Morre, aos 46 anos, a soprano Marina Considera

por Luciana Medeiros 31/10/2023

A soprano Marina Considera, umas mais destacadas de sua geração, morreu nessa terça-feira, no Rio de Janeiro, aos 46 anos. Fez sua estreia em 2006, na ópera A Carta, sob regência de Henrique Morelenbaum. Era bacharel em canto pela Unirio e mestre pela UFRJ. Marina estava tratando um câncer de intestino. O velório será realizado nesta quarta-feira, dia 1º de novembro, às 11 horas, no salão nobre do Parque da Colina. 

Nascida na Inglaterra, ela se considerava carioca. Integrou por três anos o Opera Studio da Accademia Nazionale di Santa Cecilia, sob orientação de Renata Scotto, Anna Vandi e Cesare Scarton. Nesse período, apresentou-se em diversos palcos da Itália. Desde 2015, era orientada pela soprano Eliane Coelho.

No Brasil, subiu aos principais palcos líricos e de concerto – em 2013, foi Rossweisse em A Valquíria, de Wagner, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro; e Rosália, em Jupyra, de Francisco Braga, no Theatro Municipal de São Paulo, onde no ano seguinte cantou Nedda, em I Pagliacci, de Leoncavallo. 

Fez uma carreira sólida, cantando pelo Brasil e no exterior. Algumas de suas muitas performances: a 9ª Sinfonia de Beethoven na Sala São Paulo e o papel-título da Tosca em Porto Alegre; a Musetta da Bohème, de Puccini, a Condessa de As Bodas de Fígaro, de Mozart, Giulietta nos Contos de Hoffman, de Offenbach, e Tatiana de Eugene Onegin, de Tchaikovsky, no Municipal do Rio; a Ceci de Il Guarany, de Carlos Gomes, no Palácio das Artes de Belo Horizonte; e Donna Anna, em D. Giovanni, de Mozart, no Theatro da Paz e em São Paulo. Viveu Suor Angelica, no Trittico, de Puccini, na Music Academy International, em Trentino, na Itália.

“Estivemos juntos, no palco, diversas vezes, e Marina tinha qualidades artísticas impressionantes”, diz o tenor Eric Herrero, diretor artístico do Municipal carioca. “Além da voz linda, do extraordinário gosto musical, era um ser humano profundamente terno, alegre, até mesmo durante a luta contra a doença. Estou desolado e o mundo ficou mais triste”.

“Marina, minha melhor amiga de todos os momentos”, diz a diretora Julianna Santos. “O sorriso alegre, a sinceridade, o brilho radiante deixaram marca. No palco, era seriedade, profissionalismo, garra, energia, respeito, companheirismo - na vida, também. A força que ela sempre trouxe aos grandes amigos merece ser celebrada e lembrada do jeitinho que ela sempre amou.”

“Marina era uma grande cantora, uma voz especial, cheia de qualidades natas e desenvolvidas pela sua inteligência e musicalidade”, afirma o regente e violinista Claudio Cruz. “Fizemos alguns trabalhos juntos, todos com excelência musical. E que pessoa bondosa! Numa produção com tantos artistas, personalidades diversas, ela se destacava por sua simplicidade e profissionalismo.”

“Dona de uma das vozes mais lindas que já conheci, Marina tinha, mais do que tudo, o dom de escutar”, avalia a soprano Chiara Santoro. “Escuta genuína e interessada, oferecendo afeto e cuidado. Era fada madrinha, tornava os ambientes mais leves e acolhedores. Seu legado é o elo de amor entre todos que a conheceram de verdade, o amor pela arte, pela vida, pelos outros.” 

Sua última apresentação foi em dezembro de 2020, na 8ª edição do Festival de Música Erudita do Espírito Santo, quando cantou a obra Who cares if she cries, da compositora Jocy de Oliveira.

“Foi com extremo pesar e emoção que soube do falecimento da excepcional cantora e artista Marina Considera”, diz a compositora. “Sua musicalidade, sensibilidade e beleza como artista e ser humano me tocaram profundamente quando a ouvi cantando minha peça para soprano e orquestra de cordas – Who cares if she cries. Acho que ela sentiu na pele o título e a expressividade com que executou minha peça. Obrigada Marina: ‘I care, and I cried’.”

A soprano Marina Considera [Divulgação]
A soprano Marina Considera [Divulgação]

 

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