Filarmônica fica de fora em novo acordo para gestão da Sala Minas Gerais

por Redação CONCERTO 06/04/2024

A Codemig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais) assinou na manhã de ontem, dia 5, com a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) um acordo de cooperação para gestão compartilhada da Sala Minas Gerais. O acordo foi firmado sem a participação da Filarmônica de Minas Gerais, que ficou sabendo da notícia pela imprensa. A decisão deve ter impacto direto nas atividades da orquestra, que desde a inauguração da sala, em 2015, a utiliza como sede.

O Instituto Cultural Filarmônica, que gere a orquestra, tem um contrato de gestão com a Secretaria de Estado de Cultura no qual está prevista a utilização do espaço, com a anuência da Codemig, que é proprietária da sala. O contrato prevê que o instituto se responsabiliza pela manutenção das instalações, que custa R$ 4,5 milhões ao ano.

Durante o anúncio do acordo, o presidente da Fiemg afirmou que a Sala Minas Gerais só recebe apresentações de quinta a domingo e que a temporada de concertos só começa em março, o que, em suas palavras, leva a um “período ocioso”. “O que é ocioso não consegue se manter. Quem vai montar uma estrutura aqui para ter apenas três horas de espetáculo por semana? Este prédio tem que estar vivo, ocupado, borbulhando o dia inteiro. O prédio é maravilhoso, mas infelizmente está subutilizado. Vamos manter a potencialidade da orquestra e manter o espaço vivo da cultura de Minas Gerais.”

O objetivo é que a sala receba atividades de diferentes naturezas, como musicais, peças de teatros e eventos corporativos. Há também o objetivo de realizar, na área externa, festivais de música, gastronomia, literatura, teatro e empreendedorismo, segundo palavras do secretário de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira. 

Ao jornal Estado de Minas, Oliveira afirmou que o novo acordo “vai dar para a sala e para a filarmônica maior tranquilidade para a gestão desse espaço” e que a gestão compartilhada, que terá início em julho, não vai afetar a temporada 2024 do grupo.

Ainda assim, há sinais de alerta. O primeiro é o fato de que o novo acordo foi desenvolvido e anunciado sem a participação do Instituto Cultural Filarmônica, que não foi convidado nem mesmo para o anúncio oficial da parceria, realizado na própria Sala Minas Gerais. Além disso, a realização de outros eventos culturais e empresariais na sala deve criar questões de agenda – a filarmônica, hoje, ocupa a sala 270 dias por ano, com ensaios, concertos sinfônicos, de câmara, didáticos, para a juventude e gravações, além das atividades da Academia Filarmônica.

“Tivemos acesso ao documento do acordo apenas ontem à noite, após um pedido oficial que fizemos. O documento faz uma grande confusão no uso do equipamento, que passa a ser pensado como uma sala de eventos do Sesi e não mais como uma sala de concertos. Isso é uma inversão de prioridade no uso, temos agora duas interpretações diferentes do que é o espaço”, disse ao Site CONCERTO, na manhã de hoje, Diomar Silveira, presidente do Instituto Cultural Filarmônica.

Ele lembrou ainda que a sala já recebe outros eventos ao longo do ano, e que o aluguel do espaço é uma fonte de renda importante para a filarmônica. Mas que isso é feito com atenção à agenda e as necessidades de tempo e espaço da orquestra. A declaração ecoa comentário feito por Silveira ontem ao Estado de Minas. “A orquestra precisa do espaço para seu próprio desenvolvimento. Não é só concerto, mas também ensaios. Se ficarmos competindo pelo uso, fica difícil fazer uma programação. Tem que haver muito cuidado para que não se comprometa a qualidade artística.

O acordo técnico firmado ontem, ao qual o Site CONCERTO teve acesso, prevê que, a partir de julho deste ano, quando o contrato específico de seção do espaço pela Codemig para a filarmônica se encerra, a orquestra terá que negociar os termos de utilização do espaço diretamente com o Sesi. Serão então que as duas visões de utilização do espaço serão confrontadas, com o Sesi com a autoridade para definir os termos do acordo. Segundo Silveira, “estamos nos mobilizando para buscar todos esses atores e discutirmos essa questão, para falar desse modus operandi”.

Em nota oficial divulgada na manhã deste sábado a orquestra afirmou que “uma gestão compartilhada com outra instituição, como a FIEMG/Sesi Minas, poderia ser oportuna desde que seja para contribuir, como fazem as grandes empresas de São Paulo parceiras das orquestras, nos esforços que o ICF vem empreendendo em favor da sustentabilidade da Filarmônica, de sua programação artística e da utilização da Sala Minas Gerais para os objetivos que motivaram a sua construção, concebida para ser a sede da Filarmônica e realização de suas atividades, cumprindo, assim, seu papel como importante agente da política cultural do Estado”.

Leia abaixo a íntegra da nota do Instituto Cultura Filarmônica:

"O Instituto Cultural Filarmônica, responsável pela gestão da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e de sua sede, a Sala Minas Gerais, informa não ter participado de qualquer fase das negociações e que só tomou conhecimento pela imprensa do Acordo de Cooperação Técnica para Gestão Compartilhada da Sala Minas Gerais e Mineiraria entre a CODEMIG e a FIEMG/Sesi Minas, tendo tido acesso ao documento somente após a sua assinatura em evento promovido pela Codemig e Fiemg.

O ICF esclarece que participou de edital, lançado pelo Governo de Minas Gerais em 2020, para a seleção pública de entidade para operação e manutenção da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, juntamente com a gestão, operação e manutenção da Sala Minas Gerais, tendo sido a instituição vencedora deste chamamento público.

A Sala Minas Gerais já possui uma ocupação por parte da Filarmônica de 270 dias por ano, sendo mais de 80 apresentações nas tradicionais séries de concertos com a presença de convidados de renome internacional e um público anual de cerca de 100.000 pessoas, além de ensaios e ações educacionais gratuitas, como os Concertos para a Juventude e os Concertos Didáticos. A sala de concertos é também o local para a gravação de todos os álbuns da Filarmônica, totalizando 12 lançamentos internacionais, com uma indicação ao Grammy Latino em 2020.

Em meio à pandemia, recursos captados pelo ICF permitiram a instalação na Sala Minas Gerais de seu próprio estúdio de TV para a realização de transmissões ao vivo de seus concertos - até o momento foram realizadas quase 100 transmissões e gravações, promovendo um alcance nacional e internacional da Orquestra para milhares de pessoas, tendo obtido dois reconhecidos prêmios por essa ação. Implementada em 2021, a Academia Filarmônica também tem como sede a Sala Minas Gerais para a realização das suas atividades educacionais e apresentações, com o uso diário de diferentes espaços pelos alunos. Além destas atividades promovidas pelo Instituto Cultural Filarmônica e pela Orquestra, a Sala Minas Gerais é também palco para diferentes eventos corporativos e culturais, sendo uma importante fonte de receita para a sustentabilidade do espaço e da própria Orquestra.

Uma gestão compartilhada com outra instituição, como a FIEMG/Sesi Minas poderia ser oportuna desde que seja para contribuir, como fazem as grandes empresas de São Paulo parceiras das orquestras, nos esforços que o ICF vem empreendendo em favor da sustentabilidade da Filarmônica, de sua programação artística e da utilização da Sala Minas Gerais para os objetivos que motivaram a sua construção, concebida para ser a sede da Filarmônica e realização de suas atividades, cumprindo, assim, seu papel como importante agente da política cultural do Estado.

A Filarmônica de Minas Gerais é uma das iniciativas culturais mais bem-sucedidas do país. Juntas, Sala e Orquestra vêm transformando a capital mineira e o Estado de Minas Gerais em polo da música sinfônica, com reflexos positivos no turismo, no comércio, nos serviços e na geração de empregos, criando riqueza e promovendo o nome do Estado no cenário internacional."
 

Concerto da Filarmônica de Minas Gerais [Divulgação/Rafael Motta]
Concerto da Filarmônica de Minas Gerais [Divulgação/Rafael Motta]

 

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É absolutamente inacreditável o que está acontecendo com a ingerência da sala Minas Gerais. Como acompanhado assíduo da sala desde que fui a ela apresentada, eu apenas tenho uma incrível admiração pelos membros e pela associação que cuidam da orquestra. A filarmônica de Minas Gerais é, hoje, uma das melhores e mais incríveis orquestras da América Latina, e os concertos por ela promovidos, sejam eles da série Presto, Allegro ou Vivace, fora de Série ou até mesmo os Concertos para a Juventude são inacreditáveis. Os álbuns, alguns pioneiros em sua exploração de repertório, são todos incríveis. E tenho muito prazer de saber reconhecer quem são os membros da academia filarmônica que hoje são parte integral da orquestra nos concertos. O que está sendo feito, tratar uma obra prima da acústica e arquitetura como um salão de eventos de um grupo de gestores de empresa é um absurdo indizível, e claramente com motivações político-partidárias de membros de outras orquestras de menor qualidade de Minas Gerais. Deixem a maravilhosa instituição da Filarmônica em paz, pois em time que está ganhando o coração dos mineiros, não se mexe!

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Amo a Filarmônica e não queria vê-la sendo prejudicada por essa nova parceria. Também tenho receio quanto a utilização do espaço para outros tipos de apresentações. É um lugar lindo e super bem mantido. Tudo que eu espero é que a Filarmônica continue sendo espetacular como sempre foi???

Na pandemia, a Cultura salvou nossa saúde mental. Apenas os imbecis não a valorizam. Impressionante como governantes da extrema direita odeiam a cultura. Zema é o pior governador que Minas Gerais já teve. O que ele não está destruindo ele está doando para a iniciativa privada.

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