No dia 4 de julho de 1935, nascia o compositor Mario Ficarelli – há 90 anos, portanto. Um dos nomes fundamentais da música brasileira nas últimas décadas da segunda metade do século XX e início do século XXI, ele não apenas deixou um legado com um catálogo de mais de 200 obras, mas também como professor – atividade que motivou a criação de seu último projeto, o método Musissimphos, que conseguiu finalizar antes de sua morte, em 2014.
Ficarelli foi professor da Universidade de São Paulo e tem em seu catálogo mais de 220 obras para diversas formações instrumentais, incluindo música de câmara, música sinfônica, a ópera A peste e o intrigante, baseada em Monteiro Lobato, e uma Missa solemnis. “Como professor, acredito ele ter sido um dos mais competentes entre os que conheci na USP, pois concentrava-se na obra musical, analisando-a com acuidade e sem vacilos. Em suas aulas inexistia a palavra tergiversar e aqueles que tiveram o privilégio da formação segura sob seus cuidados são testemunhas. Momentos para lembrar”, escreveu o pianista José Eduardo Martins.
“A dez anos de sua morte, aos 79 anos, no dia 2 de maio de 2014, o compositor Mário Ficarelli é daquelas figuras que infelizmente frequentam pouco ou nunca as salas de concerto brasileiras, sobretudo as temporadas de nossas orquestras sinfônicas. Se eu lhe perguntasse por que, ele diria calmamente que a consolidação da obra musical é um processo que se fortalece ao longo do tempo, com espasmos periódicos, até seu ressurgimento como etapa determinante da vida musical”, escreveu João Marcos Coelho na edição de maio de 2014 da Revista CONCERTO.
“Em todo caso, é perverso que um compositor que perseguiu incessantemente, em seu dia a dia criativo, o completo domínio da orquestração não tenha não só sua obra mais conhecida, a Sinfonia nº 2, mas suas demais peças sinfônicas executadas no Brasil nesta última década. Em longas conversas pelo WhatsApp com sua viúva, a compositora e pianista Silvia de Lucca, ela se inflama. Vivo fosse, o compositor a acalmaria. Não quero parecer grandiloquente, mas, como Mahler – quando só o aplaudiam como maestro e não como compositor –, disse que seu tempo chegaria, com certeza o tempo de Ficarelli vai chegar. Até porque o seu trabalho pedagógico como professor de composição no Departamento de Música da Universidade de São Paulo o transformou em uma usina de geração de novos talentos despregados de tribos, como ele.”
Ficarelli dedicou o método Musissimphos “a todas as crianças e jovens do meu País, que têm a música como o mais atraente, intuitivo e caloroso meio de comunicação”. “Trata-se de um trabalho idealizado para o ensino musical em orquestras de iniciantes”, explicou a compositora e pianista Silvia de Lucca, viúva de Ficarelli, responsável pela curadoria e organização geral do projeto, em entrevista ao Jornal da USP. “Os últimos quatro anos de sua vida foram dedicados à organização desse método. Ele cumpriu o desafio de mostrar que a música é vida. Mesmo internado no hospital, até os seus últimos instantes ele trabalhou nesse método para incentivar a educação musical.”
O Musissimphos está dividido em três níveis de dificuldade (básico, intermediário e avançado), em edição bilíngue, totalizando 1.684 páginas impressas em dez volumes, acompanhados de um CD-áudio e de nove CDs-ROM com as partes instrumentais. O material está dividido entre 81 estudos musicais e 60 músicas de repertório, em progressão didática quanto ao nível de dificuldade. Os estudos são todos de autoria de Mario Ficarelli e condensam a teoria musical aplicada. As músicas são de diversos compositores, desde o repertório Barroco até o contemporâneo, adaptadas por Ficarelli.
O primeiro volume compreende um guia que explica o método e orienta aqueles que desejam formar uma orquestra desde o início. “Todo este método desenvolvido por Ficarelli foi criado a partir de sua experiência como compositor de renome internacional. Construiu de maneira sólida orquestrações pensadas de acordo com a real necessidade observada junto aos mais diversos trabalhos de formação”, diz o maestro Carlos Moreno sobre o projeto.
“Quando realizou este trabalho, o maestro pensou no prazer e na felicidade dos outros de tocar, de se sentir bem tocando com os recursos que já têm. E ele propõe, então, que esses recursos sejam ampliados cada vez mais. Encontrei no Musissimphos um processo musical progressivo, contínuo e solidificante, e não apenas para os instrumentistas: há muito o que apreciar também em termos de ensinamentos para regentes”, afirma o maestro Luiz Carlos Durier.
[Leia aqui mais informações sobre o método Musissimphos. O volume estará em breve disponível na Loja Clássicos.]
![O compositor Mario Ficarelli [Divulgação]](/sites/default/files/inline-images/w-mario_ficarelli_0.jpg)
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