O compositor Almeida Prado faria aniversário neste dia 8 de fevereiro. Completaria 79 anos. E, na mesma semana, uma importante homenagem vem sendo gestada. Desde ontem, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo está às voltas com sua Sinfonia nº 2 – Dos Orixás. Ela será apresentada na quinta e na sexta na Sala São Paulo e, até o início da próxima semana, gravada para o selo Naxos.
Os concertos serão regidos pelo maestro britânico Neil Thomson, diretor da Filarmônica de Goiás e um dos principais convidados da Osesp, que tem regido com regularidade na Sala São Paulo. As apresentações integram a série Concertos populares e antecedem a abertura da temporada da orquestra, marcada para o início de março.
Almeida Prado escreveu a Sinfonia nº 2 – Dos Orixás, entre 1985 e 1986, e a peça foi estreada em 1987, para comemorar os dez anos da Sinfônica de Campinas.
A obra está dividida em dezessete partes, nas quais são ouvidos quinze cantos dos orixás, além de dois interlúdios. Segundo Carlos Fiorini, que estudou a fundo a obra na Academia, “apesar das divisões, a música transcorre sem interrupção”. “A visão de Almeida Prado sobre os Orixás é carregada de sincretismo religioso com o catolicismo, religião da qual era adepto. Para cada Orixá ele fazia referência a um santo católico. O compositor, deixou de incluir na obra o Exu, pois, segundo a crença católica, este representaria o diabo. No entanto, para a crença iorubana, a invocação do Exu é fundamental para cada rito, pois é ele quem faz a ligação entre os homens e os orixás”, escreve em texto de 2013 em disco dedicado pela Osesp ao compositor em sua série digital – na ocasião, o grupo gravou a suíte criada pelo maestro Carlos Moreno a partir da sinfonia.
Durante os ensaios para a estreia, no entanto, os percussionistas da orquestra convenceram o compositor a incluir a presença de Exu na partitura.
Segundo o próprio compositor, a sinfonia é simbólica de sua relação com a crença religiosa, como afirmou em uma entrevista concedida no início dos anos 2000.
“O afro-brasileiro não foi uma experiência mística, mas estética. Não tenho interesse nessas religiões enquanto atos de fé. Acho muito bonito o ritual do Candomblé, as roupas, os temas, o obsessional, os tambores, a ligação com a terra, muito primitiva. Tudo isso me encantou quando compus a Sinfonia dos Orixás. Respeito quem crê em qualquer religião. A divindade de Jesus está em cada religião. Se Deus está em tudo, o Espírito Santo também age no Candomblé – para quem crê. No que se refere ao respeito a todas as religiões, sou ecumênico”, afirmou.
Nascido em Santos em 1943, Almeida Prado estudou com Dinorah de Carvalho, Osvaldo Lacerda e Camargo Guarnieri. Após vencer o Festival da Guanabara em 1969, mudou-se para a Europa onde estudou com Olivier Messiaen e Nadia Boulanger. O compositor retornou ao Brasil em 1974, tornando-se professor da Unicamp e um dos principais autores brasileiros do século XX.
Clique aqui e veja mais detalhes no Roteiro do Site CONCERTO
Leia também
Notícias Sala Cecília Meireles anuncia temporada 2022
Notícias Concertos lançam projeto Toda Semana, que recupera programação da Semana de 1922
Notícias Com programa Invenção do Brasil, Filarmônica de Minas abre temporada
Notícias Podcast Torna Viagem apresenta ligações musicais entre Portugal e Brasil
João Marcos Coelho George Crumb (1929-2022)
É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.