A Academia Brasileira de Música foi fundada num 14 de julho, na melhor tradição da francofilia na área do pensamento e da arte. Era 1945 e Eurico Nogueira França noticiava no Correio da Manhã: “por iniciativa dos maestros Heitor Villa-Lobos e Oscar Lorenzo Fernandes, a Academia congregará as figuras credenciadas para estudar e debater os assuntos atinentes à vida profissional no plano da cultura e da criação artística”. O crítico levantava já no primeiro parágrafo de sua coluna a objeção à existência “meramente decorativa das academias em geral”, mas seguia afirmando que “não é menos verdade que no Brasil a classe musical necessita de fortes laços associativos” e ainda que “caberá à Academia representar a música brasileira não só como organismo consultivo, mas também favorecendo e promovendo o intercâmbio com os demais países”.
Em 2019, a ABM festeja os seus 74 anos, presidida pelo compositor João Guilherme Ripper – seu 15º dirigente, desde Villa-Lobos, que esteve à frente da instituição da fundação até novembro de 1959, quando faleceu. Na sexta-feira, dia 12, a Sala Cecília Meireles é palco da celebração de aniversário, com a Orquestra Sinfônica Nacional sob a batuta de Tobias Volkmann. O programa começa com Villa-Lobos – a Odisseia de Uma Raça; homenageia Ricardo Tacuchian, que completa 80 anos, com a primeira audição brasileira de sua Sinfonia das florestas; e lembra o centenário de Claudio Santoro com a execução da Sinfonia n° 6 do compositor amazonense.
“Cuidamos da música brasileira de concerto, esse patrimônio imaterial”, define Ripper, usando o termo que não existia 74 anos atrás, mas que define a intenção primária do grupo fundador. A ABM tem ampliado sua ação, financiada pelos direitos autorais de Villa-Lobos – 50% do recolhimento, a princípio, e 100% a partir de 1985, quando faleceu o último herdeiro de Lucília Villa-Lobos. Esse financiamento acaba daqui a dez anos, quando a obra de Villa passa a domínio público.
“Estamos trabalhando para transformar o Banco de Partituras criado por Edino Krieger em uma editora, ou seja, sair do modo passivo, em que o músico ou a instituição nos procura, para uma atuação dinâmica, com propósito comercial, ampliando a penetração da nossa música no repertório de orquestras e grupos no Brasil e no exterior”, aponta o presidente. “Também continuamos a estabelecer parcerias como a que firmamos com o Ministério das Relações Exteriores, com revisão crítica e confecção dos materiais de orquestra para a gravação de 32 CDs com a Osesp, a Filarmônica de Minas e a de Goiás.”
A Academia também atua na recuperação de acervos – como o de José Siqueira, trabalho dividido com a Escola de Música da UFRJ. Ripper não enxerga a mobilização da classe musical como um objetivo do dia a dia da ABM. “Nós reunimos interessados a partir de temas, como foi o caso da Bienal de Música Brasileira Contemporânea em 2017 ou as questões das orquestras cariocas”, diz. “E damos apoio institucional a iniciativas como, recentemente, a do Teatro Amazonas, na participação do Brasil na Ópera Latinoamerica, a OLA, para que haja uma injeção de recursos na produção do gênero.”
No dia 12, será também entregue a Liduíno Pitombeira a Medalha Villa-Lobos. A Sinfonia das florestas tem a participação da soprano Marianna Lima, cantando poemas de Thiago de Mello e Gerson Valle musicados por Tacuchian.
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