O sonho de infância da ucraniana Alla Pavlova era ser bailarina. Mas a vida a levou em outras direções e a música assumiu protagonismo. Sem arrependimentos. “Música é a minha vida. A música é muito mais do que apenas fantasia. A música é uma substância divina”, disse a compositora em uma entrevista à televisão americana.
Pavlova nasceu em Vinnitsa, na Ucrânia, onde viveu até 1961, quando a família se mudou para Moscou. Lá, ela estudou no Instituto de Música Ippolitov–Ivanov e, em seguida, na Academia de Música Gnesin. Entre 1983 e 1986, ela viveu na Bulgária, onde trabalhou com a União de Compositores Búlgaros e na Ópera Nacional de Sofia. De volta a Moscou, dedicou-se ao trabalho acadêmico, até que, em 1990, mudou-se para Nova York, nos EUA.
Sua obra é vasta, e inclui, por exemplo, onze sinfonias, concertos para instrumentos solistas e orquestra, música de câmara e um balé, Sulamith, baseado em uma história de 1908 do escritor russo Alexandre Kuprin sobre o amor do rei Salomão por Sulamita, uma serva de sua vinha.
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Em meio a seu catálogo, diferentes influências são marcantes. Sua Elegia para piano e orquestra de cordas, de 1998, por exemplo, começa com um tema sombrio de piano, e aos poucos revela uma ligação com o passado de compositores russos, como Rachmaninov e Prokofiev. Mas é notável em especial o modo como ela assume diferentes propostas de obra para obra.
Suas sinfonias são o exemplo bem acabado disso. A Sinfonia nº 1, de 1994, foi escrita após uma visita à Rússia, com uma melancolia que evoca o passado russo. A instrumentação pede onze músicos, com ênfase para a presença da percussão em uma escrita que parte da dissonância. “Pavlova pinta delicadamente um mundo sonoro preciso, mas também de alguma forma suspenso no sonho”, escreveu Matthew Shorter sobre a peça na BBC Music Magazine. Já a Sinfonia nº 3, diz Shorter, “poderia ter sido escrita por outra pessoa” e é uma espécie de pastiche do século XIX, inspirado num monumento a Joana D’Arc.
De poucas palavras, Pavlova já definiu seu processo criativo como “simples”. “A música vem, eu a coloca no papel. Mais tarde eu a toco e faço as correções necessárias”, ela diz, reforçando que criatividade não define o artista. “A criatividade é a ferramenta da existência. Animais são criativos, ladrões de banco são criativos. Ela sozinha não forma escritores e compositores.”
Roteiro
A Orquestra Jovem do Estado apresenta no dia 23 de fevereiro a obra Old New York Nostalgia Suite, em sua versão para orquestra: há outras para formações de câmara. O concerto abre a temporada da orquestra (veja mais informações aqui).
![A compositora Anna Pavlova vive hoje em Nova York [Divulgação/American Composers Alliance]](/sites/default/files/inline-images/w-Alla_Pavlova_Photo.jpg)
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