Morreu na madrugada de hoje, 8 de outubro, aos 80 anos, o musicólogo e pesquisador Flavio Silva. Membro da Academia Brasileira de Música, Flavio Silva é autor de importantes textos sobre a música brasileira e organizador de um livro de referência sobre o compositor Camargo Guarnieri. De 1977 até 2016, trabalhou na Funarte, onde exerceu as mais diversas funções e ocupou vários cargos, inclusive o de diretor do Centro de Música. Foi o responsável pela organização de diversas edições da Bienal de Música Brasileira Contemporânea.
Flavio Vieira da Cunha Silva nasceu a 7 de fevereiro de 1939, em Cachoeira do Sul, Rio Grande do Sul. Após estudos em sua terra natal, frequentou os cursos internacionais de férias de Teresópolis. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1958, passando a estudar com Hans Graff, Alda Caminha e Homero Magalhães, além de fazer estudos gerais com Esther Scliar e Guerra-Peixe.
Em 1968, obteve uma bolsa de estudos para o curso de musicologia em Paris, tendo se dedicado, sobretudo, à etnomusicologia. Desse trabalho resultou a memória Origines de la samba urbaine a Rio de Janeiro, só concluída em 1974, após voltar ao Brasil e fazer intensa pesquisa em milhares de periódicos cariocas publicados no início do século XX.
Flavio Silva, que faleceu enquanto dormia, deixa dois filhos e a esposa, a pianista Lais de Souza Brasil.
Segundo João Guilherme Ripper, presidente da Academia Brasileira de Música, “Flavio Silva foi um dos grandes estudiosos da música brasileira, desde a década de 1920, de Guarnieri, de Mignone. Ele desenvolveu um importante trabalho de sociologia da música, sobre a relação da música nova com o nacionalismo”. E Ripper lamentou: “Sua morte inesperada representa uma grande perda para a música e a musicologia do Brasil”.
Flavio Silva era amigo da Revista CONCERTO, que acompanhava criticamente, e honrou a publicação com textos, observações e comentários. Sua última colaboração foi em junho passado, quando publicou no Site CONCERTO um artigo sobre Berlioz.
Em agosto, enviou-me um e-mail com a sugestão de preparar um texto sobre a relação entre Mario de Andrade e Hans-Joachim Koellreutter. “Na realidade, a não-relação”, escreveu. “Mario, que comentava qualquer coisa, nunca escreveu uma linha sobre Koellreutter e sobre o Música Viva, com toda a repercussão que esse movimento tinha no Rio, em São Paulo, em Belo Horizonte! Isso é inconcebível. Aliás, foi Jorge Coli quem levantou essa lebre, no livro ‘Música final’.” E terminava o e-mail assim: “Não estou interessado em criticar ninguém, nem em elogiar; detesto panegíricos e vitupérios. Atenho-me aos fatos – e às interpretações mais objetivas possíveis (no meu entender)”.
Não deu tempo para publicarmos. Mas com certeza o seu trabalho e as suas pesquisas ficarão como um importante legado para a história da música brasileira.
[A cerimônia de velório e cremação de Flavio Silvia será amanhã, dia 9 de outubro, no Crematório e Cemitério da Penitência, Capela D, no Caju, Rio de Janeiro, com início às 13h e término às 16h.]
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