Seleção de setembro de 2020

por Redação CONCERTO 01/09/2020

HEITOR VILLA-LOBOS
Obras para piano
Flavio Varani – piano
Lançamento Azur Classics. 
Disponível nas plataformas de streaming

[Reprodução capa]
[Reprodução capa]

A obra para piano de Villa-Lobos é um dos grandes patrimônios da música brasileira e testemunho do modo como o instrumento foi central dentro do repertório não apenas do compositor mas do país. E, vista por meio do diálogo entre peças, torna-se também símbolo do caminho percorrido pelo compositor. É esse o trajeto que o pianista brasileiro, radicado há décadas nos Estados Unidos, Flavio Varani percorre neste novo disco, para o qual selecionou quatro criações marcantes. As Danças características africanas foram escritas em 1914, sendo testemunho inicial da busca de Villa-Lobos por se distanciar dos moldes da música europeia; o Choros nº 1, dos anos 1920, representou o embrião do ciclo que definiria o autor, para muitos sua principal criação; e o Ciclo brasileiro e as Bachianas brasileiras, ambos dos anos 1930, se mostraram afirmações artísticas de um autor maduro. No entanto, a leitura que Varani, que foi aluno de Magda Tagliaferro, que por sua vez teve contato próximo com Villa-Lobos, oferece das peças é tudo menos enciclopédica: suas interpretações estão repletas de energia e lirismo, às voltas com as ricas facetas de um compositor capaz de trabalhar tanto nuances quanto grandes arcos.


MENDELSSOHN
Concerto para piano nº 1 – 
Concerto duplo
Ivo Stankov – violino
Lachezar Stankov – piano
Royal Philharmonic Orchestra
Linus Lerner
– regente
Lançamento Meridian. Disponível nas plataformas de streaming

[Reprodução capa]
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Felix Mendelssohn foi figura central na música do século XIX. De um lado, ajudou a divulgar a obra de autores como Bach e de compositores de seu tempo; de outro, deixou uma obra diversificada, da qual conhecemos as sinfonias e o Concerto para violino, pilares do repertório. Há outras obras que mereceriam também destaque: caso de seu Concerto para piano nº 1 e seu Concerto duplo, aqui interpretados por Ivo Stankov e Lachezar Stankov e a Royal Philharmonic Orchestra, comandada pelo maestro brasileiro Linus Lerner. Lerner tem atuação importante no México e nos Estados Unidos e dirige, aqui, a Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte. O Concerto para piano é contemporâneo da Sinfonia italiana e teve como grandes defensores nada menos que Clara Schumann e Franz Liszt, os dois maiores pianistas da época. Já o Concerto duplo propõe um diálogo instigante entre os dois solistas e uma orquestra de cordas, em um clima intimista que Lerner recria com cuidado e sensibilidade. 


BEETHOVEN
Missa em dó maior & 
Abertura Leonora nº 3
Genia Kühmeier – soprano Gerhild Romberger – contralto Maximilian Schmitt – tenor  Luca Pisaroni – baixo-barítono
Symphonie-Orchester und Chor des Bayerischen Rundfunks
Mariss Jansons
– regente
Lançamento BR Klassik. Importado. R$ 111,00
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[Reprodução capa]
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Ao ouvir Missa em dó maior de Beethoven, o escritor E.T.A. Hoffmann falou do que entendeu como “expressão de uma mente serena infantil”. O próprio compositor, por sua vez, falava em gentileza e alegria ao se referir à peça, estreada em 1808. São todas características marcantes da leitura do maestro Mariss Jansons, à frente da Orquestra da Rádio da Bavária. É uma gravação marcada tanto pelo cuidado com que o regente estabelece sua interpretação como pela riqueza de coloridos que nos oferece o time de solistas vocais. E o resultado revela a profundidade que existe na gentileza e na relação com a divindade. O CD traz ainda a Abertura Leonora nº 3, de 1806, uma das peças escritas como introdução à ópera Fidelio, libelo em favor da liberdade e igualdade. É uma peça de caráter expansivo, cuja reafirmação do valor do homem oferece um complemento interessante a Missa. Um disco e uma viagem existencial.


BACH
Motetos BWV 225-230
Chor des Bayerischen Rundfunks & Akademie für Alte Musik Berlin
Lançamento BR Klassik. Importado. R$111,00
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[Reprodução capa]
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A chegada do compositor Johann Sebastian Bach a Leipzig, em 1723, inaugura a última fase de sua carreira, aquela que daria ao mundo da música obras magistrais como cantatas, Missa em si menor e Arte da fuga, até hoje símbolos da genialidade do autor e da própria grandeza da música como linguagem. São desse período também Motetos BWV 225 a BWV 230, escritos nos primeiros anos após a mudança para a cidade. Especialistas no trabalho do compositor costumam ressaltar um aspecto histórico: não foram obras escritas para ser apresentadas durante cerimônias litúrgicas, mas, sim, para ambientes privados. Talvez por isso o acompanhamento instrumental seja bem simples em comparação com outras peças. O que coloca na voz uma riqueza de contrastes impressionante, tornando-se perfeito exemplo da escrita polifônica que Bach evoca nessas obras. Para os intérpretes, portanto, o desafio é exatamente recriar essa variedade de cores e emoções, o que os cantores do Coro da Rádio da Bavária e da Akademie für Alte Musik de Berlim, um dos mais importantes conjuntos do mundo dedicados à música antiga, fazem com naturalidade e maestria.


CAMARGO GUARNIERI
Choros – Volume 1
Davi Graton – violino / Claudia Nascimento – flauta  Olga Kopylova – piano / Alexandre Silvério – fagote
Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Isaac Karabtchevsky
– regente
Lançamento Naxos. Nacional. R$ 39
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[Reprodução capa]
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Camargo Guarnieri entrou para a história da música brasileira como defensor do nacionalismo musical – e suas posições a respeito da questão acabaram se tornando mais famosas que sua própria produção musical. É um erro a ser corrigido, pois suas partituras revelam um autor seminal, que pode figurar entre os grandes nomes de seu tempo (no Brasil e no mundo). Passo fundamental nesse sentido é este primeiro volume dedicado aos Choros do compositor, gravados pela Osesp dentro da série Música do Brasil, do selo Naxos, em parceria com o Ministério das Relações Exteriores. A gravação tem direção musical de Isaac Karabtchevsky e traz como solistas quatro músicos da orquestra: Davi Graton, Claudia Nascimento, Olga Kopylova e Alexandre Silvério, que interpretam obras para violino, flauta, piano e fagote. A variedade do ciclo é prova da maestria de Guarnieri, que recebe aqui interpretações à altura de uma escrita nunca repetitiva, pautada por enorme inventividade. Leia mais sobre o disco e sobre a obra de Camargo Guarnieri nas páginas 8 e 9. Acompanhe terça-feira 8 de setembro, às 19h, live com o professor Paulo de Tarso Salles, nos canais da Osesp nas mídias sociais (Instagram, Facebook e YouTube).