Em coletiva de imprensa realizada na Secretaria da Cultura do estado de São Paulo, o governo apresentou os resultados de uma pesquisa sobre o impacto econômico do Festival de Inverno de Campos do Jordão. O trabalho foi encomendado pela Fundação Osesp e realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) nos mesmos moldes do que a organização já havia feito no ano passado, junto à Flip, Festa Literária Internacional de Paraty. Participaram do encontro o secretário da Cultura Sérgio Sá Leitão, o secretário de Turismo Vinicius Lummertz, o prefeito de Campos do Jordão Frederico Guidoni, o diretor executivo da Osesp Marcelo Lopes, o diretor executivo da Jazz Sinfônica Antonio Ribeiro e o gerente executivo da FGV Luiz Gustavo Barbosa.
Sérgio Sá Leitão deu início à coletiva comemorando os ótimos resultados do evento. “Realizamos o maior festival da história, como teria de ser o da 50ª edição”, afirmou. “Foram 133 concertos, dos quais 80% gratuitos, incluímos novos espaços como um palco externo e o Hotel Toriba, tivemos 201 bolsistas, todos números são recorde. E, por meio da TV Cultura e as diferentes mídias sociais, o Festival alcançou 5,5 milhões de pessoas.” Uma das novidades do festival deste ano foi a inserção da música popular brasileira na programação. Em shows da Praça do Capivari, artistas como Carlinhos Brown, Toquinho, Lenine, Diogo Nogueira e Fafá de Belém se apresentaram acompanhados da Jazz Sinfônica.
Segundo a pesquisa realizada pela FGV, o Festival de Inverno gerou um impacto econômico total de R$ 131 milhões no estado de São Paulo. Considerando que o investimento para a realização do evento foi de R$ 7,84 milhões, resulta que cada R$ 1 investido injetou R$ 16,7 na economia local. A pesquisa também identificou que o festival abriu 1.844 postos de trabalho e gerou R$ 17,4 milhões em impostos. “O resultado nos surpreendeu. Acredito que sempre temos que trabalhar com estudos e dados objetivos, então, esse estudo é realmente muito significativo, não apenas pelos números que traz, mas porque também nos mostra dados gerenciais para que possamos aperfeiçoar a realização do Festival e a própria gestão da política cultural”, disse o secretário.
Do total de R$ 131 milhões, R$ 13 milhões foram movimentados pela própria produção e a organização do evento, em uma cadeia que incluiu pagamentos diretos (como cachês aos artistas, serviços de logística, aluguéis de espaços e outros) e indiretos (como os bens e serviços fornecidos pelas indústrias de bens de consumo, propaganda, limpeza, manutenção, energia, água, óleo e gás e outros). Os R$ 118 milhões restantes compreendem todos os setores econômicos de Campos do Jordão que serviram para o atendimento de um público de 232 mil pessoas – o estudo da FGV considerou para a análise do impacto econômico somente os 34,6% dos turistas que confirmaram que a visita aconteceu em razão do Festival de Inverno. “O ponto fundamental é esse: entender como o investimento pode alimentar a cadeia econômica de uma cidade. Neste caso, temos grande parte do impacto relacionado ao setor de turismo, que traz não residentes e dinheiro novo à cidade, e toda a alavancagem econômica que isso gera”, explicou Luis Gustavo Barbosa.
Investimento privado
O secretário da Cultura Sérgio Sá Leitão também destacou diversas vezes que nenhum dinheiro público foi investido para a realização desta edição do Festival de Inverno. “É importante ressaltar, que todo o investimento veio 100% da iniciativa privada, zero reais de dinheiro público”, afirmou. Questionado pela Revista CONCERTO de que 70% do investimento (R$ 5,5 milhões) do Festival tenha sido captado via Lei Rouanet e outras leis de incentivo, e, portanto, serem sim recursos públicos, o secretário respondeu: “Nós consideramos que o Festival de Inverno de Campos de Jordão integra a política cultural do estado de São Paulo. Se os recursos são privados, ou são orçamentários, ou são recursos de leis de incentivo, isso no fundo não é o que é importante, não é o que é fundamental. Importante é que possamos realizar um festival cada vez maior, cada vez melhor, e com isso fortalecer e impulsionar a música. [...] No caso específico do Festival de Campos nós recorremos aos patrocínios privados, por que não havia no orçamento da secretaria recursos para a realização do festival. Mas é importante dizer que o Festival não teria acontecido se não fosse o investimento contínuo e permanente que o Estado faz na Osesp, na Sala São Paulo, no Auditório Cláudio Santoro, na Jazz Sinfônica [...], no Conservatório de Tatuí e no Projeto Guri. Não temos nenhuma dúvida em relação à importância da política cultural, do investimento público e do papel do poder público como articulador e estimulador das atividades culturais e criativas. Mas é importante valorizar, também, a participação das empresas privadas estatais, com e sem leis de incentivo, porque precisamos fazer com que o investimento privado na Cultura aumente cada vez mais”.
O investimento no Festival foi feito, por meio de leis de incentivo e marketing direto, pelas empresas Sabesp, Pirelli, Grupo 3 Corações, Stella Artois, Rede, Cacau Show, Localiza e Fritz Dobbert.
Veja abaixo os números da 50ª edição do Festival de Invernos de Campos do Jordão, segundo os dados do governo, da Fundação Osesp e da pesquisa da FGV:
* Público total: 151 mil espectadores (recorde)
* Apresentações: 133 (recorde)
* 9.180 minutos de música (recorde)
* 71 orquestras, corais, grupos de câmara e bandas sinfônicas (recorde)
* 201 alunos bolsistas tiveram 4110 horas de aulas com 69 professores (recorde)
* Impacto econômico: R$ 131 milhões
* Investimento na realização do evento: R$ 7,84 milhões (patrocínios e apoios, com e sem leis de incentivo)
* Cada R$ 1 investido na realização do evento gerou R$ 16,7 em PIB
* Postos de trabalho gerados: 1844 (15% do total da cidade)
* Impostos arrecadados: R$ 17,4 milhões
Número de visitantes
2019: 674.932 visitantes – aumento de 6,7% em relação ao ano anterior
2018: 632.131 visitantes
2017: 636.992 visitantes
2016: 583.338 visitantes
* Aumento na taxa de ocupação da rede hoteleira (em relação a 2018): 10%
* Retorno do Governo Federal: R$ 1 de renúncia via Lei Rouanet gerou R$ 3,16 em impostos federais
* 34,6% dos 675 mil turistas que foram a Campos no período tiveram como motivação principal o evento
* Valoração total do retorno de mídia: R$ 82 milhões
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