A entrevista coletiva convocada pelo presidente da Funarte, Dante Mantovani, para divulgar os projetos da fundação para 2020, na tarde da última quinta-feira, começou com um rápido fundo musical: um trecho do Hino Nacional. Na mesa, o diretor executivo Leônidas de Oliveira, representantes da UFRJ (Marcelo Jardim), da UFMG (Leonardo Castriota) e da UFF (Natalia Bolfarini).
Por cerca de uma hora e meia, Mantovani descreveu os principais projetos para 2020 acompanhando uma apresentação de powerpoint, depois de anunciar um orçamento de R$ 38 milhões destinado apenas à atividade-fim (sem o custeio, portanto, que fica à parte). Desses, cerca de R$ 30 milhões vêm de convênios com as universidades federais para direcionar verba do Fundo Nacional de Cultura e R$ 8 milhões são dotação direta da Secretaria Especial de Cultura.
Depois de lembrar que a Funarte faz 45 anos em 2020, Mantovani descreveu as metas do ano – a maioria delas voltada para a música de concerto e bandas. Foi feita pouquíssima menção a outros gêneros artísticos sob o guarda-chuva da Funarte – artes visuais, teatro, dança e circo. A parte de memória foi citada no âmbito da digitalização dos acervos e da reforma de espaços (“O espaço no Rio fica em cima de um restaurante, com bujões de gás”, disse Mantovani, apontando a existência ameaçada de documentos históricos como “cartas manuscritas de Carlos Gomes”). São 17 os espaços da Funarte, incluindo teatros e sedes. Também foi mencionada a intenção de criar um mestrado em artes a partir da instituição.
Mantovani se concentrou nos projetos de música, com destaque para a criação de um “Sistema Nacional de orquestras sociais, que pode atingir 5 mil cidades, voltado para comunidades em vulnerabilidade social”, disse. Esse é o projeto com maior orçamento até agora, envolvendo R$ 6,9 milhões. “Afinal, orquestras são polos educacionais há mais de 500 anos, uma cultura que se espalhou pelo mundo inteiro”, afirmou. Outro projeto já financiado é o envio de instrumentos de sopros para bandas, que consumirá R$ 5,5 milhões. O edital foi oficializado naquele momento e estará aberto por 45 dias.
Projetos que já têm destinação orçamentária envolvem ainda a abertura de um edital para o fornecimento de instrumentos para orquestra profissionais (R$ 3 milhões), a programação dos espaços próprios na Rede Nacional de Música (R$ 1 milhão) e mais R$ 3 milhões para um projeto ligado à ópera, que não foi detalhado. Somam, portanto, R$ 19,4 milhões, o que soma 51% da verba anunciada. “Vamos ter parcerias, que ainda não posso anunciar”, garantiu o presidente.
Mantovani citou ainda projetos sem financiamento detalhado, como a volta do ensino de Canto Orfeônico nas escolas: “Funcionou até 1970, com corais e entoação de hinos patrióticos”, descreveu, acrescentando: “Villa-Lobos é vítima de preconceito hoje em dia, só no Brasil não se valorizam os grandes artistas”.
Foram apresentados ainda o Bossa Criativa (que integraria música, patrimônio e artes visuais), uma Rede Nacional de Conservatórios de Artes, atenção a práticas inclusivas nas artes, a criação de Rádio e TV Web, um sistema de indicadores da arte e da economia criativa e um fórum de mecenato.
“Temos que tirar esse preconceito da Lei Rouanet”, afirmou. “A empresa que apoia as artes não vai sofrer auditorias como muitos pensam, o governo tem até um olhar benigno para quem faz isso”. Mantovani também enfatizou mais uma vez a intenção de “ajudar o iniciante, medalhões já foram muito ajudados”, disse.
Aproveitou para anunciar a nomeação da cantora Kay Lyra (filha do compositor Carlos Lyra e forte apoiadora do governo Bolsonaro) para ficar à frente da Música Popular na Funarte. Mantovani ressaltou ainda a intenção de “criar um mercado para a música” (sic). “As pessoas na Áustria ganham dinheiro com arte”, exemplificou.
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