Óperas inspiradas em peças de Plínio Marcos estreiam no Theatro Municipal de São Paulo

por Redação CONCERTO 08/04/2022

O Theatro Municipal de São Paulo abre nesta sexta-feira, dia 8, sua temporada lírica com um marco importante em sua história. Pela primeira vez em 111 anos, o teatro estreia duas óperas encomendadas pela casa, ambas inspiradas em peças do dramaturgo Plínio Marcos: Navalha na carne, de Leonardo Martinelli, e Homens de papel, de Elodie Bouny.

A direção musical do espetáculo é de Roberto Minczuk, que estará à frente da Orquestra Sinfônica Municipal e do Coro Lírico. Navalha na carne é dirigida por Fernanda Maia e tem no elenco o tenor Fernando Portari, o barítono Homero Velho e a mezzo soprano Luisa Francesconi.

Homens de papel conta com direção de Zé Henrique de Paula e tem, entre os solistas, todos membros do Coro Lírico, o barítono Sebastião Teixeira, a soprano Elaine Morais, a mezzo soprano Lidia Schäffer, o tenor Fernando de Castro e o baixo Diógenes Gomes, entre outros.

O projeto de Navalha na carne surgiu em 2010 e, em 2019, foi encampado pelo Theatro Municipal, que resolveu criar então um double bill em torno de Plínio Marcos, encomendando a Elodie Bouny Homens de papel (com libreto de Hugo Possolo).

Navalha na carne narra a história da prostituta Neusa Sueli, do gigolô Valdo e do homossexual Veludo. Já Homens de papel põe no palco um grupo de catadores de rua, explorados no trabalho. 

“Algozes truculentos e vítimas pisoteadas alternam-se, em cada célula ou lance dos enredos, para escalonarem e desvendarem as intimidades da outra figura; desvendamentos cada vez mais cruéis, pérfidos ou insidiosos, cujos objetivos são levar o outro ao martírio, isolá-lo num cúmulo de solidão e desamparo que, não raro, atinge as raias da condição abjeta”, escreveu o crítico Edelcio Mostaço sobre os personagens de Plínio Marcos. “O apogeu destes círculos de opressão que se estreitam é insuflado pelas alternâncias entre as personagens, onde algozes e vítimas intercambiam seus papéis, batalha que só terá fim num confronto armado entre as figuras e do qual sobreviverá o mais apto. A dramaticidade de Plínio não admite soluções de compromisso ou acomodamento, apenas o rompimento dos vínculos, onde apenas a morte ou o aniquilamento de um dos polos tencionais pode representar a libertação”, completou.

Fernando Portari, Homero Velho e Luisa Francesconi em cena de 'Navalha na carne' [Divulgação/Stig Stigliani]
Fernando Portari, Homero Velho e Luisa Francesconi em cena de 'Navalha na carne' [Divulgação/Stig de Lavor]

É essa interação entre as personagens que interessa em especial à diretora Fernanda Maia, responsável pela encenação de Navalha na carne. “No teatro, as encenações costumam dar à violência dos personagens o papel preponderante. Aqui, até mesmo pela fisicalidade específica que o canto exige, procurei também explorar essa interação, essas relações de poder entre eles, o modo como o oprimido muitas vezes mimetiza o papel do opressor.”

Em entrevista à Revista CONCERTO de abril (leia aqui), Martinelli e Bouny falaram ao jornalista Irineu Franco Perpetuo sobre suas obras. Assim como o filho de Plínio Marcos, o dramaturgo e diretor teatral Leo Lama, que relembrou aquilo que considera importante na obra do pai.

Peças como essas, diz, são “um soco no estômago até hoje”. “O Plínio dizia que suas peças iam se tornar clássicos porque a humanidade não muda. Mas o que os imitadores dele nunca entenderam é a humanidade desses personagens, o profundo amor que ele tinha por eles”.

A montagem do Municipal será acompanhada de uma exposição sobre o trabalho de Plínio Marcos. Estarão expostos até o dia 7 de maio vasto material iconográfico, além de manuscritos e fragmentos da trajetória de Plínio Marcos. A mostra “Plínio Marcos, Teatrólogo Brasileiro" tem curadoria de Ricardo Barros e Claudio Koca e expografia de Homem de Melo & Tróia Design.

Também será realizado, no dia 12, na Praça das Artes, um debate com a participação de Roberto Minczuk, Oswaldo Mendes, biógrafo de Plínio Marcos, Elodie Bouny e Leonardo Martinelli e apresentação de Anita Lazarim. O encontro marca o início do projeto Conversa de Bastidor e também será transmitido pela internet.

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Cena de 'Homens de papel', de Elodie Bouny [Divulgação/Stig Stigliani]
Cena de 'Homens de papel', de Elodie Bouny [Divulgação/Stig Stigliani]

 

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