Com curadoria de Camila Fresca e Marici Salomão, a série Diálogos prismados: a voz e a arte das mulheres acontece na Praça das Artes e acompanha a estreia da ópera Prism no Theatro Municipal de São Paulo
A estreia da ópera Prism, de Ellen Reid, no Theatro Municipal de São Paulo, será acompanhada, esta semana, de um ciclo de conversas que tem como tema o espaço para as mulheres no mundo das artes. As mesas acontecem nos dias 6 e 7, na Praça das Artes, com curadoria da jornalista, pesquisadora e crítica musical Camila Fresca e da dramaturga Marici Salomão, da SP Escola de Teatro.
“Prism foi escrita por duas mulheres jovens, que estrearam com essa obra no gênero operístico. E o Theatro Municipal só tinha feito até então uma ópera composta por uma mulher, Fata Morgana, de Jocy de Oliveira. Então, o teatro resolveu discutir esse tema, dando inclusive a cara a bater por nunca ter olhado para essa questão”, conta Fresca. “Chamaram então alguém da área da música e uma dramaturga para fazer a curadoria, unindo assim música e drama.”
A abertura, no dia 6, será feita pela secretária adjunta municipal de Cultura Regina Silvia Pacheco, pela maestrina Maíra Ferreira, regente assistente do Coral Paulistano, e pelas duas curadoras. Em seguida, duas mesas. Às 14h30, a cantora Anna Maria Kieffer dramaturga Silvia Gomez e a cientista social Ana Paula Cavalcanti Simioni conversam com mediação de Claudia Toni; e, às 16h45, a diretora teatral Marcia Zanelatto media conversa entre a dramaturga Maria Shu e a maestrina Vania Pajares.
“Na primeira mesa o tema são as mulheres criadoras, ou seja, queremos discutir a participação restrita das mulheres na criação. A Anna Maria Kieffer, por exemplo, vai falar sobre seu trabalho de colaboração como intérprete na criação de obras e como essa atividade é pouco respeitada. A Silvia Gomez é uma jovem dramaturga que está em cartaz em São Paulo hoje e a Ana Paula, pesquisadora do Instituto de Estudos Brasileiros da USP, vai mostrar como Tarsila do Amaral e Anita Malfatti são deixadas em segundo plano na história do modernismo, que coloca o foco sempre em homens como Mario e Oswald de Andrade”, explica Fresca.
Já na segunda mesa, o tema é o empreendedorismo. “Aqui o objetivo é mostrar como as mulheres precisam abrir caminhos e enfrentar as dificuldades para encontrar espaço para trabalhar. A Vânia Pajares, por exemplo, escolheu a regência, uma área especialmente difícil. E. nesse cenário, migrou para o universo dos musicais, tornando-se a regente dos principais espetáculos do gênero apresentados na cidade”, diz a curadora.
No dia 7, às 14 horas, será realizada a mesa Mulheres e Resistência, com a soprano Edna D’Oliveira, a diretora e dramaturga trans Luh Maza, a mezzo soprano Luisa Francesconi e a atriz Janaína Leite (a medição é de Ligiana Costa). “Se para as mulheres já é difícil encontrar espaço, imagine então para pessoas que vivem outros fatores de discriminação”, comenta Fresca. “Então convidamos a Edna, uma cantora negra, que vai falar de todas as dificuldades que enfrentou desde a época da escola e das muitas vezes em que ouviu que, apesar da voz, não ganharia o papel por não ter o ‘perfil’ ideal. Luh Mazza foi uma das primeiras dramaturgas trans do teatro brasileiro e vai falar sobre isso. E a Luisa, que pesquisa os papeis masculinos vividos por cantoras nas óperas, vai relembrar como ao longo da história as mulheres foram proibidas de cantar.”
O encerramento, às 16h30, será com uma conversa com Ellen Reid e a libretista Roxie Perkins, autoras de Prism, da qual vão participar também a compositora Valéria Bonafé e a diretora Lívia Sabag. “Ficou muito claro para mim a urgência e a importância desse tema para todos os envolvidos na produção de Prism aqui no Brasil e fico feliz que a ópera tenha despertado a realização do simpósio”, diz ela ao Site CONCERTO.
Para Camila Fresca, o objetivo é oferecer um panorama das dificuldades enfrentadas pelas mulheres – mas não só. “Queremos mostrar também as perspectivas para as mulheres nas artes. Espero que todas as participantes falem das dificuldades, mas também do modo como venceram e das possibilidades que se apresentam à nossa frente.”
Para participar das mesas, os interessados precisam apenas se inscrever clicando aqui.
Leia mais
Notícias Ópera ‘Prism’, de Ellen Reid, estreia no Theatro Municipal de São Paulo
Revista CONCERTO ‘Prism’: música como gesto político, por João Marcos Coelho