Uso inadequado ameaça órgão histórico de Tiradentes

por Redação CONCERTO 11/08/2022

Organista Robson Bessa diz em carta que instrumento está sendo destruído; “situação é gravíssima”, afirma Elisa Freixo, que deixou de trabalhar em Tiradentes em 2019

O organista Robson Bessa, que a convite do Campus Tiradentes da Universidade Federal de Minas Gerais realiza concertos no órgão histórico da Matriz de Santo Antônio em Tiradentes, divulgou carta em que aponta a situação crítica que envolve o uso e preservação do instrumento.

Em sua carta, o organista fala de reiterados aumentos na porcentagem da bilheteria que deve ser repassada à paróquia, dirigida pelo Pe. Álisson André Sacramento: “Não concordamos e por isso passamos a ser perseguidos, e então descobrimos que a democratização do órgão era uma farsa”. Bessa alega que o órgão está sendo destruído: “Com a reabertura para casamentos, inúmeras pessoas tiveram acesso ao coro e começaram a mexer com o fole, que não tem uma proteção adequada. Reiteradas vezes alertei os responsáveis, que nada fizeram. [...] Além disso, o órgão tem sido tocado por pessoas que nunca tiveram uma formação adequada, e por todos esses motivos, uma tecla está com sérios problemas de entoação. A administração atual e o uso caça níqueis do órgão está destruindo rapidamente um instrumento histórico de mais de 240 anos!”.

Em 2019, como noticiado na Revista CONCERTO (clique aqui para ler), a organista Elisa Freixo deixou o trabalho que realizava há dez anos em Tiradentes, em razão de desentendimentos com a direção da paróquia. Na época, o Pe. Álisson André Sacramento afirmou que havia a “necessidade de dar apoio aos músicos da cidade de Tiradentes e da região, que até então não tinham acesso ao órgão”, e que “foram feitas reuniões com as partes interessadas, onde se estabeleceu um critério democrático no uso do órgão”.

O órgão da Matriz de Santo Antônio de Tiradentes é um dos mais importantes instrumentos históricos do país, construído no Porto e inaugurado em 1788. Em 2009, passou por uma ampla restauração supervisionada por Elisa Freixo.

A Revista CONCERTO entrou em contato com Elisa Freixo, que afirmou: “A situação é grave, é gravíssima. Já prevíamos isso quando deixamos o trabalho em 2019. Não é possível que pessoas, que não tenham a menor noção do que é um órgão, se utilizem dele. E é preciso dizer que o restauro do órgão foi feito com dinheiro público e laico, por meio das leis de incentivo. O órgão deve ser bem preservado!”

[Clique aqui para ler a Nota Oficial da Paróquia de Santo Antônio de Tiradentes, contestando a carta do organista e negando mau uso do órgão.]

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Crítica Elisa Freixo e o órgão de Tiradentes, por Camila Fresca

Detalhe do órgão da Matriz de Santo Antônio de Tiradentes [Reprodução]
Detalhe do órgão da Matriz de Santo Antônio de Tiradentes [Reprodução]

 

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Comentários

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Um absurdo mesmo. O pecado da avareza, um dos 7 pecados capitais mora na Matriz de Sto. Antônio em Tiradentes. Para capitalizar, vale tudo, inclusive, detonar o órgão. Como ouvi em um telefonema do assistente do padre, "vcs não podem chegar na igreja, usarem o nosso órgão e não pagarem o que queremos". Erro 1: o órgão é patrimônio público. Erro 2: um concerto sem patrocínio, todo custeado com verbas de ingresso, se passar 70% do valor pro padre avarento, como fazemos pra pagar transporte, hospedagem, alimentação e um cachê simbólico pros artistas? Penso que alguns acreditam que vivemos na Idade Média, onde a Igreja ainda pode fazer o que quiser.

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