Estreia ópera vencedora do Concurso de composição do Fórum de Ópera, Dança e Música de concerto

por Nelson Rubens Kunze 24/08/2024

O afiador de facas, de Piero Schlochauer, já teve apresentações em Ribeirão Preto e Guarulhos e segue agora para Santos e Santo André

Uma inédita produção que uniu a Cia Minaz de Ribeirão Preto e as orquestras de Guarulhos, Santos e Santo André, com o apoio do Projeto Ópera da Funarte, viabilizou a estreia da ópera O afiador de facas, do jovem compositor paulistano Piero Schlochauer. Com direção musical e regência de Luís Gustavo Petri, titular da Sinfônica de Santos e da Brasil Jazz Sinfônica, direção artística de Gisele Ganade, diretora da Cia Minaz de Ribeirão Preto, e direção cênica de André Cruz, a obra foi apresentada na sexta-feira, 23/08, no Teatro Padre Bento, sede da GRU Sinfônica. A récita também marcou a abertura da terceira edição do Festival de Ópera de Guarulhos.

Com a ópera O afiador de facas, Piero Schlochauer venceu o Concurso de composição do Fórum Brasileiro de Ópera, Dança e Música de concerto, realizado em 2022. Piero é neto da cantora Heloísa Petri e da cravista e pianista Regina Schlochauer, e filho de Luís Gustavo Petri, que rege a produção. Aos 24 anos, o jovem teve experiências com o jazz, fez curso de trilhas sonoras na Bulgária, estudou na Unesp e é formado em composição pela Faculdade Santa Marcelina. Atualmente vem trabalhando também como assistente de direção cênica em produções do Theatro Municipal de São Paulo e do Theatro São Pedro. O afiador de facas não é a sua primeira incursão no gênero: em 2021, durante a pandemia, Piero foi convidado pelo Festival Amazonas de Ópera e escreveu a ópera on-line moto contínuo (clique aqui para acessar no YouTube).

O afiador de facas tem libreto de Beatriz Porto e do próprio Schlochauer e trata do drama de uma família na convivência com o pai, que sofre de Alzheimer. Não é um tema fácil. É uma ópera sobre a alienação da realidade, sobre o esquecimento e sobre a perda. Igualmente ambiciosa é a abordagem musical de Piero Schlochauer, que tem força e inventividade. 

A partitura foi escrita para quinteto de cordas, quinteto de sopros, trompete e percussão. Na apresentação de ontem em Guarulhos, a parte de cordas foi reforçada com mais instrumentistas. Como já feito em produções anteriores no Teatro Padre Bento, a orquestra fica situada no mezzanino da plateia, portanto atrás e acima dos espectadores. E o resultado é surpreendentemente bom – em razão da sala ser relativamente pequena, cria-se uma junção sonora muito satisfatória da orquestra com as vozes do palco.

Destacou-se no elenco a ótima mezzo soprano Ana Lúcia Benedetti, que fez o papel da esposa. O baixo Anderson Barbosa fez o papel do afiador de facas acometido pela Alzheimer, também com bonita voz e presença. Os filhos foram interpretados pela soprano Isabela Mestriner e pelo barítono Marcos Pinafo, em boas atuações.

Também a orquestra teve boa performance, conduzida com atenção e convicção pelo maestro Petri. Passagens solistas da composição foram bem executadas pelos músicos da GRU Sinfônica.

A linguagem musical de Piero é tonal, mas moderna e com ecos expressionistas. O compositor logra uma narrativa musical consistente e de teatralidade, com uso também de harmonias dissonantes, glissandos e súbitas alterações de dinâmica. 

Interessante é a estrutura da obra, que repete cenas e passagens musicais, qual um doente de Alzheimer. Também há trechos falados. E há soluções cênicas criativas e movimentação dos cantores bem pensadas, que potencializam a força das repetições. A ópera culmina em um concertato com a orquestra e todos os cantores formando uma sofisticada malha sonora.

Com o mesmo elenco e direção, mas com a Sinfônica de Santos, O afiador de facas segue para o Teatro Municipal Braz Cubas, em Santos, para uma récita no dia 29/08. A última apresentação será com a Orquestra Sinfônica de Santo André, no dia 31/08, no Teatro Municipal Maestro Flávio Florence daquela cidade.

É uma ótima oportunidade para se conhecer o trabalho criativo de Piero Schlochauer, um talentoso compositor da novíssima geração. Sim, ópera é uma arte atual e vibrante!

[Edição em 27/08: Diferentemente do publicado no texto original, Piero Schlochauer diplomou-se na Faculdade Santa Marcelina.] 

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“Eu me apaixonei pela ópera”, por Luciana Medeiros (artigo publicado na Revista CONCERTO em julho de 2022, quando Piero Schlochauer venceu o Concurso de Composição do Fórum Brasileiro de Ópera, Dança e Música de concerto) 
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Cena de ‘O afiador de facas’, de Piero Schlochauer (divulgação, Cláudio Frateschi)
Cena de ‘O afiador de facas’, de Piero Schlochauer (divulgação, Cláudio Frateschi)

 

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