Orquestra Ladies Ensemble parte da ópera para falar da violência contra a mulher

por Luciana Medeiros 15/03/2022

A exuberante Carmen de Bizet, filha do Romantismo, e a discretíssima Cio-Cio-San do verista Puccini podem parecer personalidades planetariamente opostas no panteão das protagonistas de óperas. Mas, além da fama mundial dos títulos, a heroína cigana e a gueixa obediente são “vítimas de abuso: ambas sofrem violência de gênero”, na visão de Fabíola Bach Akel, fundadora e diretora artística da orquestra Ladies Ensemble.

As duas personagens vão se reunir nessa semana em Curitiba – dias 17, 18 e 19, às 20h, no Auditório Regina Casillo – para o concerto cênico da Ladies Ensemble sob a batuta da convidada Priscila Bomfim, regente assistente do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.

Fundada em 2009, a orquestra formada só por mulheres instrumentistas vem, há 13 anos, abraçando causas. Fabíola tem direcionado forças para chamar a atenção para assuntos da mulher – como o câncer de mama, no Concerto das Rosas, que arrecada fundos para a compra de próteses mamárias. Agora, faz um libelo contra a violência de gênero.

“Sim, elas são duas vítimas”, assegura Fabíola. “Carmen queria viver, estava apaixonada pelo belo toureiro. Era afoita, bem andaluz, mas uma menina. E Cio-Cio-San não suportou a perda e a negligência de Pinkerton.” 

A apresentação tem um roteiro que encadeia trechos das duas óperas, com uma narradora. “Temos em cena a atriz Clarissa Moya, se colocando como o Destino através do roteiro da diretora cênica Bruna Steudel, que aproxima as duas personagens trágicas. Uma enriquece a outra.”

As vozes são da soprano japonesa Masami Ganev e da mezzo paulista Mere Oliveira. “Essa é a primeira produção assinada pela orquestra, que começou como um noneto e tem hoje 20 integrantes”, continua Fabíola. “Não temos ópera em Curitiba há bastante tempo. Em 2022, além dos espetáculos da temporada e a circulação, estamos estruturando projetos na área da educação e da formação de plateia.”

Na manhã desta terça-feira, dia 15, no mesmo auditório, Fabíola comandou um debate sobre o assunto do espetáculo e a presença feminina com quatro mulheres de ação do estado – a idealizadora, fundadora e presidente do Solar do Rosário Regina Casillo; a diretora da Gazeta do Povo, Ana Amélia Pereira Filizola; a promotora de justiça no Ministério Público do Paraná, Mariana Bazzo; e a médica especializada em radiologia mamária Maria Helena Louveira, com entrada gratuita.

“Desde 2009 venho martelando o assunto da presença feminina na música de concerto. E parece que agora, finalmente, os ouvidos se abriram”, comemora Fabíola.

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Concerto das Rosas [Divulgação/Brunno Covello]
Concerto das Rosas [Divulgação/Brunno Covello]

 

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