Retrospectiva 2019: Ricardo Castro

por Redação CONCERTO 13/01/2020

Depoimento colhido na primeira quinzena de dezembro de 2019

“Em 2019, preocupado com o futuro da nação, como muitos brasileiros, militei nas redes sociais pela sustentabilidade da atividade musical. Sei que mesmo diante de um problema manifesto há quem considere inadequado criticar tão abertamente políticas institucionais alheias. Porém, como não sou corporativista nem individualista, decidi usar de meus mais de 50 anos e milhares de quilômetros de estrada para tentar evitar o que o crítico musical Alain Lompech definiria como catástrofe. Tenho notado uma quantidade crescente de instituições investindo no que chamam de “inovação” e “desmistificação” da música de concerto para conquistar novos públicos. Nunca foi difícil lotar plateias, e acho ótimo que isso ocorra, sobretudo para a economia criativa e para os bolsos dos envolvidos, só não entendo por que instituições com financiamento público adotariam os mesmos métodos e princípios. Prefiro me guiar pelo exemplo da Osesp, que, antes da Sala São Paulo, não tinha o público nem o impacto na vida musical que tem hoje. Lembro-me de John Neschling defendendo sozinho que era normal a música de concerto não ser popular. Rembrandt, Cervantes, Schubert, Kleiber e inúmeros outros, mesmo desconhecidos do grande público, deixaram um legado. Em 2020, espero ver mais colegas lutando por equipamentos de qualidade, antes de tudo para nossa juventude, depois para nossas instituições musicais, que conquistarão suas plateias porque tocam, enfim, em salas sinfônicas, revelando e defendendo o legado, justamente, daqueles que dedicaram a vida à beleza. Estamos fazendo nossa parte no Neojiba ao inaugurarmos em 2019 um complexo de primeiro mundo com acesso democratizado. Que seja apenas o começo!”

Ricardo Castro, pianista, maestro e diretor geral do Neojiba, Núcleo Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia

 

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