rio de Janeiro and São Paulo Telephone Company, com a Westinghouse Internacional e a Western Eletric, instalou uma estação transmissora no alto do morro do Corcovado”, conta Thiago. “O governo providenciou 80 receptores, colocados em residências do Rio, de Niterói e de Petrópolis e no recinto da Exposição”. As transmissões regulares começariam, porém, apenas no ano seguinte. “Era o início de algo fabuloso, com Roquette-Pinto doando a emissora, 12 anos depois, para o Ministério da Educação”, aponta ele.
As duas orquestras que lembram, nessa quarta, a festa do centenário e a primeira transmissão de rádio, portanto, têm forte ligação com a Rádio MEC. “A Orquestra Sinfônica Nacional da UFF, que terá nessa quarta regência de Javier Logioia Obe, veio da nossa orquestra, da Rádio MEC, criada por Edino Krieger e Mozart de Araújo no final dos anos 1950 e transferida em 1984 para a universidade”, lembra Thiago.
O programa de 1922 traz o nome do compositor italiano Pietro Mascagni como regente do grupo sinfônico da época (a OSTM seria fundada somente em 1931). Os cantores, integrantes no programa da “Grande Companhia Lyrica do Centenario”, eram Maria Ross (Cecilia), Miguel Fleta (Pery), Giulio Cirino (O Cacique), Mario Pinheiro (D. Antonio) e Luigi Nardi (D. Alvaro). A temporada era dirigida por Walter Mocchi, que seria mais tarde o primeiro marido de Bidu Sayão.
Agora, cantam os solos e duetos de O Guarany Maria Gerk (Cecilia) e Eric Herrero (Pery). A regência será do maestro titular da OSTM, Felipe Prazeres. No intervalo, será lançado o Selo Comemorativo dos Correios “100 anos de Rádio no Brasil”, em parceria com a EBC. O concerto será transmitido ao vivo pelas rádios MEC e Nacional e nas Redes Sociais da EBC.
“E ainda levantamos uma questão: a música clássica, hoje, pouco frequenta as rádios, com exceção das emissoras públicas como a MEC e a Cultura”, lembra Thiago, para encerrar. “O bom é pensar que, nos dias de hoje, rádio e internet acharam um novo caminho enriquecedor, que beneficia a todos nós”.
Serviço
100 Anos do Rádio - OSTM & OSN
Primeira parte - OSTM (Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal)
Trechos da ópera "II Guarany de Carlos Gomes
Abertura
Balada de Cecilia: C'era una volta un principe
Aria de Pery - Vanto io pur superba cuna
Dueto: Sento una forza indomita
Solistas: Maria Gerk (Cecilia) e Eric Herrero (Pery)
Regência: Felipe Prazeres
Segunda parte - OSN (Orquestra Sinfônica Nacional)
Heitor Villa-Lobos
"Choros N. 6
Regência: Javier Logioia Obe
Data: 07 de setembro – quarta-feira
Horário: às 19h
Local: Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Classificação: Livre
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