Seleção de março 2020

por Redação CONCERTO 01/03/2020

 

 

Apresentamos abaixo a seleção de CDs da edição de março da Revista CONCERTO.

DREAMS AND SONGS
Bryn Terfel
– baixo-barítono
Czech Philharmonic Orchestra
Royal Philharmonic Orchestra
Paul Bateman
– regente
Lançamento Deutsche Grammophon. Importado. R$ 62,90

[Reprodução capa]
[Reprodução capa]

Desde sua vitória no Cardiff Singers, nos anos 1990, Bryn Terfel tem sido disputado por todos as grandes casas de ópera do mundo, interessadas em suas interpretações marcantes de papeis de compositores como Mozart e, mais recentemente, Verdi e Wagner. No entanto, quanto mais cresce sua fama, menos o cantor deixa seu País de Gales natal para se apresentar – e, ao lado de grandes papéis como Wotan e Falstaff, dedica-se à música folclórica de sua região e à tradição do teatro musical, que ele celebra neste disco. São peças, diz, que o acompanham desde a infância. Como Do You Love Me, de O violinista no telhado (em que canta ao lado da atriz Emma Thompson), ou Tell My Father (de The Civil War, em dueto com Katherine Jenkins). O disco traz, ainda, um dueto com o tenor Joseph Calleja, em Granada, e clássicos como Smile, I Believe, The Fields of Athenry e Perhaps Love, canção que ficou conhe-cida na interpretação do tenor Plácido Domingo em duo com o compositor e cantor John Denver e que aqui Terfel, com seu timbre escuro e especial, interpreta ao lado de Alfie Boe. 


PROKOFIEV
Sonatas para piano nº 4, 
nº 7 e nº 9
Alexander Melnikov – piano
Lançamento Harmonia Mundi. 
Importado. R$ 125,40

[Reprodução capa]
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A música para piano é central na trajetória do compositor russo Sergei Prokofiev – tanto pelo fato de ele ter sido um pianista quanto porque suas obras para o instrumento o acompanham ao longo de toda a carreira, mostrando seus caminhos como autor e o modo como dialogou com episódios históricos marcantes do século XX. Nesse conjunto, chamam atenção as sonatas. Prokofiev escreveu onze peças do gênero. E o pianista Alexander Melnikov, nome fundamental da nova geração do piano internacional, resolveu embarcar no projeto de gravá-las. O primeiro volume foi celebrado pela crítica. E o mesmo tem acontecido com este segundo grupo de obras, que inclui as Sonatas para piano nº 4, nº 7 e nº 9. São obras desafiadoras e contrastantes entre si. A nº 4 parece perpassada por um clima de nostalgia; a nº 7  foi escrita durante a Segunda Guerra e encontra na dissonância o comentário sobre a época; e a nº 9 é marca-da por profundo lirismo. São, assim, mundos diferentes – e a capacidade de Melnikov de recriar coloridos distintos faz do registro uma referência incontornável entre os intérpretes dessa geração.


DONNE BAROCCHE
Gabriella di Laccio
– soprano
Audacium Baroque Ensemble
Lançamento Drama Música. 
Importado. R$ 41,40

[Reprodução capa]
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Soprano brasileira radicada na Inglaterra, Gabriella di Laccio criou um projeto chamado Donne: Women in Music. O objetivo é resgatar a música e a personalidade de mulheres compositoras ao longo da história, revelando um repertório que ficou esquecido e se filiando ao movimento que da novo espaço às mulheres dentro do universo da música clássica. Donne Barocche se insere nesse processo trazendo obras de autoras barrocas, que ela interpreta com marcante estilo e qualidade musical, ao lado do Audacium Baroque Ensemble, dedicado à música dos séculos XVII e XVIII. Entre as peças selecionadas, estão obras como Lasciatemi qui solo e Chi desia di saper, de Francesca Caccini, musicista que trabalhou para a Família Médici em Florença; Lagrime mie, de Barbara Strozzi, figura central de uma sociedade privada de concertos em Veneza; ou Lover Go and Calm thy Sighs, de Elisabetta de Gambarini, que cantou na estreia de peças de Händel na Inglaterra e também desenvolveu carreira como autora, com obras fascinantes que o trabalho de Gabriella di Laccio agora ajuda a resgatar. Um disco de qualidade musical excepcional e de importância histórica.


LIEDER
Renée Fleming
– soprano
Münchner Philharmoniker
Christian Thielemann
– regente
Hartmut Höll – piano
Lançamento Decca. Importado. R$ 62,90

[Reprodução capa]
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A soprano norte-americana Renée Fleming abandonou os palcos de ópera em 2018, mas deixou claro que a decisão não significaria o fim de sua carreira. Pelo contrário, daria a ela o tempo necessário para se dedicar a outros repertórios. Entre eles, o lied, universo de seu novo e fascinante disco. Nele, Fleming interpreta três autores fundamentais do gênero: Brahms, com uma seleção de canções; Schumann, com o ciclo Frauenliebe und -leben; e Mahler, com o ciclo Rückert-Lieder. O que faz desses compositores mestres da canção é o modo como combinam texto e música, em um jogo de significados sofisticado e natural. E esses mesmos adjetivos podemos usar para definir a interpretação de Fleming. Em Brahms e Schumann, ela é acompanhada pelo grande pianista Hartmut Höll, e juntos eles oferecem leituras de referência de peças como Ständchen ou Mondnacht. Já no ciclo de Mahler, ela tem ao lado a Münchner Philharmoniker e o maestro Christian Thielemann, com quem já havia gravado as Quatro últimas canções de Strauss. E peças como Ich bin der Welt e Mitternacht ganham, com eles, novos e tocantes significados.


TIA AMÉLIA PARA SEMPRE
Hercules Gomes
– piano
Lançamento Selo Sesc. Nacional. R$ 25,00

[Reprodução capa]
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Na música brasileira, o termo “pianeiro” carregou durante certo tempo um sentido pejorativo. Pianeiro era aquele pianista dedicado à música popular, que tocava de ouvido, na maior parte das vezes sem treinamento formal. Nos últimos tempos, no entanto, tem ficado claro que esses artistas foram fundamentais na construção da identidade musical brasileira. Estamos falando de nomes como Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Carolina Cardoso de Menezes e de Tia Amélia. E é a esta última que o pianista Hercules Gomes, um dos mestres do piano brasileiro atual, que tem resgatado esse repertório, dedica seu novo disco. Tia Amélia para sempre traz obras da artista garimpadas em acervos e discos, com ajuda de pesquisadores como Alexandre Dias, criador do Instituto Piano Brasileiro. No encarte do álbum, Gomes conta que “tudo em Tia Amélia me chamou atenção: as composições, o gingado, o virtuosismo, a inteligência ao traduzir no piano a linguagem do choro, o carisma, a alegria”. Pois o pianista poderia ter falado assim de si mesmo, como mostra o disco, um documento sobre a música brasileira, sim, mas também sobre o talento de um intérprete singular. 


CABOCLO
QuintaEssentia
– Quarteto de flautas doces
Lançamento Ars. Importado. R$ 96,20

[Reprodução capa]
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O trabalho do quarteto de flautas doces Quintaessentia é pautado pela curiosidade musical. O grupo tem emprestado sua sonoridade a uma gama ampla de estilos, reinventando compositores e obras conhecidas (vale lembrar uma gravação anterior de A arte da fuga, de Bach). É o que acontece em Caboclo, inteiramente dedicado à música brasileira, com arranjos de Gustavo  de Francisco. A começar pela seleção de peças de Villa-Lobos,  como a Ária das Bachianas brasileiras nº 5, os Choros nº 4 ou A lenda do caboclo. Em seguida, o Quarteto nº 3 de Radamés Gnattali, de quem eles tocam também Lenda, Cantilena e as Serestas nº 1 e nº 2. Ouvir o Mourão de Guerra-Peixe com um conjunto de flautas doces é uma experiência interessante. Assim como conhecer duas obras escritas especialmente para o grupo: A banda de pífaros do Rei Arthur, de Tim Rescala, e Flautata doce, de Daniel Wolff. Um retrato original da música brasileira e da mistura de influências que a define, em fina execução.


PONTEIOS
A música para cordas de Rogério Krieger
Orquestra de Câmara Solistas de Londrina
Lançamento independente. Nacional. R$ 50,00

[Reprodução capa]
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O ponteio é um gênero frequente na música de concerto brasileira inspirada no universo da cultura popular. O termo refere-se ao dedilhar de um instrumento de cordas. E, na obra do compositor curitibano Rogério Krieger, ganhou grande importância. Violinista da Orquestra Sinfônica do Paraná, ele mesmo explica como isso se dá. “Meus ponteios são inspirados nos ponteios de viola. O tocador de viola, depois que ponteia, começa a cantar. Aí vem um tema mais lírico acompanhado pela viola”, diz. É esse universo que ele reinventa em uma série de peças escritas entre 1996 e 2009, que recebem agora a primeira gravação. A interpretação é da Orquestra de Câmara Solistas de Londrina, criada por Evgueni Ratchev, músico búlgaro radicado no Sul do Brasil, responsável por manter viva a chama da música de câmara na região. E o resultado é a descoberta de um aspecto interessante do panorama da música camerística brasileira, tão rica e diversificada.


HARRY CROWL
Quarteto Boulanger

Lançamento Onça Discos. Nacional. R$ 30,00

[Reprodução capa]
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Em uma recente entrevista à Revista CONCERTO, o compositor Harry Crowl falou de uma dualidade que marca sua música, carregada de “um estado de contemplação e uma grande inquietação subliminar”. “É uma relação de aparente calma que se apresenta por andamentos lentos, nos quais em algum momento pode surgir uma movimentação, e essa inquietação pode aparecer de forma progressiva ou abrupta. Nada é aquilo que aparenta ser”, explicou. E a ideia vem à mente na escuta deste disco em que algumas de suas obras são interpretadas pelo Quarteto Boulanger, criado em 2016 por integrantes da Filarmônica de Minas Gerais. Em Folhagens, folhas jogadas pelo chão são levadas por uma tempestade. E em Ao fundo mar ardente, o mar dos poetas  convive com o mar agredido pelos seres humanos. O CD tem ainda peças como Prismas, inspirada no trabalho do cineasta Frederico Fülgraff. Três amostras que fazem de Harry Crowl uma das vozes mais importantes da atual criação musical brasileira.