Richard Wagner em Zurique
Procurado pela polícia alemã por ter participado dos levantes revolucionários de 1848, Wagner se refugiou na Suíça em 1849. A ideia inicial era ter ido a Paris, mas com a cólera na cidade e a improbabilidade de alguma encomenda, acabou parando em Zurique. E ali permaneceu até sua saída intempestiva nove anos depois, em 1858.
A história é a seguinte. Em 1852, Wagner conheceu o casal Wesendonck, que também havia se mudado para Zurique. Ele, Otto, era um rico comerciante alemão e ela, Mathilde, poetisa e dramaturga. Alguns anos depois, o casal se mudou para a Villa Wesendonck, um grande palacete que haviam mandado construir em um belo parque arborizado. Ali residiram entre os anos de 1857 e 1871.
Amantes das artes, os abastados Wesendonck também patrocinavam o amigo Richard Wagner, para quem Otto construiu uma casa na parte de trás de seu parque, o “Asylum”, que o compositor ocupou durante anos de 1857 e 1858. (Essa casa já não existe mais. Hoje, tem ali outro casarão, também construído no século 19, a Villa Schönberg.)
Tudo ia bem. Tão bem, que Wagner e Mathilde se apaixonaram – situação complicada, afinal Wagner também era casado, com Minna, sua primeira esposa. O romance vazou, o caldo entornou e o compositor teve de deixar Zurique. Sozinho.
Para além dos prazeres e das dores, Mathilde Wesendonck foi um dos gatilhos para uma das maiores óperas de todos os tempos, Tristão e Isolda, inspirada e em parte composta no “Asylum”, atrás do palacete do amor proibido. E, além disso, Mathilde ainda escreveu os versos para o ciclo de canções Wesendonck Lieder, que, salvo engano, é a única partitura que Wagner compôs sobre texto ou libreto que não é de sua própria autoria.
Em seus anos em Zurique, Wagner concebeu e escreveu o libreto completo do Anel do nibelungo (700 páginas manuscritas!), que apresentou em uma leitura pública em 1853. E na cidade também compôs o Ouro do Reno e alguns trechos da Valquíria e do Siegfried.
Se Wagner realizou muita coisa boa em Zurique, também produziu ali um de seus escritos mais lamentáveis, o panfleto antissemita “Das Judentum in der Musik” (O judaísmo na música).
Os suíços são muito orgulhosos de que Zurique tenha sido o berço do Anel. Afirmam até que, se não fosse o episódio Mathilde Wesendonck, seria nessa cidade que teria sido erguido o teatro dos festivais das óperas de Wagner, “e não naquela cidadezinha do interior da Alemanha, qual é mesmo o nome? Ah, sim, Bayreuth...”.
Aliás, o parque da Villa Wesendonck em Zurique fica numa elevação denominada “Grüner Hügel”, colina verde. O nome “Grüner Hügel” Wagner levou para Bayreuth, e ali virou sinônimo do famoso teatro de suas óperas.
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