Em busca das paisagens perdidas, encomendada pela Cors, foi apresentada durante a sexta edição do Ópera em pauta
Uma nova ópera do compositor gaúcho Vagner Cunha estreou ontem no Teatro Simões Lopes Neto do Multipalco Eva Sopher, em Porto Alegre. Em busca das paisagens perdidas é uma encomenda da Cors – Companhia de Ópera do Rio Grande do Sul e foi apresentada pela Filarmônica OntoArte Recanto Maestro, com direção musical e regência do maestro André dos Santos.
A ópera foi escrita sobre libreto preparado por Renato Mendonça, e é baseada na obra do poeta Jayme Caetano Braun. Falecido há 100 anos, Braun é considerado o grande “payador” da tradição gaúcha, nascido em 1924, na região das Missões do Rio Grande do Sul. A “payada” é um tipo de improviso poético-musical, como um repente.
A proposta da ópera é uma homenagem ao artista e à tradição gaúcha. Como Mendonça escreve no programa, “o vaivém das rimas do payador missioneiro, multiplicado entre o arroubo épico e o humor galponeiro, nos conduzirá sempre pelo norte da emoção e da autenticidade. Que seja: o sonho teima em seguir distante, mas Jayme Caetano Braun nos aproxima como gaúchos”.
O texto costura um grande painel da obra de Braun, sem uma linha propriamente dramatúrgica. Assim também a música de Vagner Cunha, que sugere atmosferas e acompanha sonoramente as emoções contidas no texto. Um narrador, o cantor popular Pirisca Grecco, conduz o espetáculo, alternado por três solistas (Eiko Senda como a “Terra Bugra”, Carla Maffioletti como “natureza” e Elisa Lopes fazendo a “província”) e um quarteto vocal (Raquel Fortes, Luciana Bottona, Maicon Cassânego e Guilherme Roman). Importante função têm também três bailarinas – Emily Borghetti, Preta Minna e Carini Pereira – que, em conjunto com os cantores e em danças e movimentos conjuntos ensaiados, dão uma constante movimentação ao espetáculo.
A concepção e direção cênica são de Carlota Albuquerque, destacada e reconhecida pesquisadora gaúcha, que se utilizou de diversos elementos da tradição gaúcha para montar o espetáculo. O resultado é bonito, em tons ocres, verdes e amarelos, e cativa o espectador por sua mensagem poética e apelo regionalista.
A ópera encerrou o segundo dia do encontro Ópera em pauta, do Fórum Brasileiro de Ópera, Dança e Música de concerto (Fórum ODM), cuja sexta edição está acontecendo na capital do Rio Grande do Sul. O dia começou com uma mesa sobre a “Cooperação pela ópera no Rio Grande do Sul”, com mediação de Abel Rocha e participação de Antônio Hohlfeldt (FTSP), do maestro Manfredo Schmiedt (Ospa) e de Flávio Leite (Cors) – o maestro Evandro Mattè (OTSP), que também deveria participar, não pode comparecer. A mesa versou sobre a inédita parceria entre a Cors, a Fundação Theatro São Pedro, a Ospa e a Secretaria da Cultura, que vem revolucionando a atividade lírica no estado.
Seguiu-se a mesa sobre os “Rumos para a Ópera Brasileira Contemporânea”, que teve mediação de Nelson Rubens Kunze e participação dos compositores João Guilherme Ripper e Vagner Cunha, além dos depoimentos dos gestores Claudia Malta (diretora artística da Fundação Clóvis Salgado/Palácio das Artes) e Anna Patricia (produtora artística do Theatro São Pedro de São Paulo).
Após o almoço, sob mediação de Flávio Leite, Eiko Senda (Cors), André Heller Lopes (UFRJ), Abel Rocha (Fábrica de Ópera da Unesp) e Michel de Souza (online por vídeo) debaterem sobre a Diversidade no setor. Apesar de grandes desafios a serem ainda vencidos, foram apresentados exemplos e práticas que vem sendo adotados e aprimorados para garantir a participação de todos interessados, independentemente de cor de pele, extrato social ou orientações de gênero.
Após uma emocionante apresentação dos alunos do Ópera Estúdio no foyer do Multipalco, a Fórum ODM se reuniu para a mesa intitulada “Planejamento de auto-sustentabilidade da Ópera e Futuro”. Com mediação João Guilherme Ripper, Flávia Furtado (Festival Amazonas de Ópera), Anna Patricia (Theatro São Pedro de São Paulo), Flávio Leite (Cors), Eiko Senda (Cors) e Nelson Rubens Kunze (Revista CONCERTO) debateram sobre as estratégias para atingir a sustentabilidade da ópera, tanto do ponto de vista financeiro – com a subvenção pública e as ferramentas da economia criativa – como de uma perspectiva de um ecossistema social e cultural.
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