Roberto Minczuk: um ano memorável

Retrospectiva 2024: Roberto Minczuk, maestro titular da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo e diretor musical da New Mexico Philharmonic (EUA) 

“Estou grato e feliz, pois 2024 foi um ano memorável para mim. Primeiro por ter a oportunidade de celebrar 30 anos de carreira de maestro, desde a minha estreia na Osesp, no dia 7 de março de 1994. Comecei o ano celebrando com a Nona de Beethoven e também com o Te Deum de Bruckner, um dos meus compositores preferidos. Esse também foi um ano Bruckner, pelos 200 anos de nascimento do compositor – pude ainda reger suas sinfonias nº4 e nº7. Outra celebração fantástica foram os 100 anos da morte de Puccini, por quem sou apaixonado. Em 2024 regi Madama Butterfly, Tosca (nos EUA) e La bohème em concerto, fechando a temporada do Municipal. Fizemos ainda uma gala Puccini, em julho, num dos projetos que mais respeito no Brasil, o projeto Vermelhos, em Ilhabela. É único, o sonho de uma pessoa, o Samuel Mac Dowell de Figueiredo, que construiu aquele teatro fabuloso, com uma acústica maravilhosa. Faço questão de colaborar com o Instituto Vermelhos, esse projeto precisa de apoio da iniciativa privada e do poder público. A Orquestra Vermelhos está ativa no festival e no final do ano, e fico muito feliz em estar associado. 

Outro projeto que nasceu em 2024 e que tenho a felicidade de ser um dos padrinhos e colaborar proximamente é a Ofic – Orquestra Filarmônica Catarinense, criada por meu amigo, o grande pianista Pablo Rossi. Participei das audições para seleção de músicos e pudemos recrutar alguns dos melhores músicos brasileiros, inclusive alguns que estavam no exterior. A Ofic é uma orquestra de altíssimo nível, já tive a oportunidade de regê-la algumas vezes. Santa Catarina está de parabéns e Pablo Rossi, diretor artístico do projeto, merece reconhecimento. 

O Theatro Municipal de São Paulo mora no meu coração desde a infância, eu cresci dentro do Municipal e fui primeira trompa em 1981, com 13 anos de idade. Hoje tenho o privilégio de ser o maestro titular da Orquestra Sinfônica Municipal e é tão bonito ver o teatro e a orquestra cada vez melhores. A OSM tem encarado programas desafiadores com música contemporânea. O teatro, por sua vez, tem estado lotado, com um público democrático e representativo da nossa sociedade, com moradores da periferia, com a diversidade étnica e cultural que marca a cidade de São Paulo. É um teatro que de fato ganhou o coração dos paulistanos por ter suas portas abertas e apresentar uma programação inovadora, inclusiva e criativa. Ficamos muito orgulhosos pelo prêmio que ganhamos com produção do Guarani [prêmio Ópera XXI na categoria Melhor Produção de Ópera Latino-americana]. É um dos maiores prêmios da ópera e a primeira vez que o teatro ganha um prêmio desses. Vamos reapresentar O guarani agora em fevereiro. Estou muito feliz com todas as nossas produções e colaborações. Quero destacar a produção da Carmen com o Jorge Takla, que foi um deslumbre, um grande sucesso em todos os sentidos. Mas houve tantas outras produções exitosas do Municipal nas temporadas sinfônicas, de balé; e também com seus outros corpos artísticos como o Quarteto da Cidade e a Orquestra Experimental de Repertório. Teremos uma temporada linda em 2025, com praticamente o dobro do número de assinantes, o que nos deixa muito orgulhosos. 

Também quero ressaltar que foi uma emoção poder fazer o concerto de pré-estreia do novo Teatro Cultura Artística, que coube à OSM sob a minha regência, relembrando o concerto que inaugurou o teatro, regido por Villa-Lobos e Camargo Guarnieri dirigindo suas próprias obras. Pudemos replicar parte desse programa e foi uma felicidade ver esse teatro novo em folha, com uma acústica maravilhosa, um projeto lindo ganhando vida novamente. É muito bom ver a temporada da Cultura Artística abrilhantando a cidade de São Paulo, como sempre foi o papel da Sociedade de Cultura Artística. Dedicamos o concerto à memória do grandíssimo Antonio Meneses, que faleceu na véspera da abertura. Antonio foi um dos maiores músicos de todos os tempos e continuará morando na nossa memória e no nosso coração para sempre.” [Depoimento de dezembro de 2024]

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