A exuberante Carmen de Bizet, filha do Romantismo, e a discretíssima Cio-Cio-San do verista Puccini podem parecer personalidades planetariamente opostas no panteão das protagonistas de óperas. Mas, além da fama mundial dos títulos, a heroína cigana e a gueixa obediente são “vítimas de abuso: ambas sofrem violência de gênero”, na visão de Fabíola Bach Akel, fundadora e diretora artística da orquestra Ladies Ensemble.
As duas personagens vão se reunir nessa semana em Curitiba – dias 17, 18 e 19, às 20h, no Auditório Regina Casillo – para o concerto cênico da Ladies Ensemble sob a batuta da convidada Priscila Bomfim, regente assistente do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Fundada em 2009, a orquestra formada só por mulheres instrumentistas vem, há 13 anos, abraçando causas. Fabíola tem direcionado forças para chamar a atenção para assuntos da mulher – como o câncer de mama, no Concerto das Rosas, que arrecada fundos para a compra de próteses mamárias. Agora, faz um libelo contra a violência de gênero.
“Sim, elas são duas vítimas”, assegura Fabíola. “Carmen queria viver, estava apaixonada pelo belo toureiro. Era afoita, bem andaluz, mas uma menina. E Cio-Cio-San não suportou a perda e a negligência de Pinkerton.”
A apresentação tem um roteiro que encadeia trechos das duas óperas, com uma narradora. “Temos em cena a atriz Clarissa Moya, se colocando como o Destino através do roteiro da diretora cênica Bruna Steudel, que aproxima as duas personagens trágicas. Uma enriquece a outra.”
As vozes são da soprano japonesa Masami Ganev e da mezzo paulista Mere Oliveira. “Essa é a primeira produção assinada pela orquestra, que começou como um noneto e tem hoje 20 integrantes”, continua Fabíola. “Não temos ópera em Curitiba há bastante tempo. Em 2022, além dos espetáculos da temporada e a circulação, estamos estruturando projetos na área da educação e da formação de plateia.”
Na manhã desta terça-feira, dia 15, no mesmo auditório, Fabíola comandou um debate sobre o assunto do espetáculo e a presença feminina com quatro mulheres de ação do estado – a idealizadora, fundadora e presidente do Solar do Rosário Regina Casillo; a diretora da Gazeta do Povo, Ana Amélia Pereira Filizola; a promotora de justiça no Ministério Público do Paraná, Mariana Bazzo; e a médica especializada em radiologia mamária Maria Helena Louveira, com entrada gratuita.
“Desde 2009 venho martelando o assunto da presença feminina na música de concerto. E parece que agora, finalmente, os ouvidos se abriram”, comemora Fabíola.
Leia também
Notícia Óperas de Pergolesi abrem temporada lírica do Theatro São Pedro
Notícia Thierry Fischer rege Osesp em programa Beethoven, Haydn e Bartók
Notícia Pianista Ronaldo Rolim é solista da Filarmônica de Minas Gerais
É preciso estar logado para comentar. Clique aqui para fazer seu login gratuito.
Comentários
Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião da Revista CONCERTO.