Duas mulheres abandonadas e traídas poderão ser vistas e ouvidas em gravação feita no palco do Theatro Municipal do Rio neste fim de semana: a Armida Abandonatta de Händel e a Arianna a Naxos de Haydn. As gravações das cantatas barroca e clássica, realizadas em meados de junho, são as duas primeiras peças do Trittico Feminino idealizado pelo diretor artístico do teatro carioca, Ira Levin.
Uma terceira mulher em cena está marcada para surgir em agosto – na intrigante e atonal Pierrot Lunaire, de Schöenberg. As três têm acompanhamento das cordas da Orquestra do Theatro sob a regência de Priscila Bomfim, com cenografia de Manuel Puoci e iluminação de Paulo Ornellas, todos da equipe do Municipal. Só a direção teve convidada especial – Julianna Santos.
As duas primeiras gravações entram no ar neste fim de semana: Armida, hoje, dia 2, com a soprano Ludmilla Bauerfeldt, e Arianna, amanhã, dia 3, com a mezzo soprano Luisa Francesconi.
São histórias de mulheres abandonadas e traídas, que inspiraram diversos compositores na história da música ocidental. “São obras incríveis, que trabalham a potência feminina, o amor, o abandono”, comenta a diretora. “Armida e Arianna têm a mesma história, a paixão, a entrega, o isolamento; são guerreiras que se veem sozinhas. O cenário explora a Lua que permanece no ambiente, junto com o interior, o espaço privado. É muito especial trabalhar essas duas guerreiras que se rendem à paixão.”
Para a terceira peça, o Pierrot Lunaire – que estreou em 1912 – Levin convidou a soprano Eliane Coelho. A gravação com cordas e sopros será feita no fim de julho e a publicação do vídeo, no início de agosto. “A ideia inicial era apresentar como um tríptico mesmo, mas pelas circunstâncias da pandemia tivemos que filmar com algum intervalo”, conta o diretor artístico. “Mais à frente gostaria de ver essas três peças no palco. Com público presencial, claro – e orquestra.”
Levin está conformado com a intermediação pelas plataformas digitais. Conformado, mas não exatamente contente: “É o que temos agora. Mas eu sou um intérprete, venho tocando há décadas, e sinto que a relação com o público presente afeta a maneira como se toca. E comparando gravações com performances ao vivo, no pódio, vejo que sou muito mais, digamos, didático quando o registro é feito em estúdio, quando estamos fixando uma interpretação. Num concerto, é natural que se assumam mais riscos, que nos preocupemos menos com uma nota errada. E isso é estimulante.”
A programação on-line 2021 do teatro carioca vem acontecendo desde maio, quando divulgou vídeos gravados em abril com orquestra de cordas e quinteto de metais, além da série Mozart, com dois concertos de câmera em maio e mais um em junho. Toda a programação de julho – incluindo Armida e Arianna – traz o selo do aniversário da casa, que completa 112 anos. “No dia 14 de julho, vou tocar o quinteto de Dvórak com o Quarteto Atlas e teremos Chopin e Liszt no piano”, adianta Ira Levin. No dia anterior, vai ao ar uma Gala do Ballet apresentando clássicos como Paquita Grand Pas Classique, Animated Frescoes e o Grand Pas-de trois de O Corsário, com participação dos primeiros bailarinos Claudia Mota e Cícero Gomes, de solistas do ballet do Theatro Municipal e da Cia de Ballet da Escola Maria Olenewa.
Em agosto e setembro, além do Pierrot, o concerto lírico Il Tabarro – Puccini e seus contemporâneos traz seis cantores – Eliane Coelho, Flávia Fernandes, Lara Cavalcanti, Eric Herrero, Leonardo Neiva e Murilo Neves – e Ira Levin ao piano, além de outros três vídeos do coro gravados remotamente, com motetos de Mozart e de José Maurício Nunes Garcia.
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