Sala Cecília Meireles vai formar gestores para a música clássica

por Luciana Medeiros 26/04/2021

Para o público leigo que frequenta as salas de concertos, há apenas dois tipos de profissionais à vista: os artistas no palco e os funcionários de atendimento, como os da bilheteria. Quem conhece um pouco mais do ramo sabe que há gente de apoio nos bastidores, na técnica e na administração: contrarregras, camareiras, iluminadores, produtores. Mas poucos têm noção da importância de uma função essencial – o gestor cultural com conhecimentos da área de música clássica. 

Essa formação profissional, que no Brasil sempre se deu na prática, no campo empírico, ganhou a possibilidade de acontecer de maneira sistematizada. O diretor da Cecília Meireles, o compositor João Guilherme Ripper, montou um programa de formação de gestores para salas de concerto. É o Programa Gestores 2021 da Sala, um dos equipamentos do Estado do Rio de Janeiro sob a gestão da Funarj.

A primeira edição deveria ter acontecido na íntegra em 2020, mas foi prejudicada pela pandemia e não teve o terceiro módulo, que é a realização de concertos criados pelos alunos. A segunda edição, que começa no dia 5 de julho, abre inscrições, gratuitas, no dia 3 de maio. Mais informações aqui

Nos três módulos, os 35 alunos – 15 do Rio de Janeiro e 20 que acompanharão on-line, como ouvintes – assistirão a apresentações e palestras de profissionais das diversas áreas de atuação, farão debates e, por fim, montarão suas programações. As condições práticas de montagem – inclusive orçamento – serão oferecidas aos alunos. Detalhe: o palco existe. É o do pequeno Espaço Guiomar Novaes, anexo ao palco principal. 

“Minha formação aconteceu na prática”, conta Ripper. “Ronaldo Miranda, que era meu professor na Escola de Música na UFRJ, coordenava o Panorama de Música Brasileira Atual e me convidou para ajudá-lo. Dali fomos para a Funarte, onde Edino Krieger trabalhava lindamente pela realização de eventos. Em 1988 eu já coordenava eventos como o Concurso de Corais do Jornal do Brasil.”

Ripper, que desenvolveu em paralelo as carreiras de músico e gestor, assumiu a Sala Cecília Meireles em 2004. Em 2008, decidiu mergulhar numa experiência de aprendizado formal na gestão cultural. “Fiz um curso intensivo, Économie et Financement de la Culture, na Université Paris-Dauphine”, continua ele, “e esse modelo é o que estou adaptando para nossa realidade”.

A realidade carioca, aliás, vem deixando a desejar – inclusive do ponto de vista das oportunidades práticas. “Na verdade, não estamos formando ninguém”, considera Ripper. “E, apesar da potência de comunicação que todos temos à mão, pela tecnologia, parece que o conhecimento se perde, assim como as soluções encontradas para questões do dia a dia da gestão.” De outro lado, a velocidade e a superficialidade da vida cultural muitas vezes minam o aprofundamento nas questões filosóficas e históricas da arte. Ripper vai além. “O maestro Henrique Morelenbaum, meu orientador no mestrado, dizia em sala de aula: que livros vocês andam lendo? Que exposições, peças de teatro estão vendo’. Para construir um conceito de programação, por exemplo, é preciso cultura humanística e uma formação integral.”

As inscrições para o curso – que se insere no patrocínio global da Petrobras Cultural para a Sala Cecília Meireles – ficarão abertas até o dia 4 de junho e a seleção se dará através de análise de currículo e entrevista com os candidatos.

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Sala Cecília Meireles [Divulgação]
Sala Cecília Meireles [Divulgação]

 

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