São Paulo: um estado ‘que dança’

por Redação CONCERTO 19/12/2024

Por Patrícia Farhat [Patrícia Farhat é formada pela Casper Líbero e trabalha com relações públicas desde 2004. Atua há mais de 10 anos no mercado de mídias e entretenimento.]

O Estado de São Paulo se destaca como um dos principais centros de incentivo à dança no país, abrigando diversas iniciativas de formação, difusão e criação artística em todo o território, seja para quem quer conhecer, apreciar e até mesmo se profissionalizar. Que tal começar o seu 2025 em movimento, com programas gratuitos oferecidos no estado de São Paulo? Listamos aqui algumas possibilidades, sabendo que muitas outras existem e podem se somar à essas iniciativas. Confiram.

Iniciação e Formação em Dança

Para quem deseja começar na dança ou se especializar há diversas opções que oferecem acesso gratuito, como o Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo (CRDSP) – um equipamento público da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo – que promove oficinas, residências e apresentações, além de proporcionar debates sobre o papel da dança na sociedade. Um espaço relevante para a dança na cidade que reflete uma ótica de política pública no que diz respeito ao seu formato de gestão compartilhada em conjunto com a Cooperativa Paulista de Dança.

Outra iniciativa que merece destaque são as Fábricas de Cultura, um programa da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do estado de São Paulo, gerenciado pela Poiesis e pela Catavento Cultural, Organizações Sociais de Cultura. Criadas com o objetivo de ampliar o conhecimento cultural por meio da interação com a comunidade, as Fábricas oferecem uma programação cultural diversificada. “As Fábricas são espaços de acesso gratuito com foco nas atividades artísticas e culturais voltadas para as comunidades periféricas. Estamos presentes na Zona Norte, Brasilândia, Jaçanã e Vila Nova Cachoeirinha, na Zona Sul, além de Capão Redondo, Jardim São Luís e outros municípios como Diadema, Osasco e Iguape”, conta Suzana Yamauchi, gerente do artístico-pedagógico do Fábricas de Cultura da Poiesis. 

As unidades oferecem cursos gratuitos em diversas áreas da dança, como balé, danças brasileiras, afro-brasileiras, hip hop, K-pop, zumba, além de outras artes como música, circo, teatro, literatura, artes visuais, entre outros. “As atividades acontecem em todas as Fábricas, nos três períodos (manhã, tarde ou noite) e finais de semana, sendo que cada uma tem ao menos cinco cursos de dança”, completa. Ela revela números muito expressivos nessa área: “Vamos imaginar que cada uma das unidades ofereça 150 vagas, só aí já são 1.500 vagas somente em dança”. Vale dizer que no primeiro semestre de 2025, nas Fábricas de Cultura geridas pela Poiesis serão disponibilizadas 8.842 vagas em 409 cursos, atendendo pessoas a partir dos 6 anos. As inscrições presenciais iniciam em 7 de janeiro e as atividades começam em 4 de fevereiro (veja no fim desse texto os links para todos as entidades mencionadas). 

Espetáculo de dança e circo da Fábrica de Cultura Brasilândia (divulgação, Boychandler)
Espetáculo de dança e circo da Fábrica de Cultura Brasilândia (divulgação, Boychandler)

Escolas 100% gratuitas

A São Paulo Escola de Dança, localizada na Rua Mauá, 51 – gerida pela Associação Pró-Dança, uma Organização Social – é outro polo de formação do estado para mais de 1.500 estudantes a cada ano. Neste momento, está com processo seletivo aberto para mais de 400 vagas para o primeiro semestre de 2025, em seus cursos regulares, livres e de extensão. Nos regulares, com duração de dois anos, é possível escolher, até o dia 16 de janeiro, entre Técnicas da Dança com ênfase em Moderno e Contemporâneo ou ênfase na Dança Clássica, Dança e Performance, Produção e Gestão Cultural, Dança e Performance e a nova turma matutina de Teatro Musical. Em relação aos cursos livres, a escola oferece cursos de Danças Urbanas, Dança Contemporânea, Dança Clássica, Jazz Dance e Danças de Salão. Estão abertas as inscrições até dia 10 de janeiro para o curso de Jazz Dance. E para os cursos de extensão cultural, com carga horária de 32h, os cursos de férias estão com as inscrições abertas até dia 15 de janeiro. Ao longo do ano, são mais de vinte diferentes cursos gratuitos em várias linguagens da dança.

Além disso, a São Paulo Escola de Dança possui outros cursos cujos processos seletivos são abertos semestralmente. A instituição também realiza a Jornada Paulista de Dança, uma iniciativa de imersão para dez grupos do estado de São Paulo. Os grupos recebem uma verba de participação, alimentação e transporte para uma imersão de uma semana na Escola. Além disso, há residências artísticas remuneradas para 4 grupos da cena paulista. 

Curso da São Paulo Escola de Dança (divulgação, Camilo Barbosa)
Curso da São Paulo Escola de Dança (divulgação, Camilo Barbosa)

Com curso de formação, a Escola de Dança de São Paulo, inaugurada em 2 de maio de 1940 e mantida pela prefeitura municipal via Fundação Theatro Municipal, também é uma opção, sobretudo, para aqueles que desejam fazer uma formação desde pequenos. A Escola oferece uma formação continuada de nove anos com base em dança clássica e contemporânea e aulas complementares de danças brasileiras, afro-brasileiras, música, história da dança, dança à caráter, capoeira, entre outras. A seleção para o Programa de Formação se dá por classificação proveniente de prova de habilidades específicas e avaliação física/psicomotora. Localizada na Praça das Artes, possui dois polos regionais, na Zona Leste e Sul, para expandir sua atuação.

A Escola de Dança de São Paulo também oferece cursos livres, cujas inscrições estão abertas até dia 20 de janeiro de 2025, com aulas de dança contemporânea, balé clássico, movimento integrado, dança moderna, danças brasileiras, capoeira, ioga, iniciação à dança e piano para balé. “São 24 cursos para a comunidade, alguns iniciantes, outros para pessoas que têm experiência e outros para profissionais. Os cursos livres têm uma média de setecentos alunos por semestre a partir de 16 anos. Esse acesso é importante e acreditamos que também traz a possibilidade da dança para todos”, aponta Cristiana de Souza, coordenadora artística da Escola de Dança de São Paulo. 

Iniciativas semelhantes também se ampliam para fora da cidade de São Paulo, como é o caso da Escola Municipal de Bailado de Santos, da Escola Livre da Dança, de Santo André, do Conservatório Municipal de Cubatão, Escola Municipal de Bailado de Ourinhos e Escola de Bailados de Caraguatatuba, entre outras.

A São Paulo Escola de Teatro, sob gestão da Organização Social Associação dos Artistas Amigos da Praça (ADAAP), também oferece cursos de extensão de dança gratuitos. No site da instituição é possível conhecer os nomes e os editais de seleção. 

O Instituto Baccarelli, uma Organização da Sociedade Civil de São Paulo reconhecida por seu trabalho de transformação social por meio da música e da dança, atua em Heliópolis e em 12 Centros Educacionais Unificados (CEUs) da cidade de São Paulo, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e, em 2022, firmou uma parceria com o Grupo Raça – escola de dança privada – para desenvolver danças gratuitas nas unidades. Inicialmente, foram oferecidas quatro modalidades – balé clássico, jazz, danças urbanas e dance mix – porém a grade foi expandida com base nas demandas de cada território, oferecendo estilos como funk, dança do ventre, dança cigana, forró e danças populares brasileiras. As aulas atendem todas as faixas etárias, desde crianças de dois anos até adultos. 

“O projeto não só promove a dança na periferia, mas também capacita professores locais, gerando empregos e oferecendo oportunidades de desenvolvimento profissional. Além das 12 unidades dos CEUs – Centro Leste (Arthur Alvim, ⁠Carrão / Tatuapé, Vila Prudente/Vila Alpina), Leste (Parque do Carmo, ⁠Barro Branco / Cidade Tiradentes, São Pedro / José Bonifácio, ⁠São Miguel), Norte / Nordeste (Tremembé, Parque Novo Mundo) e Noroeste (Freguesia do Ó, Pinheirinho, Taipas) – o projeto também atua no Instituto Baccarelli, atendendo crianças da comunidade de Heliópolis”, comenta Cristina Morales, codiretora do projeto Raça nos CEUs. Para participar, o interessado pode ir até uma dessas 12 unidades de CEUs, escolher a modalidade, conferir a grade horária, a disponibilidade de vaga e efetuar a inscrição. 

Fomento e projetos

Artistas em busca de apoio para criação e desenvolvimento de projetos de dança também encontram em São Paulo uma rede sólida de apoio. Programas como o Fomento à Dança da Cidade de São Paulo, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura, fornecem recursos financeiros para a produção e circulação de obras, fortalecendo a dança como um dos principais eixos da linguagem cultural na cidade, assim como os editais do Proac (Programa de Ação Cultural), da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas, que também oferecem suporte para criação de espetáculos inéditos e formação avançada de coreógrafos e intérpretes.

Além disso, o Programa de Qualificação em Artes – Dança que integra o CULTSP PRO – um Programa da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo gerido pela Organização Social de Cultura IDG Instituto de Desenvolvimento e Gestão –, tem “como ação central a orientação artística a grupos, companhias ou coletivos de teatro e de dança no interior, litoral e região metropolitana de São Paulo, exceto capital. A orientação artística visa a valorização desses grupos, fomentando a formação de público e a vida cultural das comunidades, fortalecendo assim a produção artística local”, pontua Cássia Navas, coordenadora do programa. 

A partir de uma avaliação em permanência, grupos são orientados tendo como base seus projetos artísticos em ações de orientação direta, de circulação, orientação piloto (grupos em formação) e a futura “grupo orienta grupo” (quando uma companhia já orientada orienta uma companhia em formação). O programa voltado à dança existe desde 2013 e já atendeu 77 grupos/companhias com mais de cinquenta orientadores, em 42 cidades. Vale dizer que chamamentos públicos para novos grupos e orientadores para 2025 devem ser publicados no final de janeiro e/ou início de fevereiro no site. 

Dança nos palcos

Não é apenas na formação que São Paulo se destaca. O estado também se transforma em um grande palco onde a diversidade da dança é exibida em suas múltiplas formas e estilos. Companhias estaduais e municipais proporcionam ao público apresentações de qualidade, muitas delas abertas ao público ou com ingressos a preços populares.

A São Paulo Companhia de Dança, gerida pela Associação Pró-Dança, é reconhecida internacionalmente como um dos grandes exemplos de excelência artística e inovação. Criada em 2008 pelo governo do estado de São Paulo, a companhia se destaca pela versatilidade de seu repertório, que inclui desde remontagens de obras icônicas da dança mundial até criações exclusivas de renomados coreógrafos e jovens talentos. Sob a direção artística de Inês Bogéa, realiza uma média de 100 apresentações anuais no Brasil e no exterior, conquistando a crítica e o público como uma das mais prestigiadas companhias da América Latina. Além do palco, a SPCD desenvolve ações educativas e projetos dedicados à preservação e difusão da memória da dança, mantendo viva essa herança cultural para as novas gerações.

Composta por uma equipe diversa de 65 profissionais, entre bailarinos, ensaiadores, técnicos, produtores e outros colaboradores, a São Paulo Companhia de Dança é um espaço dinâmico de criação, produção, memória e formação de público, impactando pessoas de diferentes realidades e idades. “Dos grandes clássicos, que ressoam através do tempo, às obras contemporâneas, que dialogam com o presente em que vivemos, a São Paulo Companhia de Dança percorre grandes e pequenos palcos, conectando-se a diversos públicos e levando a poesia da dança a inúmeras cidades do estado de São Paulo, do Brasil e do mundo”, comenta Inês Bogéa.

O lago dos cisnes, produção da São Companhia de Dança (divulgação, Marcelo Machado)
São Paulo Companhia de Dança em O Lago dos Cisnes (divulgação, Marcelo Machado)

Da mesma forma, o Balé da Cidade de São Paulo, gerido pela Organização Social Sustenidos, proporciona espaços de formação entre bailarinos, coreógrafos e público. Desde julho de 2023 sob direção de Alejandro Ahmed, a Companhia tem apostado em “outros modos de pensar dança, de definir coreografia e de estabelecer treinamentos para composições em dança”, como revela Ahmed. “Temos um planejamento para que a gente abra audições para bailarinos por tempo determinado, abrindo também convites para bailarinos para fazer trabalhos específicos dentro do Balé da Cidade com técnicas diversas. Por exemplo, agora, no Requiem SP, que estreia em março de 2025 junto à Orquestra Sinfônica Municipal e ao Coral Paulistano, temos uma bailarina convidada da técnica Crump, das danças urbanas. O Balé da Cidade de São Paulo se vê como uma companhia pública de repertório que tem a responsabilidade de ofertar à cidade de São Paulo e ao Brasil, tanto artisticamente quanto tecnicamente, possibilidades de entendimentos de dança, que pensem a dança como uma tecnologia de comportamento além da linguagem”, completa o diretor.

Espetáculo do Balé da Cidade de São Paulo (divulgação, Rafael Salvador)
Balé da Cidade de São Paulo em Piedad Salvaje (divulgação, Rafael Salvador)

Entre exemplos de companhias que atuam com verba pública – seja municipal ou estadual – é possível destacar o trabalho da Cia. Jovem de São José dos Campos, gerida pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo, do Balé da Cidade de Taubaté, administrado pela Secretaria Municipal de Cultura de Taubaté, da Cia. de Dança do Campo Limpo Paulista, vinculada à Secretaria Municipal de Cultura de Campo Limpo Paulista, da Cia. Jovem de Dança de Jundiaí, vinculado à Unidade de Gestão de Cultura da Prefeitura de Jundiaí, entre outros.  

“Aqui temos três projetos na área da dança: as Oficinas Culturais, a Escola de Bailados e o Corpo de Baile de Caraguatatuba, criado em 2001. As Oficinas Culturais com aulas de jazz, sapateado, flamenco, estilo livre, balé e dança contemporânea são disponibilizadas gratuitamente para a população, basta realizar uma inscrição e ser direcionado para o polo mais próximo de sua residência. Os polos geralmente são descentralizados, localizados nas periferias da cidade. Já a Escola de Bailados é um caminho mais pré-profissionalizante. Quem se inscreve passa por uma audição para ingressar e, a partir daí, recebe um estudo direcionado para desenvolver sua dança e alcançar um nível profissional”, revela Kaiky Martins, diretor artístico e coreógrafo do Corpo de Baile de Caraguatatuba. “O Corpo de Baile é a última etapa. Trata-se do grupo que representa a cidade e o município. Há uma audição anual e, ao ser aprovado, você passa a integrar o grupo e recebe uma bolsa artística como incentivo para continuar se aprimorando e participando das atividades do grupo.”

Um pouco mais “nova”, a Companhia Estável de Dança de Bauru, criada em 2012, é um projeto de lei criado pela prefeitura municipal (assim como a Cia. Estável de Dança de Piracicaba (Cedan), criada em 2008). “Desde a sua formação a Companhia tem objetivos muito específicos, como a formação de jovens bailarinos e proporcionar espetáculos de qualidade gratuitos a toda a comunidade de Bauru. A lei da Companhia pressupõe 16 bailarinos bolsistas entre 16 e 21 anos, que recebem uma bolsa de estudos em dinheiro, vale transporte e material de trabalho (sapatilhas de meia ponta, sapatilha de ponta, collant, meia calça, figurinos, entre outros). O grupo tem 28 coreografias no repertório”, conta o diretor artístico Sivaldo Camargo. 

Apresentação da Companhia Estável de Dança de Bauru (divulgação, Loriza Lacerda)
Cia Estável de Bauru em Carmen (divulgação, Loriza Lacerda)

Festivais e difusão cultural

Os festivais também desempenham um papel fundamental na difusão cultural. O Festival Revelando São Paulo, que desde 2017 conta com gestão e produção da Associação Paulista dos Amigos da Arte, por exemplo, promove a valorização das danças tradicionais e culturais regionais, oferecendo ao público uma verdadeira imersão no patrimônio imaterial do estado. Ele é considerado o maior festival de economia criativa e cultura tradicional do estado de São Paulo. 

Vale mencionar a Mostra Internacional de Dança de São Paulo (MID-SP), realizada pela Associação Pró-Dança e Itaú Cultural, que aconteceu em agosto de 2024 e deve ter uma nova edição em 2025, com espetáculos, fórum, exibição de videodanças, mesa de debates gratuita e a Semana Paulista de Dança, realizada pelo Masp (Museu de Arte de São Paulo), que em 2025, chegará a sua sétima edição, também com ações 100% gratuitas. 

Tanto o Teatro Sérgio Cardoso, quanto o Teatro Estadual de Araras, geridos pela Associação Paulista Amigos da Arte, são palco de uma programação diversificada de espetáculos gratuitos.

Com tantas iniciativas que proporcionam um ambiente inclusivo e acessível para todos, não existe “desculpa para ficar parado”. Em 2025, a dança pode fazer parte do seu movimento. 

Ficam aqui, muitos convites para dançar!

Clique sobre cada um dos projetos para saber mais 

Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo (CRDSP)
Fábricas de Cultura
São Paulo Escola de Dança 
Escola de Dança de São Paulo 
São Paulo Escola de Teatro 
Instituto Baccarelli 
Programa de Qualificação em Artes – Dança 
São Paulo Cia. de Dança 
Balé da Cidade de São Paulo 
Corpo de Baile de Caraguatatuba
Cia. Estável de Bauru
Festival Revelando São Paulo
Mostra Internacional de Dança de São Paulo 
Semana Paulista de Dança

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