Projeto Sinos impulsiona ensino de música por todo o Brasil 

por Publieditorial 05/10/2020

Estruturado em seis linhas de ação, Sinos incentiva, apoia e investe na educação musical através do ensino coletivo de instrumentos orquestrais

Neste momento, o Sistema Nacional de Orquestras Sociais, conhecido como Sinos, estaria percorrendo as cidades brasileiras, levando o ensino musical a capitais e cidades do interior de todo o país. A pandemia, no entanto, não impediu o projeto de atuar em seu principal objetivo, que é apoiar e levar a formação musical para orquestras de projetos sociais de todo o Brasil: apenas apresentou o desafio de fazer tudo isso através do meio virtual. Esse formato amplia significativamente o alcance do Sinos – que, desde julho, tem atuado na capacitação de regentes, instrumentistas, compositores e educadores musicais. O Sistema vem apoiando também os projetos sociais de música e, com isso, contribui para o desenvolvimento e a estruturação dos planos pedagógicos dessas orquestras em todo o país. 

Com proposta desafiadora – tanto no formato quanto na abrangência –, o Sinos é constituído por um conjunto de ações, cada uma conduzida por uma rede de dezenas de profissionais da música que, inicialmente, atuam exclusivamente online, em cursos, oficinas, palestras e lives. Além disso, há a preparação de inúmeras publicações, todas disponibilizadas em uma plataforma gratuita de capacitação musical. O Sinos é fruto de uma parceria entre a Fundação Nacional de Artes – Funarte e a Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, com curadoria de sua Escola de Música. 

As ações presenciais estão na pauta e são muito aguardadas, como um segundo momento das atividades. A previsão é que durante o ano de 2021 – na medida em que as restrições em relação à pandemia o permitirem – as oficinas de música, os concertos, os festivais e outros eventos aconteçam presencialmente, em todas as regiões do país. 

Enquanto isso as atividades permanecem 100% virtuais, distribuídas em seis linhas de ação: o Curso Capacitação Pedagógica para o Ensino de Instrumentos de Cordas (direcionado a professores e monitores de projetos sociais); o Projeto Espiral (direcionado aos alunos de projetos sociais, bandas e orquestras); a Academia Virtual Sinos (com aulas e palestras online, em tempo real, com professores das duas linhas anteriores); a Academia de Regência (direcionada para regentes e estudantes de regência de orquestras e bandas); a Academia de Ópera (direcionada a cantores e à organização de ações para projetos sociais) e as Publicações (direcionadas para encomendas de obras para orquestras e outras publicações de cunho pedagógico). 

Desafio virtual

A limitação ao mundo virtual representou um desafio para os idealizadores, coordenadores e demais profissionais que, em grande parte, fizeram sua estreia como professores no meio digital – e transformaram o momento em oportunidade de aprendizagem. “A pandemia nos pegou no contrapé, mas por outro lado nos trouxe novos horizontes para trabalhar”, ressalta Leandro Soares, professor de trompete que divide com o professor Aloysio Fagerlande (ambos da UFRJ) a coordenação pedagógica do Projeto Espiral. O projeto conta hoje com um time de 32 professores de diversas partes do Brasil. “Muitos colegas nunca haviam gravado uma videoaula e perceberam que esse é um formato muito diferente das aulas presenciais. Organizar todo o conteúdo de uma aula sobre respiração para sopros, por exemplo, em um roteiro para 10 minutos é, ao mesmo tempo, um desafio e uma experiência nova.” 

A pandemia nos pegou no contrapé, mas por outro lado nos trouxe novos horizontes para trabalhar

Leandro assinala que detalhes como iluminação, cenário e postura diante da câmera não costumavam fazer parte da formação dos professores, mas eles passaram a cuidar disso tudo também. “É bem diferente, por exemplo, da gravação de uma performance musical, mas recebemos mensagens de um professor que, depois de terminar seu pacote de videoaulas, passou a sentir falta desse processo de pesquisa e produção, o que é uma ruptura de paradigma.” O coordenador conta que o contato com todos os professores tem sido muito gratificante. “São colegas de várias universidades, de vários estados. E isso dá uma diversidade, não só da linguagem ao elaborar o roteiro de cada videoaula, mas também de visões, dessa vertente macro do ensino de música no Brasil. Acho que este é um dos diferenciais do Projeto Espiral; a gente ter um corpo docente tão rico e variado em termos de perfis de profissionais – uns mais ligados à prática de orquestra, outros à pedagogia, seja em projetos ou na universidade.” 

Academia Virtual Sinos
Segundo encontro da Academia Virtual Sinos [reprodução zoom]

Coordenadora do Curso de Capacitação Pedagógica para o Ensino de Instrumentos de Cordas, a violinista e professora Carla Rincón tem igual percepção: “O Sinos está abraçando o Brasil”, diz. “Graças ao projeto, começamos a conversar e a concretizar essa união de professores brasileiros, todos com o intuito de democratizar, de expor a música para diferentes tipos de cidadãos. Temos recebido ligações de pessoas muito importantes no meio pedagógico, querendo participar, muito motivadas a conversar conosco”, revela. 

Carla conta que o projeto está criando um banco de dados de pedagogos e professores de prestígio, com altíssima qualidade. “Eu e a professora Simone dos Santos, que divide comigo a coordenação pedagógica, ficamos surpresas e empolgadas em ver tanto conhecimento, tanto amor, tanta experiência em relação ao ensino coletivo nos projetos sociais”, afirma. “Vejo que há uma tendência e uma necessidade de ter, dentro dos projetos sociais, professores que foram alunos dos mesmos projetos”, completa Simone. “Esses novos professores foram, eles próprios, alunos de projetos sociais, ingressaram em uma faculdade e podem retornar aos mesmos projetos como professores, o que é excelente, mas falta a eles a experiência pedagógica”, observa.

Simone pontua que são projetos como o Sinos que possibilitam o contínuo desenvolvimento profissional de jovens professores. “Acredito que toda criança é capaz e vejo o educador, o professor, como facilitador, para que essa criança tenha contato com as diversas possibilidades de aprendizado. Auxiliar os professores de cordas para que tenham acesso à informação pedagógica foi o que me motivou no projeto”, revela. 

Já a Academia de Regência é uma ação que atende não só aos regentes, mas também às orquestras dos projetos sociais. “As videoaulas abordam os diferentes aspectos do trabalho de um regente, desde a parte da técnica gestual até o estudo específico do repertório, passando por aspectos históricos, conceituais e mesmo de gestão, que são conteúdos de outras áreas de conhecimento que se relacionam transversalmente com sua atividade profissional”, diz o maestro e professor André Cardoso, coordenador geral do Sinos e também da Academia de Regência, que conta ainda com os maestros professores Roberto Duarte, Ernani Aguiar, Marcelo Jardim, Tobias Volkmann e Thiago Santos. Cardoso explica que a Academia também coordena o trabalho de produção de repertório para as orquestras, seja por meio da elaboração de edições de obras do passado, muitas delas ainda em manuscritos, ou pelas encomendas de novas obras aos compositores brasileiros contemporâneos, tudo isso tendo por base a Tabela de Parâmetros Técnicos, que organiza o repertório por nível de dificuldade.

Nos mesmos moldes da Academia de Regência, a Academia de Ópera tem o intuito de trazer novas informações aos cantores líricos – incluindo videoaulas sobre técnica vocal, repertório, produção operística, papéis referenciais nas óperas mais conhecidas, história da ópera e a ópera no Brasil, entre outros temas. A Academia de Ópera conta também com a coordenação direta de André Cardoso e suporte dos maestros Silvio Viegas e Juliano Dutra e selecionou recentemente uma equipe de monitores, que atuarão em ações relacionadas às questões pedagógicas. O propósito, aqui, num futuro próximo, é também viabilizar pequenas produções, junto aos projetos sociais que possuem suas orquestras.

A ideia é incentivar, apoiar e investir em quem já faz, naqueles que estão na ponta de lança da educação musical através do ensino coletivo de instrumentos orquestrais

Segundo André, o Sistema Nacional das Orquestras Sociais veio para fazer a diferença. “Ou seja, não repetir o que já é feito ou concorrer com quem já faz; ao contrário, a ideia é incentivar, apoiar e investir em quem já faz, naqueles que estão na ponta de lança da educação musical através do ensino coletivo de instrumentos orquestrais”. O coordenador afirma que as ações do Sinos são voltadas para suprir as demandas por formação pedagógica específica. Isso vale para os professores e regentes que atuam nos projetos sociais e suas orquestras, além de atender aos alunos, oferecendo aulas com alguns dos melhores professores do Brasil. E há ainda a faceta de publicar material pedagógico com diversos conteúdos, sem falar na criação de repertório adequado para as orquestras em diferentes fases de desenvolvimento. “O Sinos também promove a articulação com as orquestras profissionais, com o mundo acadêmico e com os demais agentes da vida musical brasileira”, informa.

É por meio dessa articulação que o projeto faz a principal junção organizacional, ao colocar o ensino, a pesquisa e as ações de extensão a serviço da edificação de uma política pública sólida, para atendimento ao setor das orquestras sociais e orquestras jovens. “É importante congregarmos as forças de trabalho e as experiências pedagógicas e artísticas acumuladas pelas principais escolas de música das universidades brasileiras, para que possamos estruturar um programa consistente. Hoje temos as condições para iniciar esse processo e não devemos dispersá-las ou tratá-las como ações isoladas”, reforça Marcelo Jardim, coordenador geral dos Projetos UFRJ-Funarte, no qual o Sinos se insere. 

“Temos hoje alguns dos mais brilhantes professores de música da América Latina envolvidos no programa. E podemos criar uma rede excepcional para dar suporte aos projetos sociais, nos quesitos pedagógicos e educacionais E também abrir caminho para que outras ações complementares e necessárias possam suprir outras demandas desses projetos”, explica. “Tudo se torna mais forte e objetivo por meio da educação e do acesso à informação de maneira ampla e democrática”, afirma Marcelo Jardim, e revela: “Em breve a Caravana Sinos estará circulando por todo o Brasil, sempre respeitando todas as regras locais e os protocolos de segurança sanitária”.  

[Este texto é um publieditorial produzido pela Funarte/UFRJ.]

 

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