Realizações da Orquestra Sinfônica de Santo André se destacam no ano da pandemia; cidade restaura Cine Theatro de Variedades Carlos Gomes
A Orquestra Sinfônica de Santo André preparava-se para abrir sua temporada em março de 2020 quando a pandemia do coronavírus Covid-19 levou ao fechamento dos teatros e espaços públicos e à necessidade de isolamento social.
De uma hora para outra, a rotina das pessoas mudou completamente. E também a atividade artística. Como manter-se atuante, fora do palco e com os músicos e o público em casa? Foi essa a pergunta que a orquestra se fez. E as respostas encontradas fizeram do grupo protagonista na cena musical brasileira.
A reação da orquestra e de seus músicos foi rápida. Ainda em março, o grupo iniciou uma série de projetos remotos. Na série #OSSAnoSofá, o maestro Abel Rocha, diretor artístico da sinfônica, falava de obras, compositores e outros temas ligados ao universo da música orquestral. A #DicadaOSSA trazia sugestões dos músicos sobre repertório, além de curiosidades e informações sobre os instrumentos musicais. Na série #CineOSSA, convidados muito especiais sugeriam e comentavam filmes de temática ligada à música. Finalmente, o #OssaAosDomingos trouxe um conjunto diversificado de produções musicais gravadas pelos próprios músicos da orquestra e convidados diretamente de suas casas.
Em meio ao que a sociedade passava, tínhamos a convicção de que a música precisava seguir existindo e ajudando as pessoas
“Nós nos perguntamos sobre como manter a atividade musical viva de alguma maneira. Em meio ao que a sociedade passava, tínhamos a convicção de que a música precisava seguir existindo e ajudando as pessoas”, explica Abel Rocha.
E foi a partir dessa ideia que, em maio, surgiu o novo projeto da sinfônica, as Microestreias da Quarentena, com a encomenda de novas obras a oito compositores brasileiros: Alexandre Guerra, Alexandre Lunsqui, Chico Mello, João Cristal, Leonardo Martinelli, Mauricio De Bonis, Neymar Dias e João Guilherme Ripper.
O projeto mobilizou uma equipe formada por quarenta músicos da orquestra, que gravaram suas partes em casa, além de toda a equipe técnica, a quem coube o cuidadoso trabalho na edição e sincronização dos vídeos, publicados gratuitamente em redes sociais. E transformou-se em um marco, pelo formato inovador, pela atenção à música contemporânea e pelo resultado artístico atingido na interpretação.
“É um trabalho ao mesmo tempo minucioso e monumental. Não exagero em dizer que é um divisor de águas, uma lição de como a música nova deve – e pode – ser dignamente produzida e interpretada. Bingo. Acesso universal, gratuito, a qualquer tempo”, escreveu o crítico João Marcos Coelho no jornal O Estado de S. Paulo [leia a matéria na integra aqui]. “As peças inovam pelo formato e dão ao projeto uma identidade artística que aceita e ultrapassa as limitações impostas pela pandemia”, afirmou Sidney Molina na Folha de S. Paulo.
No final de agosto, a sinfônica, corpo artístico da Prefeitura Municipal de Santo André, com mais de três décadas de atuação, inovou mais uma vez com a criação da Trilogia Trancafiada, uma série de três curtas-metragens assinados por Luísa Almeida e realizados com a participação dos músicos da orquestra. O conceito era fascinante: expressar os sentimentos vividos pelos artistas desde o início do isolamento, estabelecendo entre eles e o público uma relação viva e humana.
Teaser de divulgação. Assista a Trologia Trancafiada na íntegra clicando aqui.
O primeiro capítulo foi batizado de Ansiedade e retratava o choque inicial perante à pandemia; o segundo, Adaptação, mostrava a resiliência dos músicos perante às novas condições de vida impostas pelo isolamento social; e Acolhimento, que fechava a trilogia, falava da transformação da incerteza em esperança.
Em outras palavras, a orquestra mostrava às pessoas a mensagem importante de que acolher a dor podia também gerar uma abertura para enxergar o mundo com novas cores. E, na imprensa e no público, a reação foi marcante: o jornal O Estado de S. Paulo, por exemplo, referiu-se à Trilogia Trancafiada como “revolucionária”.
Em 2020, completaram-se 150 anos da estreia da ópera O Guarani, de Carlos Gomes. E a Sinfônica de Santo André celebrou a data com a criação de uma micro-ópera inspirada na obra [clique aqui para assistir]. O vídeo, de pouco mais de sete minutos, apresentava a história baseada no romance de José de Alencar, com trechos de árias e duetos famosos, interpretados pela soprano Rosana Lamosa, o tenor Paulo Mandarino, o barítono Leonardo Neiva e o baixo Saulo Javan. Para quem já conhecia O Guarani, o vídeo de Luísa Almeida revelava-se uma leitura original para a peça, da mesma forma atiçava a imaginação e despertava a curiosidade daqueles que tinham com a obra o primeiro contato.
Com a micro-ópera O Guarani, Abel Rocha e a Sinfônica de Santo André talvez tenham feito mais pelo gênero operístico do que a soma dos teatros líricos das grandes cidades brasileiras em 2020
“Com a micro-ópera O Guarani, Abel Rocha e a Sinfônica de Santo André talvez tenham feito, com poucos recursos e em menos de oito minutos, mais pelo gênero operístico do que a soma dos teatros líricos das grandes cidades brasileiras em 2020”, escreveu Sidney Molina em seu balanço do ano para o jornal Folha de S. Paulo [confira a matéria na integra aqui].
A reunião das atividades da Orquestra Sinfônica de Santo André mostrou o valor de um trabalho conjunto, que envolve direção, gestão e músicos na busca pela inovação em tempos difíceis – quando ela é ainda mais necessária. E acabou por ser reconhecida com o Grande Prêmio CONCERTO Reinvenção na Pandemia, oferecido pela Revista CONCERTO, principal publicação latino-americana dedicada ao universo da música clássica e da ópera [confira aqui].
“Todos os projetos mostraram a capacidade da orquestra de Santo André reagir ao momento atual, abordando artisticamente o período de pandemia e seus desafios e reforçando a arte como ferramenta para pensar o presente e apontar caminhos para o futuro”, afirmou o júri, formado pelos principais críticos em atividade no Brasil.
Para 2021, à espera da possibilidade de reencontro com seu público, o grupo reafirma seu compromisso com a criação, já tendo encomendado novas obras a doze compositores brasileiros
E é com esse mesmo espírito que a orquestra se prepara para a temporada de 2021. À espera da possibilidade de reencontro com seu público, o grupo reafirma seu compromisso com a criação, já tendo encomendado novas obras a doze compositores brasileiros: André Abujamra, Beetholven Cunha, Cibele Donza, Dino Barioni, Élodie Bouny, Felipe Senna, João Cristal, João Guilherme Ripper, Léa Freire, Leonardo Martinelli, Michelle Agnes e Alexandre Daloia.
Em março, haverá o lançamento do documentário “Concerto Sensorial”, que registrou a realização de um espetáculo especialmente para surdos, na cidade. Como apresentar a experiência da música ao vivo para quem não pode ouvir?
Após o sucesso de O Guarani - Micro Ópera, a sinfônica de Santo André planeja para o ano de 2021 a realização de mais duas óperas de Carlos Gomes nesse mesmo formato – Fosca e Lo Schiavo – para as festividades de reinauguração do Cine Theatro de Variedades Carlos Gomes.
São ações que relembram a importância da arte como fundamental para a vida em sociedade. Ela nos ajuda a compreender os desafios que se colocam à nossa frente e nos dão força para superá-los.
Restauro do Cine Theatro de Variedades Carlos Gomes, em Santo André
Para o ano de 2020, Santo André também planejava a reinauguração do Cine Theatro de Variedades Carlos Gomes, localizado na região central da cidade. No entanto, com a chegada da pandemia, o cronograma de reforma e restauro foi afetado, mas as obras prosseguem em ritmo acelerado.
O local está fechado desde 2008. É tombado como patrimônio cultural andreense e será um espaço multiuso, podendo receber diversos tipos e formatos de eventos, como concertos, exibição de filmes, exposições e espetáculos, visando à circulação de público.
Nesta fase do restauro está sendo realizado um minucioso trabalho de recuperação das paredes internas do espaço, que possuem pinturas decorativas históricas, além de portas e projetores originais.
Após a finalização das intervenções, fará parte um importante eixo cultural integrado ao novo calçadão que está em construção na rua Senador Flaquer e que se juntará ao tradicional calçadão da rua Coronel Oliveira Lima e a equipamentos culturais históricos, como a Casa do Olhar e a Casa da Palavra.
História – O Cine Theatro de Variedades Carlos Gomes, considerado o primeiro espaço cultural da região, foi inaugurado em 1912 pelo italiano Vicenzo Arnaldi na rua Coronel Oliveira Lima, esquina com a atual Salvador Degni. Em 1925, foi reinaugurado pela empresa Arnaldi, Masini & Gianotti na localização atual, onde foi construído um novo edifício com detalhes arquitetônicos neoclassicistas e instalado um medalhão retratando o perfil do músico Carlos Gomes.
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[Este texto é um publieditorial produzido pela Orquestra Sinfônica de Santo André.]
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