O Instituto Piano Brasileiro acaba de disponibilizar em suas redes uma preciosidade: a integral das sonatas para piano de Beethoven interpretadas ao vivo pelo pianista Fritz Jank. Também foram publicadas gravações do artista do Concerto para piano nº 2 de Brahms e do Concerto para piano de Benjamin Britten.
Jank (1910-1970) nasceu na Alemanha e, nos anos 1930, mudou-se para São Paulo, onde faria história. Em 1941, convidado pela Sociedade de Cultura Artística, foi o primeiro pianista a executar no Brasil a integral das sonatas. E o ciclo acabou sendo repetido em outros teatros e outras cidades do país nos anos seguintes.
O registro digitalizado pelo Instituto Piano Brasileiro foi feito ao vivo em sete recitais no Theatro Municipal de São Paulo em 1962. “Este é o primeiro áudio que vem à tona de um único pianista brasileiro tocando ao vivo as 32 sonatas, embora outros como Jacques Klein também tenham realizado esta proeza (em 2020, Sergio Monteiro iria tocar o ciclo completo, mas o projeto foi adiado devido à pandemia)”, diz Alexandre Dias, criador e diretor do IPB, que chama atenção para o programa do sexto recital da série:
“É um verdadeiro marco na história pianística brasileira. Jank interpretou nada menos do que as sonatas Tempestade, Hammerklavier, À Thérèse e Patética. A Sonata Hammerklavier por si só já é um dos maiores desafios do repertório universal, com quase 45 minutos de duração. Tocá-la já ocupa quase um recital inteiro e, portanto, o normal seria ouvi-la junto com no máximo uma outra sonata menor; mas Jank interpreta quatro sonatas, resultando em quase duas horas de música, terminando com quatro bis. O recital, que começou às 21h, provavelmente deve ter terminado perto de meia-noite, com o intervalo”, explica.
Dias conta que a equipe do IPB conferiu “minuciosamente a rotação de todas as pistas das fitas, corrigindo os volumes, e fazendo todas as edições necessárias, preservando a ordem original em que as sonatas foram tocadas em cada recital”. “Também destrinchamos cada um dos movimentos das sonatas, separando-os com as respectivas minutagens clicáveis nas descrições de cada vídeo, para que se tornasse fácil manusear os áudios, e identificamos todos os bis presentes em cada recital.”
“Agradecemos imensamente ao maestro Eduardo Ostergren e à cravista Helena Jank, familiares de Fritz Jank, que doaram as fitas-rolo originais ao IPB para que fossem digitalizadas e divulgadas em nosso canal. Também agradecemos a Adalberto Carvalho pelo precioso trabalho de transferência digital e a Lautaro Wlasenkov, que nos auxiliou com o áudio da fita nº 2, que estava particularmente comprometido, possibilitando sua inclusão no ciclo”, afirma Dias.
Os concertos de Brahms e Britten também estavam no acervo de Ostergren e Jank. “O segundo de Brahms era uma especialidade de Jank, mas até o momento não se conhecia nenhuma gravação sua. A presente gravação estava no acervo pessoal do pianista e foi gravada do áudio da TV, do concerto realizado no dia 15/07/1962 no Theatro Municipal de São Paulo, numa manhã de domingo, transmitida pela TV Tupi. Não temos palavras para descrever o que ouvimos neste áudio. Trata-se de uma das interpretações mais impressionantes que já escutamos, equiparável à dos maiores pianistas da história”, diz Dias.
A orquestra é a Sinfônica Municipal sob regência de Souza Lima. Já no Britten, em registro de 1967, a orquestra é a Filarmônica de São Paulo, sob regência de Simon Blech. Para ouvir todas as gravações, basta acessar o canal do Instituto Piano Brasileiro no YouTube (clique aqui).
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